
Dulce Roselló I Guardadora de Luz










No espaço atmosfera do Montepio Geral, a artista moveu-se no dia da inauguração como uma guardiã secreta e luminosa, de palavras percorridas por afectos e emoções irrecusáveis.
“Os meus trabalhos tocam muito os que os veem”, confidenciou-nos. “As pessoas vêm falar-me, confessando que se identificam com ele, tocam-me, prendem-me, é muito gratificante esse reconhecimento.”
Fascínio pelo têxtil
Dulce Roselló teve uma vida cheia em Angola e em Portugal. Empresária de sucesso (recomeçado duas vezes), ultrapassou a descolonização e o incêndio do Chiado, que significaram a perda de décadas de esforço e criação.
O têxtil tornou-se-lhe uma paixão irrecusável na vida. Ao retirar-se da sua empresa familiar decidiu, com 83 anos, dedicar-se exclusivamente ao patchworkmoderno, arte que descobriu numa exposição em Barcelona em 2010. Inovou-o, dando-lhe nos últimos anos interpretações de grande originalidade.
Detentora de um talento raro, rapidamente se situou numa linha cimeira do sector, tendo vindo a internacionalizar-se cada vez mais. E cada vez mais, também, as pessoas acorrem a vê-la, a elogiá-la pelos locais onde expõe.
“Sinto-me uma pessoa privilegiada. Consigo ter tempo, espaço e uma situação que me permite fazer o que gosto”, destacou-nos.
Imaginação trasbordante
A artista cria hoje painéis de grande pujança, com uma estética onde mistura, de maneira singular, temas, técnicas, materiais, tintas, têxteis e “nonwovens”,utilizando invariavelmente matérias de qualidade superior, como, entre outras, sedas selvagens, algodões, organzas. As suas combinações, aliadas a uma imaginação transbordante, revelam-se surpreendentes.
A artista demorou anos a encontrar uma linguagem e a aperfeiçoa-la. “Gosto de me deslumbrar, de me surpreender a mim própria. Repetir formas é morrer um pouco. Cada trabalho é um espaço criativo, um desafio constante. Gosto de diversificar-me, de aprender e de enfrentar desafios”.
Os painéis de Dulce Roselló afastam-se radicalmente do formal e do ornamental, vivem de emoções, de dinâmicas excepcionalmente criativas, e luminosas. Os amigos chamam-lhe, aliás, “Guardadora de Luz”.
Ela sente-se feliz quando, confidencia, trabalha durante horas, solitária no seu atelier - o seu universo. Prefiro o dia e o silêncio. “Gosto da cor, ela esta dentro de mim”.
Dulce Roselló tem, no entanto, uma vida cheia, o filho, a neta e a irmã preenchem-lhe, a par da arte, todo o tempo, como se fosse uma intermediária entre o sagrado (o talento) e o humano (o afecto).
António Brás
Reconhecimento
2014 – Exposição na Galeria Ler Devagar (Lx Factory)
2015 – Apresenta o seu trabalho na conferência “ForAge for later-life learning”
2016 – Obtém a certificação de formadora oficial “Sulky USA”
2017 – Em Fevereiro inaugura a exposição de arte têxtil “Vertigo”, espaço atmosfera m do Montepio Geral, Lisboa, e em Novembro no espaço atmosfera m, Porto
2018 – Ano de muito trabalho, Dulce Roselló inicia uma nova vertente criativa
2018 – Uma obra de sua autoria, “Oriente Ocidente”, foi selecionada para a exposição do Festival Internacional de Tatchwork em Sitges.
A revista da Associación Espanola de Patchwork publica um extenso artigo sobre o seu trabalho
2019 – Exposição no espaço atmosfera m, Lisboa, inaugurada a 23 de Novembro com grande afluência de público. O catálogo tem diversas obras reproduzidas com estruturadas legendas, as luminosas fotografias são de Tiago Costa, e o criativo grafismo é de José Luís Teixeira
Palavras de Theresa Lobo
Na inauguração da exposição, Theresa Lobo, professora universitária, pintora e jornalista da revista Moda@Moda, divulou um texto onde evocou a importância da arte do Patchwork, surgida no século XVIII nos Estados Unidos, e que tem em Dulce Roselló uma exímia criativa. Nesse texto sublinhou a ideia de Marionela Gusmão, directora da revista Moda@Moda, a que o ICEP organize uma grande exposição nos Estados Unidos de Dulce Roselló.
Theresa Lobo, detentora de dupla nacionalidade portuguesa-americana, por descender de portugueses que se instalaram em Nova Iorque, falou apaixonadamente da arte do patchwork e da sua importância na América - onde foi inventada pelos desfavorecidos pioneiros. Destacou especialmente que a “arte de Dulce Roselló, deixa-nos maravilhados pois apresenta novas técnicas numa abordagem inovadora em que a cor é um elogio à juventude criativa da Artista, sobre uma composição bem estruturada que resulta em imagens visuais de grande valor plástico e grande qualidade pictórica”.
Ao terminar sublinhou que o “seu trabalho fez com que ficássemos atraídos por estas maravilhosas composições artísticas – a da grande mestre da Arte Textil, Dulce Roselló”.