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Cortes e Cosmos: A Grande Era dos Seljúcidas

Escultura com Adereço de Cabeça Irão, século XII e início do século XIII Gesso modelado, esculpido com pintura policromada e dourada. Colecção The Metropolitan Museum of Art, New York, oferta de Mr. e Mrs. Lester Wolfe, 1967 Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Escultura com Adereço de Cabeça Irão, século XII e início do século XIII Gesso modelado, esculpido com pintura policromada e dourada. Crédito da Images: The Metropolitan Museum of Art, New York Colecção The Metropolitan Museum of Art, New York, Cora Timken Burnett Collection of Persian Miniatures and Other Persian Art Objects, Doação de Cora Timken Burnett, 1956 Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Prato de Rukn al-Dawla Dawud (1114/44) Anatolia ou Caucasus, (cerca 1114/44) Cobre dourado, cloisonné, (esmalte entre tesselas) Crédito da Images: Tiroler Landesmuseen Colecção Tiroler Landesmuseum Ferdinandeum, Innsbruck. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Jarro The Blacas Shuja‘ b. Man‘a al-Mawsili Jazira, Mosul, A.H. Rajab 629 d.C.– 1232 Bronze, gravado, incrustado com cobre e prata Credito da Imagem: The Trustees of the British Museum, London Colecção Trustees of the British Museum, London Cortesia Trustees of the British Museum, London

Peça de vestuário Irão, séculos XI-XII. Composto de seda sarjada Colecção Sarikhani, Oxfordshire. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Par de pulseiras ou tornozeleiras com fechos poligonais Turquemenistão, Meruchak (Merve-Rud), (segunda metade do século XI) Folha de ouro gravada com aplicação de grânulos Colecção The State Museum of the State Cultural Center of Turkmenistan, Ashgabat Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Pulseira com Granulos Turquemenistão, Meruchak (Merve-Rud), (segunda metade do século XI) Folha de ouro, fio torcido com decoração aplicada. Colecção The State Museum of the State Cultural Center of Turkmenistan, Ashgabat Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Jarro Yunus b. Yusuf al-Naqqash al-Mawsili Jazira, provavelmente Mosul, (644/d.C. 1246/47) Bronze gravado, incrustado com prata e ouro Colecção The Walters Art Museum, Baltimore Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Taça Mina'i representando uma Assembleia com Crianças num Jardim Irão, (final do século XII–início século XIII) Barro vidrado em branco opaco com pinturas policromadas. Colecção Brooklyn Museum, New York, oferta de Ernest Erickson Foundation, Inc. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Astrolábio Muhammad b. Abi-l-Qasim b. Bakran al-Najjar al-Isfahani al-Salihani Irão,Isfahan, (496/d.C. -1102/3) Bronze Fotografia: Franca Principe Crédito de Imagem: Museo Galileo, Florence. Colecção Museo Galileo: Institute and Museum of the History of Science. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Caixa Episcopal Irão, Khurasan, (cerca 1200) Bronze gravado, incrustado com prata. Credito da Imagem: The Trustees of the British Museum, London Colecção Trustees of the British Museum, London Cortesia Trustees of the British Museum, London

O Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque, apresenta até 24 de Julho de 2016, uma mostra espectacular, que exibe as mais notáveis realizações artísticas e culturais dos Seljúcidas (Turcos) num período de duzentos anos, dos séculos XI ao XIII. A exposição surpreende pela beleza das peças, em especial pela qualidade dos têxteis, iluminuras, objectos em ouro, bronze, prata e pedras semipreciosas.

 São cerca de duzentos e setenta adornos onde se incluem cintos, peças de vestuários, armas, trabalhos em madeira  e cerâmica, numa grande diversidade artística que  culmina com os esplendores do Império Seljúcida. Estas obras pertencem a colecções privadas e públicas americanas e europeias.

Esplendor, sumptuosidade e beleza são as componentes que caracterizam a arte Seljúcida (Turca). Peças que representam cerca de mais de trezentos anos de obras de arte realizadas durante os vários sultanatos, que se empenharam em criar novas formas  artísticas, magníficos edifícios e numerosas expressões de arte.

A exposição destaca a arte e a cultura do Império Seljúcida, que expandiu o seu domínio sobre quase todo o planalto da Anatólia e Arménia, a leste da Bitínia, e no ocidente fundaram, em 1077, o Sultanato de Rum, com capital em Niceia, a 88 km de Constantinopla.

Na metade do século VI,  Bizâncio dominava todo o Mediterrâneo, desde a  Palestina até à Península Ibérica. No entanto, as fronteiras estavam sempre em grandes mudanças. A leste estava a ameaça dos Persas, Árabes e Turcos e a oeste a dos Búlgaros e Eslavos. Em 1071 os Seljúcidas turcos venceram a batalha de Malazgirt (Manzikert) contra o Imperador romano bizantino Diógenes e aí iniciaram a conquista da Anatólia.

