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A Jornada Monumental I Os Daguerreótipos de Girault de Prangey

Palmeira perto da Igreja de Santo Teodoro, Atenas, 1842. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção Bibliothèque Nationale de France, Paris. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York.

Dome, Mesquita Khayrbak, Cairo, 1843. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção Bibliothèque Nationale de France, Paris. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York.

Ramesseum, Tebas, 1844. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção The Metropolitan Museum of Art, New York, Adquirido por Mr. e Mrs. John A. Moran como oferta, em homenagem de Louise Chisholm Moran, Dom Joyce F. Menschel, Joseph Pulitzer Legado, Benefit Fund de 2016 e oferta de Dr. Mortimer D. Sackler, Theresa Sackler e Família. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York

Olympieion, Atenas, vista do Leste, 1842. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção National Collection of Qatar. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York

Portal, Igreja do Santo Sepulcro, Jerusalém, 1844. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção Bibliothèque Nationale de France, Paris. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York.

Grande Mesquita de Damasco, 1843. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção Bibliothèque Nationale de France, Paris. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York.

Mesquita do Sultão al-Hakim, Cairo, 1842/1843. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção The Metropolitan Museum of Art, New York, Adquirido por Mr. e Mrs. John A. Moran como oferta, em homenagem de Louise Chisholm Moran, Dom Joyce F. Menschel, Joseph Pulitzer Legado, Benefit Fund de 2016 e oferta de Dr. Mortimer D. Sackler, Theresa Sackler e Família. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York.

Deserto perto de Alexandria. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892) Daguerreótipo. Colecção Metropolitan Museum of Art, New York. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Estudo de Plantas, Paris, 1841.
 Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção National Collection of Qatar Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Rochas, Philae, 1844. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção Bibliothèque Nationale de France, Paris. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York.

“Promenade et tours d’enceinte du palais de l’Alhambra à Grenade.” (Torres ao redor do Palácio de Alhambra, Granada), 1833. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Óleo sobre tela. Colecção Musée d’Art et d’Histoire, Langres. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York.

Templo de Artemis, Sardis, 1843. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção The Metropolitan Museum of Art, New York, Adquirido por Mr. e Mrs. John A. Moran como oferta, em homenagem de Louise Chisholm Moran, Dom Joyce F. Menschel, Joseph Pulitzer Legado, Benefit Fund de 2016 e oferta de Dr. Mortimer D. Sackler, Theresa Sackler e Família. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York.

Aleppo, Visto do Portão de Antioquia, 1844. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção The Metropolitan Museum of Art, New York, Adquirido por Mr. e Mrs. John A. Moran como oferta, em homenagem de Louise Chisholm Moran, Dom Joyce F. Menschel, Joseph Pulitzer Legado, Benefit Fund de 2016 e oferta de Dr. Mortimer D. Sackler, Theresa Sackler e Família, 2016. Cortesia The Metropolitan Museum of Art, New York.

Janela e Campanário, Corneto, 1842. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção National Collection of Qatar. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Templo de Vesta, Roma, 1842. Girault de Prangey (Francês, 1804–1892). Daguerreótipo. Colecção W. Bruce and Delaney H. Lundberg Collection. Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Mesquita no Cairo, dos Monumentos Árabes do Egipto, da Siria e da Ásia, 1846. Auguste Mathieu (Francês, 1810–1854). Litografia de um daguerreótipo de Girault de Prangey. Colecção Joyce F. Menschel Photography Library Fund, 2017 Cortesia Metropolitan Museum of Art, New York.

Visitar o Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, é sempre um prazer, especialmente quando assistimos à inauguração de uma mostra tão notável, como: “A Jornada Monumental: Os Daguerreótipos de Girault de Prangey”, que se realizou no dia 28 de Janeiro de 2019.

Na qualidade de representante da revista Moda & Moda, uma publicação que completa no próximo mês de Junho a bonita idade de 35 anos, sempre fomos recebida com respeito e estima. Essa atenção, mais uma vez, ficou registada na nossa memória. Obrigada em nome da signatária e de todos quantos têm colaborado neste meio de comunicação social tão bem recido no estrangeiro.

