
Fábrica de Sacavém I Um novo Museu
![]() A secção de estamparia uma das mais tradicionais da Fábrica. Apresentou sempre uma maioria de operárias. Centro de documentação Manuel Joaquim Afonso, Museu de Cerâmica. | ![]() A enforna do forno-túnel nº2 (loiça doméstica) | ![]() Jorge Colaço, foi sem dúvida. Um dos maiores pintores cerâmicos que deram nome à produção da Fábrica da Louça de Sacavém. Pormenor do Palace Hotel do Bussaco |
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![]() Azeitoneira Faiança Fábrica de Sacavém Séc. XIX (1856-1861) Comp. 220 mm Larg. 140 mm Doação de Obriverca Marca estampada: M.J.A. Fábrica de Sacavém (a azul) | ![]() Compoteira Faiança Fábrica de Sacavém Séc. XIX (1856-1861) Alt. 160 mm Diâm. c/pegas 180 mm Doação de Obriverca Marca estampada: M.J.A. Fábrica de Sacavém (a azul) | ![]() Prato Coberto Faiança Fábrica de Sacavém Séc. XIX (1856-1861) Alt. 80 mm Doação de Obriverca Marca estampada: Fábrica de Sacavém (a castanho) |
![]() Chávena de caldo para doentes Faiança Fábrica de Sacavém Séc. XIX (1870-1880) Alt. 75 mm Diâm. 140 mm Doação de Obriverca Marca estampada: Fábrica de Louça de Sacavém (a verde) | ![]() Prato Decorativo Faiança Fábrica de Sacavém Séc. XIX (1886-1887) Diâm. 300 mm Doação de Obriverca Marca relevada: Coroa a encimar “Sacavém” | ![]() Terrina Faiança Fábrica de Sacavém Séc. XIX (1886-1894) Alt. c/tampa 160 mm Larg. 220 mm Doação de Obriverca Marca estampada: Real Fábrica de Sacavém (a castanho) Motivo: “Mertz” |
![]() Prato Faiança Fábrica de Sacavém Séc. XIX (1886-1894) Diâm. 210 mm Doação de Obriverca Marca estampada: Real Fábrica de Sacavém – B.H.S. & C.ª (a preto) | ![]() Caneca Faiança Fábrica de Sacavém Séc. XIX (1902/4-1970) Alt. 85 mm Diâm. Base 65 mm Doação de Obriverca Marca estampada: Gilman & C.ª (a verde) | ![]() Prato Faiança Fábrica de Sacavém Séc. XIX (1970-1972) Diâm. 190 mm Doação de Obriverca Marca estampada: “S” estilizado |
![]() Placa Cerâmica Decorativa Faiança Fábrica de Sacavém 3-7-1934 Título: “Pastora” Autor: Álvaro Mendes Alves (Alvão) Comp. 303 mm Larg. 213 mm Doação de Obriverca S/ marca |
Três décadas após o seu encerramento, por falência, a Fábrica de Sacavém, em Loures, encontra-se perpetuada no Museu de Cerâmica de Sacavém – onde foi recolhido o valioso espólio da actividade fabril. Através dele podemos observar as diversas fases da unidade – bem documentadas ao nível da cerâmica e do arquivo.
Aquisições e doações permitiram que o acervo cerâmico tenha mais de 10 mil peças. O arquivo possui o espólio documental – no qual se destacam, por exemplo, desenhos de Lourdes Castro e Eduardo Nery, entre outros artistas.
A franca colaboração com o derradeiro proprietário da fábrica, Clive Gilbert, revelou-se fundamental, bem como as doações e os testemunhos de antigos operários.
A chamada Fábrica de Sacavém pode incluir-se na industrialização do nosso País em 1800, tornando aquela manufactura uma referência na história da cerâmica nacional. O período seu funcionamento, 1861 a 1989, marcou, com efeito, a renovação do sector, através de peças, por vezes, de invulgar qualidade – influenciadas, em determinados momentos, pela faiança inglesa.
Na sua primeira fase, a fábrica, fundada e dirigida por Manuel Joaquim Afonso, produziu peças hoje relativamente escassas. Foi instalada em 1856 na Quinta dos Coruchéus, onde ficaria para sempre. Os vestígios do palacete oitocentistas acabariam por integrar-se na própria estrutura fabril, vindo a ser demolidos no final do século XX.