Descendendo de uma tribo de nome Seljuk, cujas terras ficavam além do rio Oxus, próximo ao mar Aral, os seljúcidas desenvolveram um exército poderoso, e através de estreitos  contactos com a vida da corte persa, no Khorasan e na Transoxiana, conseguiram atrair, também, uma equipa de administradores  com invulgares capacidades artísticas.

Os turcos seldjúcidas avançaram, primeiro para o Khorasan, e depois até a Pérsia continental, antes de conquistarem, eventualmente, a porção leste da Anatólia.

Sob o comando de Togrul Beg, neto de Seljuk, conquistaram Nixapur em 1038. Em 1040, venceram os Ghaznévidas, em Dandanaqan. Ispahan caiu também em seu poder, passando a ser a capital. Penetrou pelo sul no Iraque, cuja capital, Bagdad, ocupou em 1055, fazendo-se  reconhecer como sultão e protector do califa.


A Togrul Beg sucedeu Alp-Arslam que, em 1071, derrotou o imperador bizantino, na Batalha de Mantzikert. Malik-Shah, que, por sua vez, sucedeu a Alp-Arslam, dominou um império que se estendia desde a Anatólia até à Transoxiana.


Estendendo-se desde a Ásia Central até a Ásia Menor, os governos dos seus três primeiros sultões; Tughril Beg, Alp-Arslan e Malik-Shah, fundaram um estado sunita bem administrado, sob a autoridade nominal dos califas abássidas de Bagdad.


Um dos administradores, o persa Nizam-al-Mulk, tornou-se um dos maiores estadistas do Islão medieval. Durante vinte anos, principalmente durante o governo do sultão Malik-Shah, ele foi o verdadeiro protector do estado Seldjúcida.


Além das suas habilidades administrativas, Malik-Shah foi um ilustre estadista, cujo livro sobre a arte de governar, Siyasat-Namah, foi uma fonte valiosa sobre o pensamento político do seu tempo.


Nizam-al-Mulk, era um muçulmano ortodoxo devoto, que estabeleceu um sistema de madrassas (chamadas de nizamiyah), ou seminários teológicos, para propiciar aos estudantes uma educação gratuita sobre as ciências religiosas do Islão, e sobre os mais avançados pensamentos científicos e filosóficos  da época.


O célebro teólogo muçulmano Al Ghazali, cuja obra, "O Renascimento das Ciências da Religião", foi um triunfador do ensino da teologia sunita dessa época nas escolas nizamiyah de Bagdad  e Nishapur. Nizam al-Mulk foi o patrono do poeta e astrónomo Omar al-Khayyam, cujos versos, traduzidos para a língua  inglesa foram muito divulgados..


Com a morte de Malik-Shah, O império Seldjúcida dividiu-se entre os seus filhos e irmãos. Os governadores locais tornaram-se independentes e fundaram dinastias locais (Síria, Mesopotâmia, Arménia e Pérsia), e em unidades menores conduzidas por chefes tribais.


A dominação Seljúcida na Anatólia contribuiu muito para o desenvolvimento das artes e da arquitectura. A boa organização da administração, a justiça e o  comércio, o alto nível de maturidade social e de tolerância permitiram que a  arte e a arquitectura cristãs continuassem o seu desenvolvimento ao mesmo tempo que novos estilos vindos da Ásia Central e do norte da Índia introduziam  novidades nas cidades de Anatólia. Por outras palavras, durante o estado Seljúcida nessas localidades, houve desenvolvimento cultural, artístico e prosperidade. Embora as vagas de cruzados procedentes do Ocidente e de Mongóis vindos do Oriente acabassem com esta civilização em menos de três séculos, a sua herança, culturalmente rica, constituiu uma parte importante do património histórico turco.

Em 1299 o mais pequeno dos Beyliks (principados) que herdaram o Império Selúcida da Anatólia, os otomanos, assentaram-se de início em redor de Iznik (Nikea) e gradualmente, foram-se espalhando por toda a Anatólia.

A linha principal dos Grandes Seljúcidas terminou em 1157, mas o seu ramo na Turquia, os Seljúcidas do Rum, continuaram activos por mais de século e meio. Uma parte desse grupo, conhecida com os Seljúcidas de Arzarum, no início de 1200, teve, durante duas décadas, uma linhagem separada de governantes, numa pequena região da Turquia oriental.

Os Seljúcidas do Rum tiveram o controle nominal da Anatólia até 1307, mas a sua a influência  já se vinha  enfraquecendo desde 1243, quando foram derrotados pelos mongóis e por uma invasão de mamelucos, em 1276, levando a uma segunda incursão mongol.

Os Seljúcidas foram então subjugados pelos mongóis da Pérsia até a sua extinção em 1307.  Quando  chegaram ao fim, a Anatólia estava fragmentada num grupo de diversos estados pequenos, conhecidos com "beyliks".

O sultão Malik-Shah personificou o crescimento e a sofisticação das artes nos meados do século XII. Os artistas e os artífices que mostravam as suas magníficas capacidades de criação em relação aos seus trabalhos de arte eram logo protegidos pelos sultões.

