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Um príncipe nos Açores I Uma exposição no Museu de Marinha

Alberto do Mónaco a bordo de um dos seus navios

Hirondelle, iate de Alberto do Mónaco, em aguarela de D. Carlos.

D. Carlos a bordo do iate Amélia-

Material oceanográfico oitocentista.

Peixes recolhidos por D. Carlos.

Papagaios do mar.

Diário-naútico de D. Carlos.

Uma exposição no Museu de Marinha, em Lisboa, evoca as pesquisas oceanográficas do Príncipe Alberto do Mónaco, bem como a relação de amizade com D. Carlos.

No mês de Agosto de 1894, um acontecimento ocorrido nos mares dos Açores passa completamente desapercebido do mundo da ciência: o príncipe reinante de Mónaco, Alberto Grimaldi, realiza a sua anual campanha oceanográfica ao largo de São Miguel. Antes, porém, fez uma breve escala em Lisboa onde os reis D. Carlos e D. Amélia lhe oferecem uma recepção no Palácio da Pena, em Sintra.

Ambos os monarcas tem a paixão pelo mar, fazem desportos ao ar livre e seguem os progressos da ciência.

Alberto do Mónaco era já considerado um importante cientista – pelos seus estudos sobre as profundezas dos mares – então ainda mal conhecidos. O seu iate estava equipado com os melhores instrumentos e aparelhos que permitiam efectuar colheitas de fauna marítima a mais de 5000 metros de profundidade. As quatro embarcações que o soberano possuiu ao longo de trinta anos deram um contributo fundamental para o incremento e expansão das ciências marítimas.

Alberto gostava especialmente de trabalhar nos Açores, certamente o seu local predilecto, que ai realizou onze campanhas oceanográficas. A fauna era rica e pouco conhecida, a localização do arquipélago permitiam-lhe encontrar sempre um local de abrigo para as tempestades e os habitantes eram amáveis.

Conhece Ponta Delgada

O príncipe desembarca pela primeira vez em Ponta Delgada em 1879. Na cidade é recebido pelas autoridades e vai conhecer os principais locais da ilha. Um dos locais que mais o atraiu foi o jardim de José do Canto – um relevante parque botânico que possuía cerca de cinco mil espécies. Trava conhecimento nessa altura com o coronel açoriano Francisco Afonso Chaves que era, segundo as suas palavras, “um jovem oficial muito competente em ciências naturais”, que virá a tornar – se seu amigo e colaborador.

O monarca teve uma grande influência, embora indirecta, na criação em 1880 do Museu de História Natural de Ponta Delgada. A instituição, actualmente baptizada com o nome de Carlos Machado, guarda um núcleo precioso de peixes, mamíferos e crustáceos que reflectem a riqueza marítima do oceano Atlântico.

Amigo de D. Carlos

As actividades oceanográficas do príncipe do Mónaco viriam a influenciar o Rei D. Carlos que desejou ter protagonismo nessa área. Os dois monarcas tornam – se amigos, passam a trocar correspondência regular e o Rei português equipa o seu iate “Amélia” com inovador laboratório. Todos os anos realiza pesquisas oceanográficas ao longo do Atlântico, fazendo notáveis investigações que levam à descoberta de inúmeras espécies. Esse espolio conserva – se actualmente no Aquário Vasco da Gama, em Lisboa, encontrando – se grande parte em exposição, outra parte nas reservas. Na biblioteca guarda – se o valioso diário marítimo de D. Carlos, bem como aguarelas e fotografias de espécies recolhidas.

Ao longo de décadas D. Carlos e Alberto do Mónaco lançaram, sem o saber, as bases do estudo das profundezas dos oceanos.

António Brás

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