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Mosteiro dos Jerónimos

A história de um monumento declarado por Dom Manuel como panteão da dinastia Manuelina

Fachada principal do Mosteiro dos Jerónimos

Pormenor do Pórtico principal do Mosteiro dos Jerónimos após as recentes obras de restauro

Pormenor do Pórtico principal do Mosteiro dos Jerónimos após as recentes obras de restauro

Aspectos arquitectónicos da fachada principal do Mosteiro dos Jerónimos

Aspectos arquitectónicos das torres do Mosteiro dos Jerónimos

Torre sineira do Mosteiro dos Jerónimos

Pormenores arquitectónicos da fachada principal do Mosteiro dos Jerónimos

Pormenores arquitectónicos da fachada principal do Mosteiro dos Jerónimos

Pormenores arquitectónicos da fachada principal do Mosteiro dos Jerónimos

Vitral dos Jerónimos visto do interior, vendo-se na base as armas de Portugal

Nave principal dos Jerónimos

fronte jer

Altar-mor do Mosteiro dos Jerónimos vendo-se o imponente sacrário renascentista, salvo no séc. XIX por D. Fernando, marida da rainha D. Maria II, o qual já se encontrava na Casa da Moeda para ser derretido.

Aspecto parcial das nervuras do tecto do Mosteiro dos Jerónimos

Aspecto parcial do lado esquerdo do altar-mor, onde se encontram vários túmulos maneiristas, como, por exemplo, o de D.Manuel I assente em dois elefantes.

Túmulo estilo manuelino de Vasco da Gama com figura jacente

Panorâmica geral do Mosteiro dos Jerónimos, agora repartido pelos Museus da Marinha e de Arqueologia.

Custódia de Belém, obra-prima da ourivesaria portuguesa - patente aos visitantes do Museu Nacional de Arte Antiga. Foto: Cortesia do MNAA

Os jerónimos resistiram ao longo dos séculos a terramotos, a vandalismos e a restauros de critério duvidoso. Agora começa a recuperar, aos poucos, o aspecto que teria em 1518.

O claustro foi limpo de camadas de sujidades e de improvisados remendos de cimento. O portal principal foi limpo e restaurado. A cobertura foi beneficiada. Os vitrais (da autoria de Abel Manta) foram recuperados, o cadeiral e a sacristia foram intervencionados preservando um imponente arcaz em pau-santo e preciosas pinturas maneiristas.

O altar-mor da igreja, obra-prima de Lourenço de Salzedas, foi restaurado e limpo. O retábulo, dedicado à Paixão de Cristo, fora objecto, ao longo dos tempo, de repintes que o desvirtuaram e enegreceram. Originalmente composto por seis telas (uma delas foi sacrificada para colocar o sacrário, obra-prima em prata dourada seiscentista) apresentando actualmente o seu esplendor original. A história do Mosteiro dos Jerónimos é de tal modo impressionante que basta recordar que foi graças a D. Fernando II, marido de D. Maria II que o sacrário foi salvo de ser derretido. Foi D. Fernando, uma personalidade de grande cultura e sensibilidade quem salvou o sacrário, pois o mesmo já estava na Casa da Moeda para ser feito em barras de prata. Custa a acreditar em tanta ignorância. Mas, não resta qualquer dúvida: sem a rápida intervenção de D. Fernando não haveria aquele fabuloso sacrário.

 

Santa Maria de Belém

O mosteiro foi construído para homenagear o feito dos Descobrimentos, visando ainda perpetuar a Dinastia Manuelina.

Na verdade, nele encontram-se sepultados, em imponentes túmulos de mármore, suportados por elefantes, os Reis D. Manuel, D. João III e D. Sebastião. Os restos deste último foram depositados no monumento numa derradeira tentativa de Filipe II acabar com o mito do seu regresso. A função mortuária do monumento seria retomada no liberalismo, quando foi elevado a panteão. Nos 100 anos seguintes recebeu as cinzas de navegadores, poetas, escritores e presidentes da República. Destes últimos, grande parte foi transferida, em 1966, para a Igreja de Santa Engrácia. Em Belém repousam actualmente Vasco da Gama, Luís de Camões, Alexandre Herculano e Fernando Pessoa.

