
Educação I “O Natal, uma oportunidade para educar?
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Por estes dias, as ruas enchem-se de brilho e festa, as lojas de olhos angustiados procurando o presente ideal, os serões de discussões à volta de pedidos e exigências, amuos e chantagens emocionais.
O Natal, época que reacende nos mais velhos a memória do doce cheiro das rabanadas, o aconchego das casas cheias, as vozes queridas que povoavam as consoadas da infância, anda um bocado desfasado do seu propósito, mas a culpa não será da celebração do nascimento de Cristo. A culpa é de quem vive o Natal como se o apocalipse fosse no dia seguinte.
Curiosamente ouve-se em conversas de circunstância, quer seja o encontro apressado no meio da louca fúria das compras, seja enquanto se engana o cansaço com um café, ou num jantar de amigos, o mesmo desabafo e as mesmas críticas. Todos reconhecem a adesão condenável a uma cultura consumista, reveladora de um comportamento compulsivo, do deitar fora o que ainda está bom para substituir pelo último grito de qualquer coisa, porque essa “qualquer coisa” tem que ser a novidade mais extraordinária que se possa ostentar.
Pessoalmente não conheço ninguém que não critique o consumismo excessivo que se vive no período que antecede o Natal. E no entanto poucos são os que conheço que vivem a época fiéis à sua essência e sentindo-a como oportunidade de fortalecer laços familiares, de amizade e solidariedade.
Um dos aspectos mais preocupantes desta forma fútil com que se celebra uma das épocas mais carregadas de simbolismo humanista, diz respeito à mensagem que se transmite aos mais novos. Nesta altura o registo comportamental comum à maioria das famílias é o de atenderem aos pedidos caprichosos dos filhos ao mesmo tempo que vão simulando a doutrinação que sentem ter que fazer e por isso lá vão avisando que “isto não pode ser, temos que ser mais poupados, ainda te comprámos um telemóvel há tão pouco tempo, o dinheiro não dá para tudo, tens que aprender a ser responsável...”.
A pergunta que se impõe, naturalmente, é a de saber quem é a criança ou adolescente que dará crédito a uma orientação ou admoestação vinda dos pais quando os vê a descartarem-se facilmente o que ainda é prestável? Pelos maus exemplos praticados, os pais tornam-se muitas vezes na personificação da máxima “faz o que eu digo não faças o que eu faço”?. E quem será o adolescente que ouvirá com consciência o que lhe dizem quando, e apesar do ralhete ouvido (será que o ouvem?), acabam por receber o que, exigiram?
A época do Natal é uma altura perfeita para colocarmos em prática um dos eixos educativos mais importante: a valorização do Ser” em detrimento do “Ter”. Uma aprendizagem que se pode realizar com a opção, para brindes de Natal, por uma partilha de lembranças realizadas em família, como um poema, uma pintura, uma peça de barro, um doce caseiro, uma vela ou moldura decorada, um álbum surpresa com fotografias selecionadas das milhares que se tiram no telemóvel e acabam por ficar quase esquecidas. E é claro que oferecer um livro ou ago de verdadeiramente necessário também não deve ficar banido, mas atenção aos sinais de euforia desmesurada.
Por fim esta é uma época em que os jovens que apresentaram resultados escolares insatisfatórios, e que tenham sido fruto do seu fraco empenho, incumprimento das responsabilidades escolares e fraca resiliência, devem sentir as devidas consequências. Oferecer o último modelo seja lá do que for depois de um primeiro período lectivo em que o jovem julgou ainda estar a viver o mês de Agosto, não é seguramente a melhor estratégia educativa nem será o prenúncio de alguma mudança de comportamento do jovem.
Por fim, querems desejar a todos um Feliz Natal embrulhado em açúcar, ternura e muito amor sem esquecer nunca que amar é muitas vezes saber dizer Não!
Ana Paula Timóteo