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SAFIRAS, Uma Pedra Preciosa

A safira é uma variedade preciosa do Corindon, pedra que se apresenta na natureza em todas as tonalidades com especial relevo para os tons de azul (desde o mais ténue ao mais aveludado ou quase escuro). Nas gemas absolutamente transparentes, sem qualquer impureza, a cor mais apreciada é o azul veludo gelado. O seu nome vem do grego “Sappheiros” pedra azul ou do hebreu “Sappir” – a coisa mais bela. Os romanos apelidavam-na de “Hyacinthus”, graças ao facto da sua cor se parecer com a do jacinto azul, tal como Plínio explica na sua “História Natural”.

 

Como todas as gemas azuis ou incolores, a safira está incluída nas pedras de Ar, que os antigos consideravam directamente ligadas ao céu. Simbolizavam a justiça divina, a coragem, a confiança e a alegria.

 

Safiras na História

A Alexandria, faustosa da capital da dinastia grega dos Ptolomeus, foi a grande fornecedora de muitas obras-primas em safiras.

 

No decurso de séc. VII a.C. os gregos conheceram as pedras preciosas e as jóias, graças ao contacto com o longínquo Oriente do qual também receberam a fé nas suas forças misteriosas. O povo viu, então certa relação, entre estas estações do Ano. Por exemplo, os doze meses correspondiam a doze pedras zodiacais, sendo que Abril recebia a carga benéfica das safiras. (Na época cristã, os símbolos mudaram para as doze figuras dos apóstolos, sendo que a safira simboliza André).

 

É evidente, que os romanos enriqueceram durante dez séculos.

 

A aristocracia tinha, então, especial apreço pelas pedras gravadas, pelas gemas raras, vindas do Oriente.

 

Todos quantos se interessam pela arte da glíptica sabem que o reinado do Imperador Augusto se celebrizou na área das Artes Decorativas graças à produção de alto nível de camafeus e de outras pedras gravadas pelos melhores artistas gregos, numa Roma de opulência indescritível. Roma possuía uma fabulosa reserva de gemas e objectos de arte.

 

Aliás, os romanos, herdeiros directos do gosto grego, elevaram a arte da glíptica ao seu verdadeiro apogeu.

 

No ano 330, Constantino muda a sede do Império para Bizâncio, que passa a chamar-se Constantinopla.

 

Mais tarde, segundo os cronistas da Idade Média, foram as grandes pilhagens de 1203 a 1204, que dispersaram a maior parte do tesouro bizantino.

 

Após as divisões e de muitas peças terem ido para a abadia de S. Mauricio e S. Marcos de Veneza (pois, muito naturalmente, outras terão ficado nas mãos dos Chefes das Cruzadas).

 

Quando alcançámos o Renascimento quer os reis e os príncipes dessa época, quer a família Medicis, por exemplo, recebiam grandes riquezas constituídas por gemas gravadas, taças em pedras semi-preciosas com esmalte, rubis, esmeraldas, safiras, espinelas e pérolas.

 

Por tudo quanto fica escrito se deduz como as safiras já participavam dos tesouros dos grandes senhores deste mundo.

Até finais da Idade Média era rara a pessoa que não acreditava nas virtudes curativas e preventivas das pedras preciosas cuja eficácia aumentava se usadas nos dedos.

 

A safira era garantia de felicidade quase divina.

 

Origens e Jazidas

As safiras têm, geralmente, origem em rochas metamórficas sendo que o tipo de jazida mais comum é a sedimentar formada por cascalhos e areias de aluvião. No seu estado bruto tem um aspecto de um seixo opaco e em forma de barril.

Usada pelos egípcios e pelos romanos nos trabalhos da glíptica (arte de gravar pedras finas), a safira, tal como o rubi, é o mineral mais duro depois do diamante. Também conhecida dos gregos e dos etruscos, a safira era mais rara do que a esmeralda e, portanto, foi superiormente apreciada na época do Império Romano. Era originária do Ceilão (Sri-Lanka) onde tal, como os rubis, já se exploravam desde o 1º. Milénio a.C.

