
Educação I Parar, ler, pensar e realizar
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O desafio de uma modernidade assoberbada de informação
Quando falamos de Educação necessariamente falamos e pensamos em orientação e ensinamento. E orientar e ensinar é indicar caminhos, mostrar alternativas, alertar, partilhar experiências e conhecimento, despertar consciência cívica, desenvolver competências cognitivas e destreza de pensamento e acção. Afinal, bem sabemos o quanto de complexo e imenso encerra o acto de Educar.
Neste nosso mundo actual, a educação cumpre-se diante uma realidade que se apresenta, em muitos aspetos, radicalmente nova. A avalanche vertiginosa do que diariamente nos é dado a saber, obriga a reformular narrativas, a permanecer num alerta superlativo e a aprender constantemente a dominar, tanto quanto nos é possível, as novas ferramentas comunicacionais. Tudo porque é urgente não perder o curso dos acontecimentos e porque precisamos de ajudar as crianças e jovens a não se perder na confusa teia de informação, a maior parte deplorável e verdadeiro lixo virtual. Desenvolver a capacidade de seleccionar e analisar com critério e sabedoria o que nos é oferecido constantemente, sobretudo através da internet, é o desígnio a alcançar, mas para tal é urgente que o cérebro se habitue a “respirar” para melhor pensar e reflectir.
O rápido acesso à informação dos nossos dias é uma condição que cada vez mais define a modernidade tal como a rapidez informativa e os canais por onde ela circula são resultado e espelho deste tempo novo. Um tempo em que aguardar e observar parece ser quase sempre sinónimo de perda. A celeridade não tem nada de mal por si só, mas quando ela nos impede de maturar o pensamento, corremos o risco de assimilar como gravadores e reproduzir como autómatos. E quando reproduzimos como máquinas obedientes e acéfalas podemos estar a divulgar o que está errado e, mais grave, o que pode ser prejudicial, a nós e aos outros.
Não perder tempo com pormenores ou hesitações tem vingado como lema e, em consequência, o imperativo de agir de forma célere foi gradualmente sendo tatuado na alma e pensamento de todos, tornando-nos a todos reféns do síndrome de uma competitividade fútil e despersonalizante. Vive-se este tempo estranho em que o verbo esperar só se conjuga, e na perfeição indesejável das coisas imperfeitas, em áreas como a saúde ou a Justiça porque tudo o resto tem que ser veloz e tudo tem que acontecer já e agora, custe o que custar. E quem não corresponde está condenado ao fracasso porque não atinge as tão propaladas “metas”, um termo sobre o qual tanto há a dizer.
Na ânsia de chegar primeiro atropelam-se regras e desvanecem-se conceitos de ética e princípios morais.
Como educadores dos mais jovens, sejamos nós pais, professores, avós... sentimos claramente que enfrentamos uma dual provação: a de entendermos rapidamente os novos contornos, esta renovada gramática de vida que quase diariamente muda e se transfigura e, ao mesmo tempo, percebermos de que forma podemos orientar os nossos jovens na caminhada que cumprem pelo mundo virtual e de forma bem mais desembaraçada do que os adultos conseguem. Qual o registo certo da regulação que devemos adoptar? Que sinais devemos procurar? Como agir se nos foge o controlo e domínio de alguns dos mais invasores mecanismos de comunicação?
Vivemos um mundo em permanente e rápida mudança e muitas vezes sentimos que tudo nos escapa e surgem receios novos para os quais não estávamos preparados. Entre quem aconselha que regras a mais acaba por reduzir a eficácia do controlo e entre os que consideram que regras a menos é quase não haver regras e que as crianças e jovens necessitam é de estreitas balizas e supervisão apertada, haverá um “meio termo” que, infelizmente, é difícil de discernir.
Desprezada, ou mesmo esquecida neste tempo em que abundam livros de psicologia direcionados a pais em pânico, a perspicácia parental deve ser de novo escutada e valorizada. O instinto maternal, as “campainhas” que tilintam no cérebro de mães e pais quando sentem que alguma coisa não está bem ou quando insistem numa decisão porque sentem que esse é o caminho certo, não são ciência, não resultam de qualquer experiência de laboratório e muito menos de algum algoritmo. Porém, existe uma intuição presente em quem ama que não pode ser desprezada e descartada da equação.
Sejamos claros: ninguém aqui pretende fazer a apologia de se seguir, cegamente como guião educativo, o que “nos parece” certo, mas por vezes somos tão bombardeados com tantas teorias que acabamos por temer ser pais chatos ou professores retrógrados e esse medo faz-nos perder a noção do fio do horizonte aonde pretendemos chegar. E a meta é termos cidadãos responsáveis, competentes, produtores de pensamento próprio, altruístas, comprometidos com o progresso humanizado. Por isso importa não nos deixarmos impressionar com a velocidade alucinante com que tomamos conhecimento dos acontecimentos. O deslumbramento com a novidade constante não nos deve manietar e muito menos fazer-nos pensar que estamos errados por não abdicar do nosso papel de supervisores. Preparar os jovens para uma escolha inteligente dos canais informativos, optando pelos que de facto interessam consultar e usar, lembrá-los da existência dos livros, ensiná-los a moverem-se num mundo virtual permanecendo fiéis ao princípio de que o mundo não é virtual, fazê-los assimilar uma cultura de ética é hoje um primado educacional.
Estamos em Fevereiro e, por isso, a caminhar a passos rápidos para o meio de um ano letivo, altura em que surgem oportunidades de realização de trabalhos escolares que devem ser vistos como possibilidades de aprofundar temas, alargar conhecimentos, desenvolver competências de planificação, pesquisa, selecção de fontes e de informação, produção escrita, síntese. Aproxima-se também o momento onde a cópia de textos procurados no “dr Google” inundam as secretárias dos professores quando estes pedem a entrega dos trabalhos. Este é pois um dos muitos exemplos em que os pais devem regular a forma como os filhos estão a lidar com as fontes de informação, a qualidade da mesma e os canais por onde ela é difundida. “De que forma o meu filho está a elaborar um trabalho?” eis a questão que deve ser colocada. Se o filho não consulta livros, não vai a uma biblioteca e apenas se senta frente ao computador, então algo de errado se passa. E a tal campainha de alerta está certa, sim. O plágio de trabalhos académicos é a face visível do que eticamente é inadmissível e que o demasiado fácil acesso à internet e motores de busca potencia. E o plágio está sempre errado. Seja ele realizado no 1º ano do 1º ciclo seja ele uma realidade no último ano de uma licenciatura. O plágio cultiva a preguiça, desvirtua o objectivo de um trabalho, vulgariza o roubo intelectual.
Se há uma ponta por onde começar, comecemos por garantir que os nossos filhos aprendem de facto quando elaboram um trabalho e não se limitam a copiar o que alguém, algures, escreveu sobre o tema.
Ana Paula Timóteo