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Vita parcial da capela da Nossa Senhonha da Conceição em Belém.

Porta principal da capela.

Um Pigmeu entre Gigantes

Junto dos colossos do Centro Cultural de Belém e do Mosteiro dos Jerónimos, em Belém, uma pequena Capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição impõe-se como espaço cultural.

 

Semi-abandonada, arruinada e desprezada, uma minúscula Ermida foi recuperada por um particular, que trabalhou no seu restauro durante dois anos. Erigida em 1707 por João Matias, um abastado proprietário da zona, certamente por influência da Restauração, nela os navegadores e mareantes oravam, recolhidos no seu interior, antes de sair a barra do Tejo. A sua pequenez e simplicidade criou à sua volta um ambiente de devoção muito popular e sentido.

 

Aos poucos, no entanto, os fiéis que a procuravam começaram a afastar-se. As gerações seguintes preferiram outros cultos e templos. E no início do século XX ela já era uma ruína.

 

Situada entre prédios de habitação, deixou de se dar pela sua presença. O interior foi transformado em oficina, primeiro, depois em armazém de colchoaria.

 

Sem imagens, sem altares, sem conservação, o velho edifício deteriorou-se rapidamente. As lajes partiram-se, os vidros quebraram-se, as portas apodreceram, as abóbadas fenderam-se, as cruzes mutilaram-se. Só os azulejos, interessantes exemplares da época, e a pia de água benta se mantiveram. Foi então que Neves Ferreira, nascido no bairro e fascinado, desde criança, pelo traçado e pela história da Ermida, a adquiriu à família Fortes.

 

“Custou-me 50 mil euros. Investi cerca de 175 mil euros na sua recuperação”, revelou-nos. “Recentemente ofereceram-me pela capela 350 mil contos, mas recusei. Apesar de não ser rico e os lucros serem diminutos, não a vendo”.

 

FORA DOS ROTEIROS

Fazer da sua Igreja um centro de exposições e convívio, como contraponto, complemento, ao Centro Cultural de Belém, e ao Mosteiro dos Jerónimos, transformou-se num sonho. À sua medida, à sua escala, isso está a ser conseguido. Aliás a sua entrada é pertíssimo do cada vez mais procurados Pastéis de Belém. Nomes das artes plásticas, caso, entre outros, de Rocha Pinto, Luís Moutinho, Isabel Bomba, Graça Arima, Cristina Carvalhão, Rui Leal, Eduardo Mota, Fernando Guerra, Martin Brion, Ana Mary Bilbao, apoiaram a iniciativa com entusiasmo que ali tem realizado exposições de desenhos, pinturas, esculturas, fotografia, design, vídeo e instalação.

 

Fora dos roteiros turísticos e culturais de moda, e dos apoios oficiais, a Ermida revela-se uma jóia patrimonial oferecida aos que sabem ver para lá do visível.

 

António Brás

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