Por questões de ordem material, a fábrica é vendida, em 1861, a John Stott Howorth – empresário que, juntamente com o irmão, William, era conhecido pelos negócios nas áreas dos caminho-de-ferro e em maquinaria agrícola.
O novo proprietário, profundo conhecedor da produção de faiança inglesa, acaba por importar estampas, sabão, pincéis, cores, barro e mão-de-obra do Reino Unido.
Nesta fase a fábrica produz louça utilitária, tornando-se um polo de desenvolvimento da aldeia de Sacavém. O esforço é compensado pelo Rei D. Luís que eleva John Stott a Barão Haworth de Sacavém, e a manufactura a Real Fábrica de Sacavém. Desta época datam a encomenda de dezenas de serviços para famílias nobres caso dos Marqueses da Foz, dos Condes de São Payo, dos Viscondes de Monção e dos Viscondes de Loureiro.
A casa-real encomenda diversos serviços, conhecendo-se exemplares estampilhados com as armas de D. Fernando, Dom Luís e Dom Carlos, na actualidade espalhados pelos palácios de Mafra e Vila Viçosa.
Esta fase é, ainda, marcada pela fábrica cozer pratos pintados por D. Fernando, D. Luís, D. Maria Pia e D. Carlos – hoje preservados nos palácios da Pena e da Ajuda.
John Stott Howorth morre em 1889, e a empresa fica entregue a uma sociedade detida pela viúva e por James Gilman, antigo guarda-livros, que se torna proprietário da mesma em 1909.
Nova fase
James Gilman moderniza a fábrica e aumenta a sua produção com novos fornos e paralelamente cria uma rede de distribuidores. Rapidamente a manufactura torna-se uma mega-estrutura. Nela são produzidas loiças domésticas e sanitárias, azulejos, mosaicos, material de hospital e de farmácia.
O Estado encomenda azulejos pintados por Jorge Colaço para decorar estações de comboio e o Palácio do Buçaco. Privados decoram as suas casas com azulejaria adaptada aos novos tempos.
Nas famílias de menos recursos abre-se a tradição de possuir serviços, chamados de cavalinho pela sua decoração, produzidos em Sacavém.
Os proprietários seguintes, Raul, Herbert, Leland e Clive Gilman, tornam a fábrica um vultuoso império. Parte da produção é exportada.
Emprega um número elevado de operários e torna-se uma referência da vila de Sacavém.
As preocupações sociais não são esquecidas. É construído um refeitório e as actividades desportivas são dinamizadas. Outro aspecto a destacar é a edificação de um bairro de moradias para os operários.
A fábrica na sua ânsia de crescimento , acaba, no entanto, por descurar a qualidade.
Fase final
A última fase da manufactura decorre a partir de 1962, sob a direcção de Leland Gilman que faz grandes investimentos na loiça decorativa. Nessa década, Clive Gilman aposta no design, na publicidade, numa tentativa de manter e diversificar a produção.
A década seguinte, marcada pela repentina crise do petróleo, acaba por enfraquecer a fábrica que tentara modernizar-se e adaptar-se aos novos tempos.
As dificuldades económicas são constantes a partir de 1974, acabando por falir em 1986.
A secular manufactura mantem-se em actividade até 1992 devido ao esforço de alguns operários.
O fim acaba por chegar em 1994, neste ano é leiloada a maquinaria e, no ano seguinte, os terrenos.
O município consegue como contrapartida da sua urbanização, a salvaguarda do forno 18 e a construção de um edifício para albergar o Museu de Cerâmica de Sacavém.
A instituição conseguiu salvaguardar parte do arquivo, bem como o espólio cerâmico. Diversas aquisições e doação permitem ter um acervo que abrange toda a produção fabril.
O registo sonoro de testemunhos de antigos operários revelou-se fundamental para conhecer a vida e o trabalho na fábrica.
O museu desenvolve uma actividade de grande dinamismo com exposições temáticas que revelam a inovação e o modernismo que caracterizam a unidade industrial.
António Brás