 

Durante a Idade Média, a safira foi a pedra que maior expansão conheceu na Europa, ornamentando, então, juntamente com as espinelas rosa avermelhado, grande número de jóias, objecto de igreja, tais como coroas de santos, relicários e custódias. Como já se disse, as pedras de maior dimensão e mais bonitas vieram em quantidade do próximo Oriente e de Bizâncio durante as Cruzadas e a consequente pilhagem que os cavaleiros foram realizando.

 

Em França, existiu uma pequena produção de safiras proveniente do Alto Loire, assinaladas desde o séc. XIII, por Alberto, o Grande.

 

No Oriente, as safiras tinham o mesmo interesse que os rubis e as esmeraldas. Os seus habitantes preferiam o vermelho vivo do rubi misturado com o azul esverdeado da turquesa ou o verde vivo da esmeralda. As peças de joalharia que se podem ver nos Museus sobretudo da joalharia Mogol, confirmam as preferências. Por outra parte, as jazidas de safiras são mais numerosas do que as dos rubis e as safiras amarelas (mauves), rosas ou verdes que acompanham a safira azul (Ceilão, Tailândia e Tanzânia), entre outras têm um valor menor que esta última.

 

Num estudo de Henri-Jean Schubnel, 1987, o peso de safiras extraídas no mundo era quinze vezes superior ao dos rubis, além de que o rubi é muitas vezes mais caro do que a safira ao sair das minas. Mas, como adiante veremos, em tudo há sempre as grandes excepções e, efectivamente, existem safiras com um valor extraordinário. Em termos geográficos pode dizer-se que os primeiros valores na globalidade das vendas pertencem ao Ceilão, hoje Sri-Lanka, seguido da Tailândia, (zona de Chantaburi) e do Cambodja (Pailin). Depois, com a diferença de 1/5 a Caxemira e a Birmânia (Myammar na região gemífera de Mogok, muito apreciadas comercialmente, e nos últimos lugares a Austrália, (apesar da sua quantidade de safiras atingir valores relativamente baixos, assim como os Estados Unidos (Montana) e a Ilha de Madagáscar.

 

Nas minas da Austrália encontram-se safiras negras de grande tamanho. Uma delas, a Estrela Negra de Queensland, foi encontrada em 1948 no leito de um rio. Tinha 1165 quilates em bruto e 733 depois de talhada.

 

Quanto às safiras de cor azul intenso é mais fácil ouvir falar delas do que vê-las, já que se encontram raramente e, por isso, atingem preços consideravelmente elevados acabando por permanecerem, ao escuro, nos cofres dos milionários.

 

Ao comprar-se uma safira estrelada deve ter-se em conta acima de tudo o tamanho. A seguir à uniformidade da estrela, a intensidade da cor e da forma. O reverso deixa-se de propósito sem polir para não penetrar a luz.

 

De salientar que as jazidas da Tanzânia vêm sendo exploradas há uns anos, fornecendo uma produção relevante.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Características técnicas das safiras

A safira, tal como o rubi, é constituída por óxido de alumínio misturado com pequenas impurezas que originam a sua cor azul.

 

Tem a dureza 9 na escala de Mohs pois trata-se de um Corindo, substância natural com uma dureza próxima do diamante que alcança o número 10 da mesma escala. O nome de safira aplica-se a todas as gemas de Corindo que não sejam vermelhas.

 

Na ausência destes dois elementos obtêm-se uma pedra incolor impropriamente designada por “leuco safira” que cristaliza no sistema trigonal e que no seu estado bruto apresenta-se na forma de cristais bipiramidais alongados com estrias transversais. É uma bela pedra de Alta Joalharia.

 

No Oriente havia quem defendesse a teoria de que toda a pedra que não fosse vermelha não estava amadurecida e se ficasse soterrada o tempo suficiente se tornaria da cor do sangue.

 

A ciência moderna oferece-nos uma explicação menos fantástica das cores do Corindo. Se em lugar do óxido de Cromo que é o que dá a cor vermelha ao rubi, existir uma pequena quantidade de titânio com óxido de ferro, a pedra é uma safira azul embora possa ter um tom azulado se nela existir e presença de compostos de cobalto.