A paixão pela fotografia que sempre manifestámos não é nenhuma novidade, mas o importa salientar que estamos sempre atentos ao que melhor ocorre no mundo.

A mostra de daguerreótipos conta com cerca de cento e vinte obras-primas da fotografia do início do século XIX, criadas por um dos seus pioneiros- o senhor Joseph-Philibert Girault de Prangey (1804–1892).

A invenção da fotografia que se ficou a dever a Niépce foi, afinal, o nascimento de uma nova linguagem, tornando possível uma nova forma de comunicação visual. Com esta linguagem não localizada, a abundância de representações fotográficas não mais conheceu limites. A reprodução e disseminação múltipla dessas imagens criaram uma realidade virtual que se tornou parte da cultura moderna.

 

Moda & Moda foi à ante-estreia da “Jornada Monumental: Os Daguérreotipos de Girault Prangey”, mas no Metropolitan Museum of Art, em Nova  Iorque, a exposição só ficou patente ao público a partir do dia de 30 de Janeiro  do ano em curso e permanecerá  até 12 de Maio de 2019. Ali, pode-se admirar um conjunto significativo das mais relevantes fotografias de Girault de Prangey, que foram realizadas durante vários anos.

A mostra reúne trabalhos de grande qualidade de um dos melhores mestres da fotografia do século XIX.

Pode dizer-se que agora estão expostos, pela primeira vez, nos Estados Unidos da América, um conjunto significativo de daguerreótipos, livros, pinturas e desenhos que fazem parte da colecção da Bibliothèque Nationale de France, em Paris.

O evento foi organizado pelo Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, em colaboração com a Bibliothèque Nationale de France, em Paris.

Girault de Prangey viajou por todo o Mediterrâneo Oriental de 1842 a 1845, produzindo mais de mil daguerreótipos - da Grécia, Egipto, Síria, Líbano, Turquia e Jerusalém e Itália. Estão expostos mais de 120 dos seus daguerreótipos, complementados com aquarelas, pinturas e suas publicações ilustradas litograficamente, sendo que a exposição é a primeira nos Estados Unidos dedicada a Girault, e a primeira a concentrar-se na sua jornada no Mediterrâneo. Muitos dos sítios apresentados actualmente encontram-se alterados pelo  planeamento urbano, mudanças climáticas e guerras.

O daguerreótipo (em francês: daguerréotype) foi o primeiro processo fotográfico a ser anunciado e comercializado ao grande público. Foi divulgado em 1839, por Daguèrre Louis Jacques Mandé, (1787- 1833) tendo sido substituído por processos mais práticos e baratos apenas no início da década de 1860. E o que é um daguerreótipo? Nada mais, nada menos que uma imagem fixada sobre uma placa de cobre, ou outro metal de custo reduzido, com um banho de prata (casquinha), formando uma superfície espelhada. A imagem é ao mesmo tempo positivo e Negativo (fotografia) - negativa dependendo do ângulo em que é observada. Trata-se de imagens únicas, fixadas diretamente sobre a placa final, sem o uso de negativo. Os daguerreótipos são extremamente frágeis. A superfície é facilmente riscada e estão sujeitos à oxidação, por isso precisam ser encapsulados e conservados com cuidado, mas a fluorescência de micro-raios X de varredura rápida podem ser usados para conseguir, além da deterioração recuperar as imagens.

Nenhum outro fotógrafo, como Girault de Prangey, desse período, se deixou levar numa excursão tão longa e com sucesso, para obter uma quantidade vasta de chapas, com uma  produção de mais de mil daguerreótipos.

 A sua campanha fotográfica resultante dessa época continua a ser uma feito incomparável. Usando uma máquina fotográfica grande e personalizada, ele expôs mais de uma imagem numa única placa para criar pelo menos seis formatos diferentes, incluindo paisagens horizontais inesperadas e composições verticais estreitas.

