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Design Global Cerâmica Chinesa da Colecção de Rui Albuquerque

Conjunto de Cinco Taças com Forma de Animal. Dinastia Ming, Período Tianqi (1621 /1627) Porcelana pintada em azul-cobalto sob um esmalte transparente Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Jarro Dinastia Yuan, século XIV. Porcelana pintada em azul-cobalto sob um esmalte transparente Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Frasco: com a Forma Crescente Kendi Dinastia Ming, finais do século XV/ início do século XVI. Porcelana pintada em azul-cobalto sob um esmalte transparente Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Prato com decoração igual a uma pintura de aguarela. Dinastia Qing, cerca 1700. Porcelana pintada em azul-cobalto e ouro sob um esmalte transparente. Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Prato representando a Crucificação de Cristo. Dinastia Qing, cerca 1720/1730. Porcelana com decoração europeia. Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Terrina, tampa e suporte. Dinastia Qing, cerca 1740. Porcelana pintada com esmaltes coloridos, “grisaille” e ouro sobre esmalte transparente. Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Três potes e duas Jarras (Lago Ocidental). Dinastia Qing, cerca 1700. Porcelana pintada a azul-cobalto sob esmalte transparente Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Taça. Dinastia Qing, finais do século XVII/ início do século XVIII. Porcelana brasonada com as armas da família Sampaio e Mello, com esmaltes coloridos e ouro sobre esmalte transparente. Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Terrina em forma de carpa. Dinastia Qing, cerca 1750/1780. Porcelana pintada com esmaltes coloridos sobre esmalte transparente. Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Terrina em forma de caranguejo sobre bandeja. Dinastia Qing, cerca 1770. Porcelana pintada com esmaltes coloridos e ouro sobre esmalte transparente. Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Duas tigelas com tampas. Dinastia Qing, século XVIIII. Porcelana pintada com esmaltes coloridos e ouro sobre esmalte transparente. Colecção de Rui Albuquerque, Brasil. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

O “Metropolitan  Museum of Art” de Nova Iorque, é como sempre um museu admirável com as exposições que apresenta. Agora desafia-nos com uma mostra de grande beleza até 7 de Agosto de 2016, com o título: Cerâmica Chinesa da Colecção de Rui Albuquerque, em que os visitantes de todo o mundo podem admirar um conjunto significativo de 60 peças chinesas, requintadas e invulgares, reunida a partir de uma colecção privada brasileira.

 

A mostra centra-se no período final do século XVI ao século XVIII, quando a porcelana chinesa tinha-se tornado num luxo global, transformando quer a indústria cerâmica europeia de vários estilos, em objectos que rivalizam entre si pela extraordinária qualidade da sua criação e fabrico.

 

A exposição foi organizada por Jeffrey Munger, curador do Departamento de Escultura Europeia e Artes Decorativas, e Denise Patry Leidy, Curadora da Arte Chinesa, Departamento de Arte Asiática.


Este espólio reúne uma selecção de peças fascinantes, como porcelanas da Companhia das Indias, Azul e Branca e porcelanas Kraak, que transmitem o esplendor da cultura chinesa do século XVI ao século XVIII, “um período durante o qual se tornou num luxo à escala global, transformando a produção de cerâmica europeia e os próprios hábitos sociais do Ocidente”, explica Denise Patry Leidy, Curadora da Arte Chinesa, Departamento de Arte Asiática.

 

A exposição apresenta peças excepcionais que são agora expostas, pela primeira vez, neste museu. Esta mostra além de destacar o comércio dentro da Ásia, centra-se também no desenvolvimento de tipologias e desenhos que mostram a história de influências culturais entre a China e o Islão, quando as obras de arte que reflectiam as tradições chinesas e islâmicas foram introduzidas na Europa e nas Américas.

 

Cerâmica Chinesa dos séculos VIII ao XVIII

A cerâmica é a primeira memória que une os homens. Na China foi produzida há 5000 anos, durante os quais a sua evolução prosseguiu sem rupturas.

 

Elogiada pelos poetas desde o século VIII, coleccionada com paixão por imperadores, príncipes e intelectuais desde o século XI, os chineses admiravam as suas qualidades técnicas e as fruições subtis que elas lhes proporcionavam.

 

Fora da China, a cerâmica chinesa gozou de grande prestígio em todas as épocas pelo grande mistério que representava, levando o mundo inteiro a tentar imitá-la.

 

No século XVI, começam a formar-se as colecções europeias à medida que chegavam as porcelanas de exportação. Os portugueses encomendaram as primeiras porcelanas decoradas com motivos ocidentais.

