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Marionela Gusmão

36º. ANIVERSÁRIO

da nossa/vossa MODA&MODA

 

Ai! Como o tempo passa! Há 36 anos estava sentada numa secretária de metal com uma máquina de escrever, pesada, diante dos meus olhos.

Hoje, volvidos 36 anos estou num espaço muito mais confortável, com melhor iluminação, diante de um monitor da marca SONY. A máquina de escrever comparada com este computador até parece uma ideia antiga resultante da arqueologia industrial…

Só há em tudo isto um senão a lamentar: tenho mais 36 anos de idade do que na data em que dirigi a primeira MODA&MODA.

Força? Bem, se falarmos de força interior até a tenho mais enriquecida…

Mas, os anos vão deixando marcas e isso é inegável, em especial para quem sofreu a perda do grande pilar da revista que foi o meu marido que a morte levou seis meses depois do nascimento da MODA&MODA.

Seja como for, o mercado publicitário está como todos sabem e não se podem fazer omeletas sem ovos ou mais abertamente sem dinheiro não há divertimentos. E foi por falta de verbas que não tive outra solução a não ser passar da revista impressa abraçando a tecnologia dos computadores e, principalmente, da via online. Confesso, com mágoa, que para mim não é a mesma coisa ler em suporte de papel ou sujeitar-me a ler online. Nem para mim nem para as pessoas da minha geração e de muitas seguintes.

Há lá alguma coisa que chegue ao folhear uma revista a cores, com imagens lindíssimas, ou num monitor?

Nem pensar! Mas tenho forçosamente no que a minha querida avó Maria Luísa, a quem a vida não sorriu muito, dizia com frequência: “quem não tem cão, caça com gato”! É isso mesmo! A sobrevivência passa por diminuir as exigências desde que isso não nos obrigue a dobrar a coluna vertebral e dizer sim àquilo que é mesmo de gritar: não!

 

Ao folhear a primeira MODA&MODA dada à estampa no Verão de 84, vi com gosto que no verso da capa estava o anúncio do champanhe TAITINGER, ao tempo representado pela Vinalda, empresa com a qual o meu marido tinha boas relações já que era o médico da família que representava esta marca em Portugal. Na primeira página ímpar estava um anúncio muito apelativo da Cartier, ou seja entrámos com o pé direito.

Depois de nós, algumas revistas foram surgindo e ficando pelo caminho.

No nosso editorial escrevemos o que a seguir repetimos: “Procurando formar e informar, “MODA&MODA” trata o vestuário como uma área das Artes Decorativas sob uma linguagem onde a História e a Tradição convivem com os temas da actualidade”.

Na sua maioria os modelos que incluímos são fotografados directamente da “passerelle” tal como foram apresentados à imprensa e aos operadores do sector, procurando assim obter uma viva mensagem de cada costureiro, colhida no “mágico” e frenético  momento do desfile.

No primeiro nº. da MODA&MODA colaborou Maria Leonor, a grande locutora portuguesa que também tinha um grande fascínio sobre esta vertente das artes decorativas; o jornalista Alexandre Honrado (que sempre adorei) e, que posteriormente, veio a ser o Chefe de redacção da revista; a minha grande amiga e muito saudosa Alicia Papadopoulos que fez um excelente trabalho sobre Yves Saint Laurent no Metropolitan Museum of New York,uma personalidade única que me deu a sua casa para meu porto de abrigo; o jornalista Francisco Sousa Neves que, mais tarde, fez parte do quadro do pessoal da revista, o Dr. Firmino Fernandes, meu marido que faleceu prematuramente,após sete meses do nascimento da revista e, naturalmente, a signatária, a sempre apaixonada pelo Traje e sua História, motivo porque colaborou intensamente nos primeiros tempos do Museu Nacional do Traje com a sua amiga Drª. Natália Correia Guedes.

Recordar 36 anos da fundação da revista MODA&MODA é uma arma de dois gumes. Por um lado, tenho a satisfação de ter concretizado o sonho de dotar o meu país com uma revista que levei pelo mundo ocidental com honra e glória. Por outra parte, tenho uma mágoa profunda por constatar que há gente ingrata a quem muito ajudei e, por falta de consciência, tiveram ataques de amnésia. Coitados!

Falta escrever sobre a capa. Mas, considero que ela foi feita com muito amor de vários encontros e por isso lhe dedico um lugar à parte.

Resta-me agradecer aos meus fiéis leitores o carinho que tenho recebido mesmo nestes maus tempos em que todos vivemos, uns piores do que outros.

Haverá quem diga que continuo a fazer a revista online por teimosia porque agora estamos em tempos de vacas gordas e é o momento de pedir subsídios. Ora nessa, não caí nem vou cair. Até podiam não me dar já que não faço parte de nenhum partido nem de direita nem de esquerda. Sou livre como as aves, tanto podem ser pardais como aves raras de alto preço.

Não me identifico com pedinchices. Quem não tem, não joga. E já não é tempo de mudar a minha forma de estar na vida. Não devo nada a ninguém a não ser a estima que muita gente tem por mim. Hei-de lutar até ao fim e em jeito de fado: escreverei mesmo até que as mãos me doam.

 

Marionela Gusmão

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