 

Espólio disperso

O vasto acervo da casa-conventual desapareceu ou dispersou-se após a extinção das ordens religiosas em 1833.

Na igreja, a imagem gótica de Nossa Senhora de Belém, na qual Vasco da Gama orou antes de partir para a Índia, foi roubada em 1997, não havendo dados do seu paradeiro. Por sua vez, uma escultura dos Della Robbia representando Santo António, oferecida pelo Papa Júlio III a D. Manuel, partiu-se. Hoje, resta apenas a parte superior. Do imponente cadeiral em carvalho, datado de 1551, considerado um dos 50 melhores móveis portugueses, restam 60 cadeiras das originais 84. Dos 16 retratos de Apóstolos que o encimavam desapareceram São Paulo, São Tiago, São Pedro e Santo André.

O imponente órgão joanino foi desmontado e desapareceu.

Outras peças, retiradas do Mosteiro, tiveram, no entanto, melhor sorte. O Museu de Arte Antiga guarda paramentos quinhentistas florentinos, a célebre Custodia de Belém, obra-prima da ourivesaria portuguesa atribuída a Gil Vicente, e as esculturas representando São Leonardo e Nossa Senhora das Estrelas de Andrea Della Robbia.

A Torre do Tombo preserva, por sua vez, a Bíblia dos Jerónimos, obra-prima da iluminura executada em Florença entre 1494-97. A sua beleza e valor seduziu o general Junot que a levou para França. Mais tarde, no reinado de D. Maria II, o estado português adquiriu-a aos descendentes do militar francês, mas as suas encadernações desapareceram.

A valiosa biblioteca dos frades foi desbaratada, preservando-se escassos volumes na Biblioteca Nacional.

Uma rara tapeçaria flamenga, encomenda por Dom Manuel, encontra-se no Museum of Fine Arts de Boston.

A pinacoteca espalhou-se por museus, igrejas e colecções privadas. Os retratos reais (Dom Afonso Henriques a Dom Pedro IV) preservam-se nos museus dos Coches e da Casa Pia e diversas pinturas religiosas na Igreja Matriz de Monge.

 

Interior desvirtuado

Os espaços interiores do mosteiro foram desvirtuados após a extinção das ordens religiosas. Das celas dos monges e capelas anexas nada resta. A célebre Sala dos Reis foi desfeita, o precioso tecto encontra-se actualmente no Palácio das Necessidades.

O Mosteiro dos Jerónimos não foi mais destruído graças a ter servido, após 1833, de sede da Casa Pia. Os claustros foram adaptados a dormitório, a sala do refeitório servia de local de refeições, enquanto as aulas eram dadas em espaços adaptados. Os jovens divertiam-se, segundo relatos da época, em brincar com a biblioteca monacal amontoada no antigo coro da igreja.

Em 1867 o Estado encarrega os cenógrafos italianos Cinatti e Rambois de restaurar o mosteiro. A fachada principal e coroada por minaretes de estilo árabe e uma grandiosa torre de estilo manuelino. Na década seguinte, desabou "escarrapachando-se como um monumento feito de ovos e açúcar numa confeitaria da Baixa", escreveu-se num jornal da época.

O mosteiro ficou com um aspecto desolador durante décadas. A primeira metade do século XX foi marcada por obras de recuperação e reconstrução. A fachada voltada ao Tejo é completada e nivelada, retirando-se as fantasias oitocentistas.

A Casa Pia abandona o edifício, encontrando-se actualmente os Jerónimos divididos por diversas instituições - museus de Arqueologia e Marinha, Igreja, e zonas do claustro, coro alto e algumas dependências.

Da vasta cerca nada resta, o espaço deu origem a arruamentos, ao Bairro do Restelo, aos anexos do Museu de Marinha e as instalações da Casa Pia. 

Com mais de 500 anos, o Mosteiro dos Jerónimos é um símbolo das navegações, e uma síntese da alma, do mistério, da crença, da utopia, da ousadia dos portugueses.

António Brás

 

Fotos: José Luís Teixeira

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