 

No século XVIII, as porcelanas chinesas com formas europeias e com decoração exótica encantaram o Ocidente imbuído do espírito rococó. Cedo, o uso expande-se e os europeus, e mais tarde aos americanos, fizeram chegar aos chineses desenhos e gravuras que os artesãos se esforçaram em reproduzir.

 

A porcelana está presente em todas as horas do dia desde o levantar ao deitar.


A introdução da porcelana na Europa pode ser marcada pelo período entre os finais do século XV e início do XVI, ​​conhecido como a "Era dos Descobrimentos." Este período inclui a descoberta do Vasco da Gama (1460-1524) em 1498 com a rota marítima em torno do Cabo da Boa Esperança, na África a Sul e Leste da Ásia. Este navegador foi à procura de uma rota marítima que iria fornecer acesso mais rápido aos luxos asiáticos cobiçados, incluindo chá, especiarias, sedas e porcelanas.


Quando os Portugueses chegaram primeiro à China no século XVI, o enorme forno de cerâmica, em Jingdezhen, na província de Jiangxi, no sudeste já dominava a produção de porcelana. (A China e, em menor grau, a Coreia, eram os únicos lugares no mundo que naquela época produziam porcelana).

 

Os governantes portugueses foram os primeiros europeus a encomendar peças a partir da China, e estes primeiros objectos estão entre as mais raras peças expostas na mostra. Eles incluem exemplares com desenhos reais, como uma garrafa com um brasão e ainda imagens de santos, como uma taça delicada com a Imagem de Nossa Senhora.


Por esta época, a, porcelana tinha sido muito valorizada no comércio interno-asiático, particularmente com o mundo islâmico, e as formas e os desenhos do Médio Oriente, que haviam sido incorporadas na indústria da porcelana, também foram transmitidos para a Europa. Na exposição, pode-se admirar um exemplo raro de um prato kraak (cerca 1628/1642) que apresenta duas figuras persas e foi produzido tanto para o mundo islâmico, como para o mercado europeu e mostra um exemplo complicado desses intercâmbios. (O termo “kraak” deriva da palavra Portuguesa "navio" e é frequentemente usada em fontes ocidentais para definir as porcelanas chinesas criadas especificamente para exportação nos finais do século XVI até início do século XVII.) Paralelamente a esta peça está exposta uma tigela invulgar com uma decoração perfurada, com influência islâmica e com dourados europeus, indicando a sua fascinante viagem da China para o mundo islâmico e, posteriormente para a Europa.


No início do século XVII, depois dos holandeses terem leiloado a porcelana dos dois navios portugueses capturados e alcançado os rotas marítimas portuguesas e espanholas, a porcelana tornou-se, então, muito difundida em todo o norte da Europa. Nos finais do século XVII e XVIII, com o intercâmbio permanente de formas e desenhos, a linguagem artística global no fabrico de porcelana foi totalmente desenvolvida. Um dos exemplos mais importantes da exposição é um conjunto monumental de cinco jarras e potes produzidas para serem expostas em casas europeias, apresentando cenas do Lago Ocidental, no sul da China. Além disso, podem-se também admirar as terrinas, uma delas como uma deliciosa peça com a forma de um caranguejo com os olhos móveis, outra com a forma do histórico monge budista chinês Budai, e uma terceira peça, com a base em prata europeia, com padrões exuberantes e imagens ocidentais e orientais, que exemplificam a inovação e experiencia que caracterizou a indústria de porcelana chinesa no século XVIII.

 

As peças, de porcelana ou grés, deste género são fabricadas no Extremo Oriente para exportação, sobretudo para a Europa. As datas abrangem os grandes períodos dessa exportação: dos meados do século XVI até ao século XIX. A colecção destaca o género de objectos de encomenda para o mercado português, produzidas na China e no Japão, com uma tendência para peças de porcelana das “carracas”, o grupo mais caraterístico das porcelanas de exportação chinesa que coincide com o começo do reinado Wanli, séculos XVI e XVII. Nesta colecção são evidentes as porcelanas do período kangxi, do século XVII e XVIII, geralmente azuis e brancas e a porcelana policromada que passou a ser importada, em grande quantidade, para a Europa, na segunda metade do século XVIII, quando se generalizou o gosto pelas bebidas exóticas.

 

Porcelana azul e branca

Tecnicamente, a porcelana é um produto que resulta do aperfeiçoamento do grés, obtido graças ao emprego de uma argila plástica especial, o caulino, e de temperaturas de cozedura também especiais, superiores a 1.350ºC, que conferem à sua massa aspecto fino, translúcido, dureza e ausência de cor.

