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Educação I  Um tsunami que nos coloca à prova. 

sala de conferencia
Aprendizagem online
Café e Revistas
 Crianças com máscaras
tomando notas
Higiene das mãos

Vivem-se tempos difíceis, inquietantes, assustadores.

Para quem anda menos distraído, esta tempestade de contornos dramáticos era previsível e apenas uma questão de tempo nos separava dela. Porque quem anda atento sabe que o Homem tem vindo a invadir territórios que devia preservar alimentando a sua constante insatisfação e avidez à custa da violação de normas e de ética. 

E é assim que, repentinamente, nos vemos no olho do furacão, no epicentro de um sismo humanitário que nos força a questionar muita coisa, mas igualmente a recuperar o que havíamos esquecido e, a valorizar o que nos era indiferente e tido como certo. Hoje um simples passeio à beira rio, ou num qualquer jardim ou espaço público assume a aura de um sonho. Estamos todos no mesmo barco e não há lugar a falsas e egocêntricas expectativas de que isto é um problema apenas dos países A,B ou C ou de um grupo restrito de pessoas que não nos são próximas. A vã e egoísta convicção de segurança que o distanciamento social e geográfico nos tem oferecido diante outras tragédias humanitárias, vê agora ser completamente despojada da sua arrogância. A fome, só para lembrar um exemplo, que mata milhões e que aprendemos a ser dela espectadores passivos do cadeirão das nossas casas enquanto degustamos uma sobremesa, nunca foi um problema para o mundo ocidental tão longínquo desse drama. Mas esta estirpe silenciosa e que nem ser vivo é, fez-nos tombar e descobrir os nossos pés de barro. Esta estirpe de um vírus que nem ser vivo é, chega até nós com a sua tirania e obriga-nos a uma prisão domiciliária, proíbe-nos o abraço, rejeita-nos a partilha de espaço, o acompanhamento aos doentes, o apoio aos nossos idosos, o respirar livremente, o caminhar por onde o desejo nos conduz... 

Esta estirpe de um vírus que nem ser vivo é, mantém-nos reféns do medo, da incerteza do amanhã, afundados num desgaste emocional que dia a dia se agudiza.

Ironicamente este inimigo letal não é neutralizado com as potentes armas que o mundo tem vindo a construir gastando o que deveria ser destinado a erradicar a pobreza e em investimento na  educação e ciência. Não, este vírus que nos mantém refugiados em casa, vítimas desta guerra biológica, é neutralizado com sabão. A higiene versus bombas e mísseis. Simples e complexo. Não deixa de ser curioso que um planeta de pulmões a explodir e mares imundos, se veja agora aliviado com cidades menos poluentes e onde se descobre que é da limpeza que dependemos para sobreviver, uma limpeza que tem faltado tanto, na relação que temos mantido com o nosso mundo.

Julgo que concordamos se se disser que por todos os motivos este é também um tempo de aprendizagem e reaprendizagem. Em família, importa recuperar o tempo que tantas vezes se reivindica quando dizemos que passamos a vida a correr e nem damos pelo crescimento dos filhos. Pois agora podemos assistir segundo a segundo às suas mudanças e sobretudo temos a oportunidade de com eles experimentar o que em tempos já foi possível: partilhar o visionamento de bons filmes, ler e partilhar o que se lê, organizar jogos de tabuleiro, idealizar histórias, encenar e dramatizar contos, inventar quimeras, desenhar o que a imaginação nos dita. Dirão: “então e os trabalhos de casa impostos pelas escolas?” bom, sejamos sensatos. O Ministério da Educação na sua douta falta de bom senso e conhecida animosidade para com os professores, instruiu estes para o bombardeio de fichas e fichinhas que deveriam colocar nas plataformas existentes em cada agrupamento para acesso aos alunos. Convenhamos que, como o velho ditado diz, “nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Sejamos claros: em primeiro lugar a casa não é nem tem deve ser prioritariamente um espaço escolar e só assumirá essa função no momento em que o aluno realiza, de forma autónoma, actividades de consolidação das aprendizagens ou quando se opta pelo ensino doméstico. Mas o lar deve ser em primeiro lugar um espaço e reduto de família, com rotinas inerentes às suas dinâmicas. Em segundo lugar, importa lembrar a multiplicidade de aprendizagens e mecanismos de desenvolvimento de competências que não passam pela resolução de fichas. A destreza mental, habilidade motora, criatividade, autonomia, responsabilidade são em grande parte adquiridas e optimizadas num contexto educativo primário, ou seja, dentro da família.

Por isso, a forma como devem ser geridas as tarefas que vão surgindo nas plataformas, é a de sensatez. Sem stresse, com responsabilidade, mas com 0% de ansiedade e, mais uma vez, os pais devem lembrar-se que as tarefas são para os filhos e não para os pais.

Posto isto, este deve ser um tempo que deve ser encarado sobretudo como uma oportunidade de aprendizagem e redescoberta, de avaliação de prioridades e estreitamento de laços. 

Seja, pois, este um tempo, de conquistas e de construção de um futuro assente em maior consciência cívica, maior lucidez individual e colectiva, mais solidariedade.

E falar sobre tudo isto com os filhos é bem mais importante que qualquer ficha que terão, esperemos que em breve, muito tempo para a ela se dedicarem. 

 

Ana Paula Timóteo

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