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Educação I A importância de contemplar

Agora que chegaram as tão aguardadas férias, é tempo de experienciar o que durante um ano não se teve oportunidade de o fazer e uma das actividades mais adiadas e que ao longo da vida menos dedicação tem da nossa parte é o simples acto de contemplar, alimento do pensamento.

Parar e olhar em volta e em frente. Prender a observação e descobrir pormenores, movimentos, nuances que de outra forma passariam despercebidos. Fechar os olhos e saborear os sons e os aromas. Deixarmos que o espaço e o tempo se fundam e entrem na alma de mansinho. Aproveitar esses momentos para abrir os silêncios que nos habitam e lembrar o que temos guardado com cânfora num canto da memória. Nesta época em que a família está junta num tempo alargado, abre-se uma oportunidade de poder integrar os filhos numa rotina de férias diferente, de pulsação branda, como se de um jogo se tratasse e uma viagem onde cada um pode partilhar o que viu, sentiu, pensou. Quantas vezes o tempo de férias fica maculado com a pressa que abre o caminho à discórdia e à discussão? 

Pensar! Pensar, apenas. sem pressa nem estímulos discordantes é um exercício que nos beneficia porque promove o autocontrolo e nos permite aprofundar o conhecimento acerca da pessoa que mais tempo vive connosco: Nós próprios. Poucas vezes conseguimos entabular uma conversa a sós com este nosso “eu” sem que inúmeras preocupações, umas comezinhas outras nem tanto, nos atormentem e  atropelem aquela que devia ser uma prática diária de reflexão sobre o dia, sobre o momento que vivemos. E esta é uma prática que raramente se promove verdadeiramente nas crianças e jovens. Mesmo quando lhes atiramos a frase mais repetida ao longo de todo o crescimento deles “Já pensaste bem no que fizeste?, o verbo surge invariavelmente no pretérito porque no presente ele não é aplicado nem ensinamos a acção de reflectir. E ensinar não ´apenas accionado com o imperativo “PENSA!”. Há estratégias que ajudam a adquirir a capacidade de reflexão e a desenvolvê-la. E tantos os pais como os filhos necessitam de consolidar ou aprender a fazê-lo porque dessa aprendizagem nasce um ambiente familiar mais fluido e tranquilo além de optimizar as actividades de formação intelectual.

Aproveitar os dias de descompressão para nos libertarmos de mecanismos electrónicos plenos de aplicativos e de uma série de funcionalidades que nos consomem tempo e energia, deve ser encarado como uma terapia de renovação interior e isso deve ser assumido como prioritário nos planos de férias, nas rotinas deste novo calendário. Integrar as crianças e jovens neste conceito pode ser um desafio difícil ou fácil, dependendo do grau de dependência que se terá desenvolvido e também por isso esta será uma oportunidade para testar até onde as nossas crianças estão viciadas em telemóveis, jogos electrónicos, televisão.

As férias são um pretexto ideal para educar o gosto. O gosto pelo conhecimento através das viagens que fazemos. Mas também são o incentivo à descoberta do enorme prazer que é sentarmo-nos sem relógio na alma e deixarmos que os olhos nos tragam o mundo para dentro de nós. Porque aprendemos se apreendermos o que observamos.

As crianças e os jovens necessitam tremendamente desse exercício. Habituados a uma dinâmica frenética não apenas da que decorre naturalmente do cumprimento dos vários horários que marcam a vida numa família, como do ritmo que os diversos estímulos que os rodeiam lhes impõem, as crianças não aprendem a saber parar, suster e respirar. A acrescentar ao horário escolar e tarefas a realizar fora do contexto de aula, há ainda as actividades extracurriculares, as salas de apoio, e, em casa, o jovem transita entre o comando da televisão, o/os telemóveis, o computador pleno de jogos, as conversas nas redes sociais, as mensagens privadas, a divagação pelo Youtube...

Parar e saber escutar e aprender a apreciar o lugar e  momento em que estamos é uma forma de exercitar a capacidade de concentração essencial a uma aprendizagem com sucesso e feliz.

 

Boas férias e felizes momentos de contemplação em família

 

PS: Quanto à aquisição de materiais escolares, aguardem indicações dos professores e optem sempre pela relação preço/qualidade/peso e efectiva necessidade e não porque é o modelo estético mais atraente ou porque o aluno diz que é essencial. O peso excessivo dentro das mochilas resulta muitas vezes de más opções de compra

Ana Paula Timóteo

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