 

A porcelana chinesa começou a ser produzida na dinastia Tang (618-906), sendo o centro mais importante Hopeh (Hubei ), no Hsing Chou (Jing Zhou), tendo-se desenvolvido intensamente na dinastia Ming (1368-1644) com a descoberta do caulino, atingindo a perfeição em meados do século XIV.

 

A primeira descrição, conhecida no Ocidente, sobre o fabrico da porcelana, pertence ao português Duarte Barbosa no seu “Livro das Coisas do Oriente”. Mas o relato completo da técnica é da autoria de Frei Gaspar da Cruz no “Tratado das Coisas da China”.

Apesar dos relatos dos missionários e navegadores portugueses do século XVI mencionarem o fabrico da porcelana, só em 1712 os europeus conseguiram obter conhecimento preciso do seu processo de fabrico, graças às cartas do missionário jesuíta d’Entrecolles (1664-1741) que descreviam pormenorizadamente os segredos da sua preparação.

 

O Azul e Branco constituiu, durante cinco séculos, a maioria da produção das porcelanas chinesas (séculos XIV ao XVIII). A Idade de Ouro do Azul e Branco deu-se no reinado de Xuande (1426- 1435), tendo-se então produzido tigelas, taças, pratos, frascos de peregrino, “meipin”, aquários e garrafas, decorados com peixes, aves, árvores, plantas aquáticas, paisagens.

O principal centro de fabrico do Azul e Branco foi Jingdezhe, sendo as principais peças de pequenas dimensões, com vidrado semelhante ao Qingbai e decoração em azul-cobalto sob o vidrado, lembrando a cerâmica Shufu.

 

No reinado de Jiaqing (1522-1566) começa a exportação regular da porcelana chinesa para a Europa através dos portugueses, que irá perdurar até aos meados do século XVII, período em que os holandeses substituiram os portugueses no domínio dos mares.

 

Aquilo que se denomina “kraak”, é um tipo de porcelana chinesa de exportação produzido principalmente no reinado do Imperador Wanli (1563-1620) até cerca de 1640. Foi uma das primeiras cerâmicas chinesas de exportação a chegar à Europa, em grandes quantidades, e foi frequentemente representada nas naturezas mortas pintadas durante o Renascimento flamengo retratando os luxos estrangeiros.

 

Acredita-se que a porcelana "Kraak" foi nomeada por causa dos navios mercantes portugueses - as carracas- nos quais era transportada. Embora a ligação aos navios carraca seja geralmente aceite como a raiz do nome Kraak, outras origens também foram propostas. Por exemplo, em holandês kraken o verbo significa quebrar - uma característica que, certamente, é comum entre as porcelanas Kraak. Além disso, o termo é também usado para referir o tipo de prateleiras em que, frequentemente eram exibidas as porcelanas de importação azuis e brancas na Frísia, no norte da Holanda.

 

As porcelanas Kraak são geralmente pintadas com o pigmento azul-cobalto e branco vidrado aperfeiçoado na dinastia Ming, embora existam alguns exemplos de pratos pintados com esmalte colorido. Frequentemente, eram decoradas com variações dos motivos tradicionais mais encontrados na porcelana chinesa, tais como flores estilizadas (peónias e crisântemos) e símbolos budistas auspiciosos. No entanto, a principal característica da decoração Kraak é o uso de painéis radiais foliados, ou seja, a superfície da porcelana é dividida em segmentos, cada um contendo a sua própria imagem.

 

A porcelana Kraak foi copiada e imitada em todo o mundo, pelos oleiros de Arita, Japão e Pérsia, para onde os mercadores holandeses se voltaram quando a queda da Dinastia Ming tornou os originais chineses indisponíveis e, por fim, em Delft.

Jorge Welsh, acerca da mostra, afirmou: “Há cinco anos, apresentámos o maior coleccionador de porcelana chinesa e desafiámos o Metropolitan Museum of Art a ir ver estas peças ao Brasil. As porcelanas representam uma fonte de estudo e uma colecção única, que encantaram os responsáveis do museu de Nova Iorque”.

 

A mostra é acompanhada por um catálogo totalmente ilustrado. O catálogo foi escrito por Maria Antónia Pinto de Matos, directora do Museu do Azulejo em Lisboa e especialista em cerâmica chinesa de exportação, a introdução do catálogo é de Denise Patry Leidy, curadora do MET e a publicação é de Jorge Welsh e Luísa Vinhais, a convite do Metropolitan Museum of Art.

Esta colecção, como outras que se encontram em museus, ou nas mãos de colecionadores particulares, demonstra o fascínio que a porcelana da China exerceu nos portugueses.

 

Theresa Bêco do Lobo

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