Foi sobretudo nas artes menores que os Seljúcidas atingiram o seu apogeu, os armeiros rivalizaram com os forjadores, os punhos das espadas tornaram-se em verdadeiras obras primas de cinzelagem. As espadas ds sultões  foram sumptuosamente decoradas por verdadeiros mestres de ourivesaria, já que trabalharam o metal com incrustações de pedras preciosas.

As cerâmicas foram concebidas nos palácios imperiais. Os “ateliers” imperiais produziam desenhos para os ceramistas locais, que os reproduziam para jarros e taças.

 

Exposição

A mostra está organizada, por temas, em seis secções. A primeira galeria apresenta artefactos relacionados com os sultões seljúcidas e membros da elite dominante. Na Ásia Central e no Irão, as moedas e os relevos de estuque na arquitectura, apresentavam imagens dos guardas reais, emires e cortesãos, que serviam para destacar as cortes dos governantes. Na Anatólia, Síria e Jazira, os nomes e as imagens de governantes seljúcidas apareciam numa série de objectos. Nesta secção pode-se admirar o célebre prato cloisonné do século XII com o nome de Rukn al-Dawla Dawud, um líder dos Artuqids.


Na segunda galeria, o ambiente e as peças expostas estão relacionadas com as actividades associadas aos sultões e aos seus cortesãos, como os relevos de estuque, cerâmica, metalurgia e outras técnicas. Enquanto as representações da elite Seljúcida não foram realizados, como retratos reais, o género de imagem da Ásia Central foi um padrão de beleza usado sob o domínio Seljúcida.

O mais antigo manuscrito sobrevivente do Shahnama (Livro dos Reis), criado na Anatólia em 1217, é uma das peças principais da galeria seguinte, assim como,  o notável Jarro Blacas, com a sua decoração pormenorizada apresentando a vida ligada à cortes seljúcidas.


Os três séculos sob o domínio Seljúcida foram também um período de invenções pois muitos dos avanços na ciência, medicina e tecnologia foram mostrados nos manuscritos,assim como os instrumentos científicos e instrumentos médicos da época. Páginas a partir do início do século XIII, como o manuscrito ilustrado do livro de conhecimento com dispositivos mecânicos engenhosos apresentavam algumas das invenções fantasiosas do muçulmano e génio criativo Ibn al-Razzaz al-Jazari, cujas invenções variavam desde relógios e rodas de água até autómatos (robôs ). Também de destacar nesta secção o astrolábio islâmico (instrumento de navegação) e ainda uma caixa de farmácia com vários compartimentos separados para o almíscar, cânfora e outros ingredientes da farmacopeia medieval.


A arte Seljúcida está repleta de representações de animais reais, mitológicos, e híbridos, em vários tamanhos, de objectos expostos noutra galeria. Os combates com animais foram temas preferidos na arte iraniana. A águia bicéfala foi adoptada como o padrão dos Estados sucessores seljúcidas na Anatólia e no Jazira. Harpias (criaturas compostas com o corpo de um pássaro e o rosto de um ser humano) e esfinges (animais com o corpo de um leão, o rosto de um ser humano e, ocasionalmente, as asas de um pássaro) apareciam com frequência. Ainda neste espaço pode-se admirar o Vaso Vescovali, uma taça com uma tampa requintada gravada e incrustada com prata e decorada com várias imagens, juntamente com os 12 signos do zodíaco e os seus planetas associados na base, dentro de uma profusão de outros ornamentos.


Os seljúcidas promoveram activamente o islamismo sunita em todo o seu território, através de construções de madrasas e mesquitas e patrocinando a produção de Alcorões e outros textos religiosos. Estão expostos também uma série de exemplares de grande  raridade e bem ornamentados das artes do livro dos seljúcidas. Na Síria, Jazira e Anatolia, onde a maioria da população local, incluindo alguns da elite dominante, eram Cristãos, destacam-se os objectos com iconografia cristã, assim como um vaso ritual da Geórgia, com uma inscrição em hebraico, que mostrava também a presença das populações judaicas. Os mesmos artistas serviram frequentemente várias comunidades religiosas, assim como os estilos e tradições artísticas de um grupo fundiam-se com os dos outros.


A sexta galeria e última da exposição , centra-se nas artes funerárias. Nesta secção surgem uma variedade de túmulos, cenotáfios, mobiliário funerário e têxteis estampados achados em túmulos seljúcidas. Num enterro muçulmano, o morto era envolto em duas ou três folhas de pano branco. A presença de têxteis caros num contexto funerário indicava, que os costumes populares e oficiais diferiram significativamente.


Os Sultões foram os patronos das artes com umnotável  sentido estético, deixando uma marca muito  forte na Arte Seljúcida. Durante trezentos anos,  artistas e artesãos criaram estilos e temas que se tornaram únicos no mundo e glorificaram o período mais espectacular na História dos Seljúcidas.

Esta mostra é uma verdadeira lição de história de arte e da vivência de um população pouco divulgada.

Se algum dos nossos leitores tiver a “chance” de ir a Nova Iorque sugerimos que não perca esta exposição. Ela é fabulosa e rara.

 

Theresa Bêco do Lobo

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