O facto de uma colecção tão vasta ter sobrevivido é mesmo extraordinário e atesta a conquista de um inovador não-divulgado que trabalhou com uma tecnologia sem precedentes. A sobrevivência dessa colecção monumental e exemplar também resultou  do meticuloso processo de arquivamento de Girault - precoce na época, ainda que hoje pareça comum. O artista armazenou os seus daguerreótipos em caixas de madeira feitas sob medida; Além disso, classificou cuidadosamente, rotulou e datou as imagens para que as pudesse recuperar para uso futuro, ocasionalmente gravando quando as utilizou, por exemplo, como base para uma pintura ou uma impressão publicada. Na essência, Girault criou o arquivo fotográfico mais antigo do mundo.

"A exposição revela Girault como o criador de uma concepção moderna da fotografia, pela qual as memórias visuais podem ser armazenadas, recuperadas, remontadas e exibidas", afirmou Stephen C. Pinson, curador do Departamento de Fotografias do museu de Nova Iorque. “Ao mesmo tempo, talvez seja mais importante do que nunca reconhecer que Girault foi o produto de uma complexa rede de forças políticas, sociais e históricas que tiveram o impacto de longo alcance na relação do Ocidente com o mundo que ele fotografou”.

A exposição apresenta uma oportunidade única para admirar esses trabalhos raramente vistos, pois Girault nunca exibiu os seus daguerreótipos e morreu sem herdeiros directos em 1892. Em 1920, um parente distante, Charles de Simony, comprou a propriedade de Girault fora de Langres, na França, e descobriu as fotografias. - etiquetadas e cuidadosamente guardadas nas suas caixas de madeira originais – num quarto da sua casa em ruínas. Uma série de coleccionadores e curadores tomaram conhecimento da existência da colecção, mas o seu conteúdo permaneceu pouco conhecido, até 2003, quando foi realizado o primeiro de vários leilões de material retirados do arquivo original.

 

Girault de Prangey – Apontamento biográfico

Joseph-Philibert Girault de Prangey, desenhador, pintor e daguerreotipista francês, nasceu em 1804, no seio de uma família aristocrática, em Langres (Haut-Marnes). Em 1828, após  tirar o bacharelato nas Belas Artes e concluir o curso de Direito, frequentou diversos cursos de desenho em Langres e Paris.

Fascinado pela arqueologia e a arquitectura monumental, em 1830 decidiu viajar pela Itália, Espanha e África do Norte, regressando a França com um grande número de desenhos e pinturas.

Em 1831, foi convidado a participar numa expedição que tinha como objectivo a inventariação de monumentos mouriscos, entre os séculos VIII e XV, nas cidades de Córdoba, Sevilha e Granada, região da Andaluzia, em Espanha. Como resultado deste trabalho, nos anos de 1836 a 1839, os seus desenhos são litografados e publicados em três volumes que descrevem pormenorizadamente o património arquitectónico da região.

O ano de 1841 pode ser considerado o ano de viragem artística de Girault de Prangey. Publicou o “Essai sur l’architecture des Arabes et des Mores en Espagne, en Sicile et en Barbarie”. Entusiasmado com o advento da fotografia, por esta possibilitar o registo de pormenores arquitectónicos dos edifícios, em dezoito meses aprendeu o ofício com perfeição e passou a dedicar-se à arte fotográfica como amador. Os primeiros vinte daguerreótipos que assinou, retratavam monumentos e imagens da cidade de Paris.

À semelhança de muitos dos seus contemporâneos, que tinham especial atracção pela cultura e pelas civilizações do Médio Oriente, em 1842 empreendeu numa grande viagem levando consigo o seu equipamento fotográfico. Iniciando a viagem pela cidade de Roma, onde teria registado cerca de trezentas imagens e realizado os primeiros daguerreótipos em formato panorâmico na vertical. A seguir, viajou pelo Egipto, Grécia, Império Otomano, Palestina e Síria. Ao todo, terá efectuado cerca de 1000 daguerreótipos fixando vistas e monumentos nas cidades do Cairo, Alexandria, Atenas, Constantinopla, Esmirna, Jerusalém, Damas, Balbek e Alep. Tendo inicialmente traçado um percurso entre a Itália e a Pérsia, viu falhada a ambição da passagem pelo último destino, por ter tido receio de perder todos os registos fotográficos que já havia realizado.