 

O Corindo que não é vermelho nem azul também se denomina safira de fantasia. As safiras de fantasia podem ser amarelas, rosadas, alaranjadas, verdes, malva, pardas, negras ou brancas.

 

Quase todas as pedras seriam incolores se a matéria que as constitui se encontrasse num estado de pureza. O que origina as muitas cores que encontramos em várias pedras é a presença de impurezas na gema. As safiras rosa devem esta cor a pequenas quantidades de magnésio. As safiras amarelas vivo, têm bastante valor. Cabe aqui salientar que existem colorações artificiais e que uma safira branca tratada com raios-x pode transformar-se em amarela. Neste caso, se existir alguma suspeita, as dúvidas tiram-se expondo a pedra à luz solar durante algumas horas e eventualmente passará ao tom original.

 

Hoje, qualquer gemólogo dispõe de aparelhos especiais para analisar as pedras, sem falhas de erro.

 

As safiras violeta são mais caras do que as amarelas e, muitas raras em tamanhos grandes. Por vezes, uma safira azul transforma-se à luz artificial em tom violeta. Diz-se, então que é do tipo alexandrita, uma gema diferente da safira que também muda de cor com a luz artificial. As safiras alaranjadas, são muito apreciadas nos países orientais onde tomam um nome algo complicado, isto é, “padparadacha”.

 

Nos depósitos argilosos que contêm rubis também se encontram safiras, nem sempre de boa qualidade.

Na Austrália encontram-se safiras muito grandes mas o seu azul, muito escuro, não tem um interesse de maior na Alta Joalharia.

 

Safiras de Caxemira

As safiras mais apreciadas, com mais valor e procura no mercado procedem do formoso vale de Caxemira. Trata-se das gemas da “suave cor azul da flor de Centaura”, sem traços de negro e de cinzento, que se comparam a veludo gelado. São extremamente raras e como a sua produção está quase esgotada, vendem-se safiras como se fossem de Caxemira e na realidade procedem do Ceilão ou da Birmânia.

 

A introdução das safiras, autênticas, de Caxemira, no comércio mundial é uma história interessante. Antes dos habitantes daquela região conhecerem o valor comercial da safira, os nativos que residiam na região das montanhas de Zanzkar de Caxemira utilizavam as safiras em bruto como pederneiras para fazer lume. Certo dia do ano de 1875 houve um desabamento de terras e um monge que vivia perto desse lugar observou uma rica veta azul numa das rochas. Depois retirou alguns fragmentos daquela matéria e teve ocasião de comprovar que era fácil trocá-los por açúcar e tabaco com os mercadores que passavam por aquele caminho. O problema surgiria depois quando os Monges da mesma Ordem se propuseram fazer uma imagem religiosa com aquela pedra dura. Agarraram num bocado bastante grande e levaram-no a Simla para encomendar a estatueta. Nenhuma das ferramentas do lapidador entrava na pedra nem tão pouco a riscava. Importunado com isto, o lapidador mostrou a pedra ao marajá de Caxemira que imediatamente viu que se tratava de uma safira de excepcional qualidade mandando buscar o monge para o informar exactamente do local onde tinha extraído aquela pedra e declarando de seguida que a zona onde estava o filão era de sua propriedade pessoal. Pouco tempo depois, ocorreu outro desabamento de terras na proximidade do anterior, o qual proporcionou várias pedras de um azul aveludado a um grupo de mercadores em trânsito por aquelas paragens. A princípio consideram-nas como simples curiosidade, mas mal um negociante, mais experimentado, as viu apercebeu-se de que estava em presença de safiras de grande valor. E em poucos dias as gemas passaram por várias mãos ou melhor dizendo por vários donos, havendo autores que dizem que foram dez, outros doze e que o seu preço veio quase do nada a quatrocentos mil dólares. Tal ocorrência chegou aos ouvidos do Marajá que as confiscou pois considerou-as bens da sua real propriedade. Estas safiras avaliadas em três milhões de dólares eram ainda propriedade do último Marajá de Caxemira quendo perdeu o trono, em 1947.