Hoje, apercebendo-nos dos meios logísticos que à época eram necessários para desempenhar tamanha odisseia e não esquecendo as adversas condições climatéricas da região, só podemos exprimir admiração pelo trabalho deste pioneiro da fotografia e admirarmo-nos com o número de placas que foram preservadas até à actualidade.

Joseph-Philibert Girault de Prangey, regressou a França em 1844. Em Paris, iniciou a preparação de duas grandes publicações sobre Arte Islâmica, ilustradas com litografias feitas a partir dos daguerreótipos: “Monumentos Árabes”, editado em 1846, e “ Monumentos e paisagens do Oriente”, publicação ilustrada com litografias coloridas, datada de 1851.

Pela fraca venda das edições, não voltou a publicar livros sobre a matéria. Contudo, o ultimo grande trabalho de importância foi realizado pelo fotógrafo, entre 1846 e 1850, na Suíça e na França, revestindo-se, hoje, de grande importância para a fotografia europeia. Dele são os primeiros daguerreótipos dos Alpes Suíços e do grande maciço do Mont Blanc, em França.

Findo o “salto” entre as fronteiras dos dois países, dedicou os últimos anos de vida ao estudo da botânica, ao desenho e ao levantamento patrimonial da sua terra natal. Faleceu em 1892, sem que nunca tenha tido reconhecimento dos seus pares e sem nunca ter exposto nenhum trabalho fotográfico.

Não tendo descendentes, grande parte da sua obra fotográfica foi deixada ao abandono num dos sótãos da sua habitação. Em 1920, a sua propriedade viria a ser comprada pelo Conde de Simony que, apesar de ter encontrado 856 daguerreótipos nas instalações, não deu conhecimento público da descoberta até 1934. Mais tarde, alguns especialistas de várias instituições e comerciantes adquiriram peças do espólio. Em 1951, a Biblioteca Nacional de França conseguiu adquirir vinte chapas, que  devidamente conservou e preservou. No inicio de 2002, após efectuadas partilhas pelos herdeiros de Simony, foram postos a leilão 350 daguerreótipos.  Destes, 150 foram adquiridos pela BNF e 61 pelo Museu Gruérien, na Suíça. Treze anos depois, no dia 11 de Novembro de 2015, estiveram a leilão na Christie’s 42 daguerreótipos.

No início do século XX, tomou-se consciência de que a imagem fotográfica alcançara autonomia e desenvolvera uma estética própria. Esta autonomia conduziu a um novo e fértil relacionamento com a pintura.

Os fotógrafos e os pintores descobriram as possibilidades quase ilimitadas de realizar arte com este instrumento e os avanços tecnológicos contínuos nesse campo proporcionaram novas formas inesperadas de o fazer. Ainda assim, a história da fotografia enquanto arte evoluiu de forma independente e paralela à história da pintura. O receio do contacto entre as duas era enorme, as lutas por vezes desagradáveis e uma reconciliação parecia quase impossível.

Surgiu então um diálogo que constitui, sem dúvida, um dos pontos mais importantes da cultura visual do século XX. Não se trata apenas de uma questão de reconhecer a fotografia como arte, mas de terminar definitivamente com as fronteiras entre a fotografia e as artes criativas.

Com o tempo, a fotografia conseguiu reconhecimento por parte do público. Os grandes fotógrafos fizeram sucesso com as suas pequenas imagens a preto e branco. Estilos diversos expandiram as possibilidades neste campo. No final, a fotografia tornou-se uma componente significativa da nossa cultura.

Pode-se concluir que este fotógrafo apresentado na exposição: ” A Jornada Monumental: Os Daguerreótipos de Girault de Prangey”, deve ser comparados como todos os outros artistas que souberam utilizar a máquina fotográfica não como um mero auxiliar técnico para criar imagens inesquecíveis, mas para se tornarem parte integrante do nosso imaginário.

Esta mostra é um testemunho da riqueza da imagem fotográfica, da criatividade deste fotógrafo, que “de máquina nas mãos” nos leva constantemente em novas viagens de descoberta. A sua experiência artística constitui um enriquecimento para o nosso quotidiano.

 

Theresa Bêco de Lobo

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