 

Qual terá sido o seu destino?

 

O homem e a natureza

A aspiração natural do homem em conhecer a natureza, descobrir os seus segredos e utilizar as suas riquezas para se enfeitar tem sido um dos factores principais do nível de civilização desde os alvores da Humanidade até à época actual. Este conceito leva-nos à relação do homem com o reino mineral passando pela beleza de Vénus até aos mais audaciosos projectos do novo milénio que há cerca de 16 anos encetámos.

 

As possibilidades estéticas das pedras, o seu valor, estabeleceram símbolos de riqueza e poder mas, por insuficiência de espaço não vamos entrar no capítulo do homem da Pré-História até hoje.

 

Porque tratamos da safira, reportamo-nos ao mercador árabe Ahmed ben Youssouf Al Tiefash que escreveu no séc. XIII um tratado muito interessante sobre as pedras preciosas no qual relata os seus preços nos mercados do Próximo e do Médio Oriente. Trata-se, a vários títulos, de uma obra importante já que fornece uma lista completa das pedras que se podiam encontrar nos mercados assim como os seus preços. É uma obra que, datando de 1242, se pode comparar aos actuais catálogos mundiais das mais modernas pedras preciosas.

 

As pedras propostas e classificadas pelo mercador árabe eram: safira azul, rubi, esmeralda, diamante, espinela, olho-de-gato, zircão, safira amarela, berilo, turquesa e granada almadina.

 

O preço dos rubis era o mais elevado estimando-se de 2 a 6 dinares de ouro o “carat”. O cálculo dependia tanto da qualidade como do tamanho da pedra. A safira azul e o zircão custavam quatro vezes menos do que a espinela.

 

Na Idade Média os clientes eram a Igreja, os Soberanos e os grandes senhores. Até que o uso das pedras se vulgarizasse foi preciso correr muito tempo.

 

Hoje, não é qualquer pessoa que tem um anel com uma bela safira. Viu-se no dedo anelar da Princesa Diana e vê-se hoje na mulher do Príncipe Williams – uma princesa a quem falta o nível e a classe da Diana Spencer.

 

Em contrapartida, Carla Bruni uma mulher com história, beleza e muita classe, mostra-nos, muitas vezes, safiras de, um melhores joalheiros da sua Itália. O mundo é cheio de contradições.

 

Alexandra Padrão

Safira Estrelada

 

As inclusões de agulhas de rútilo dão a estas gemas um brilho sedoso, e em maiores quantidades, o efeito do olho-de-gato ou uma estrela de seis pontas: safira estrelada.

 

Segundo alguns gemólogos, o asterismo (ou estrela) não se deve a nenhuma agulha de rútilo mas a canais (poucos) cruzados, seguindo três direcções.

 

Estas safiras não são absolutamente transparentes e parecem ter no seu interior uma substância de tom branco leitoso.

 

Talhadas apropriadamente, mostram uma formação característica consistente numa estrela de seis raios, móvel, que se movimenta misteriosamente na direcção oposta quando, sobre a sua superfície, incide um raio de luz. É este fenómeno que se denomina asterismo.

 

Se o lapidador cortar uma gema deste tipo dividindo-a em pedras mais pequenas, cada uma delas mostra a estrela de seis pontas apesar de em nenhuma existir qualquer estrela. Trata-se de uma ilusão de óptica, resultante dos reflexos que se produzem no interior da pedra.

 

Marcus Baerwald in “História das Jóias” diz que as safiras e os rubis que revelam a presença de uma variedade de linhas, gretas, cavidades e inclusões, são às centenas. Num pequeno número de casos forma-se uma linha de luz única: olho-de-gato; outras vezes formam-se três linhas que se cortam desenhando uma estrela de seis raios, ou melhor ainda, existem seis linhas que se cortam em cujo caso a estrela tem 12 raios.

 

As safiras e os rubis estrelados são gemas muito bonitas e o seu valor é extraordinariamente mais elevado quando são transparentes.

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