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Traje Popular Português 

Traje de lavradoras de Portuzelo

Traje de Viana do Castelo

Traje do Douro

Pauliteiro de Miranda

Capa de Honra

Tricana de Coimbra

Roupa do Campinos

Traje de Saloios

Indumentária do Algarve

O estudo da indumentária quotidiana do povo português é ainda um tema relativamente pouco estudado a nível etnográfico e científico. 

As chamadas roupas populares são hoje usadas por pessoas muito idosas e pelos ranchos folclóricos. Estes têm, aliás, o mérito de preservar e revelar roupas antigas – mas de maneira desnivelada onde predomina um floclorismo estilizado e muitas vezes falseado.

Infelizmente em muitas destas recolhas, efectuadas por sociedades recreativas, grupos folclóricos e autarquias, raramente se preservou com fidelidade a indumentária ou os processos manuais de fiação e tecelagem.

O vestuário tradicional costuma ser ainda usado por pessoas idosas, que acabam por lhe introduzir linhas e tecidos estranhos, adquiridos normalmente em feiras e em lojas tradicionais. 

Das roupas antigas, usam o chapéu, o lenço de cabeça, ou de ombros, o xaile, a blusa, o avental, a jaleca e o capote.

A tradição secular de produção de tecidos e confecção das roupas ficou irremediavelmente perdida. O seu declínio iniciou-se com a industrialização oitocentista e agravou-se quando da emigração massificada do campo para a capital e para o estrangeiro, a partir dos anos 60 do século XX. 

Esses factores, aliados a uma substancial melhoria das condições de vida e à expansão do pronto-a-vestir, levaram, no último meio século, ao fim do uso do traje popular português no quotidiano. A produção do linho, da seda esta praticamente extinta. A costureira que ia às casas mais abastadas confeccionar e remendar roupas desapareceu. 

Na actualidade o pronta-a-vestir invadiu os hábitos de consumo. As classes mais privilegiadas recorrem às roupas de estilista. Cerca de 300 pessoas em todo o mundo vestem alta costura. 

Os esforços do Estado-Novo para que se mantivesse a sua genuinidade do traje popular não resultaram.

Ao fundar o Verde Gaio, um grupo de bailado, o regime anterior vestiu frequentemente os bailarinos com roupas baseadas na indumentária ancestral do povo português. “Tanto António Ferro e Francis consideravam tratar-se de um conjunto de bailados folclóricos”, escreve Vitor Pavão dos Santos. O guarda-roupa do Verde Gaio, cerca de 150 trajes, foram transferidos em 1985 para o Museu do Teatro.

A colecçao de roupa tradicional, recolhida pela Mocidade Portuguesa,  constituído por cerca de 3000 trajes que se desdobram por cerca de 15 mil espécies, integra desde 1989 o acervo do Museu do Traje.

 

Recolhas preciosas

Paralelamente, os museus de etnografia têm feito, neste campo, recolhas preciosas, privilegiando, no entanto, o carácter folclórico ao científico. Entre os primeiros sobressaem os conjuntos do Museu de Arte Popular em Lisboa (inaugurado em 1948, sendo o espólio sido transferido em 2008 para o Museu Nacional de Etnologia), do Museu Nacional de Arqueologia (colecção de bonecas com trajes populares depositada no Museu do Traje), do Museu Joaquim Manso na Nazaré, do Museu Etnográfico do Traje Algarvio em São Brás de Alportel, do Museu de Etnografia e História da Póvoa de Varzim e no desactivado Museu de Etnografia e Historia do Douro Litoral no Porto (o espólio dispersou-se pelos museus de Olaria em Barcelos e Biscainhos em Braga) e o Museu Abade Baçal, em Bragança. Estas colecções resultam maioritariamente de doações, as aquisições são diminutas.

Nas últimas três décadas o traje popular começou a ser analisado à luz da moderna ciência etnográfica e científica.

Diversos museus como os dos museus do Traje de Viana do Castelo, Municipal de Santiago do Cacém, Nacional do Traje, Municipal de Loures e Terra de Miranda do Douro preservam já núcleos valiosos de têxteis populares. 

 

Fragilidade dos tecidos

A fragilidade dos tecidos não permite, porém, exposições alongadas, dado o risco da luz alterar as cores e fragilizar os tecidos.

Constata-se, porém, que pequenos museus deixam deteriorar as roupas por efeitos do sol, da humidade e do manuseamento indevido dos visitantes.

Em Portugal existem cerca de 220 museus dedicados totalmente ou parcialmente dedicados à etnografia. Muitas destas instituições estão dependentes de associações, recreativas, ranchos folclóricos e juntas de freguesia que não possuem condições económicas para preservar os espólios. 

Neste trabalho analisamos modelos do Norte, Centro e Sul do País. A sua bibliografia é, no entanto, relativamente escassa. 

A única biblioteca especializada é a do Museu Nacional do Traje, em Lisboa, que guarda igualmente, como já salientamos, núcleos de trajes populares. O núcleo de traje popular deste museu é relativamente escassa, destacando-se o núcleo da Mocidade portuguesa, algumas doações e raras aquisições. A colecção abrange apenas a primeira metade do século XX. As roupas anteriores ao século XX desapareceram por os tecidos (lã, algodão, flanela, linho) serem fracos, a roupa ser usada até ao fim e o melhor fato servir de mortalha. Por tradição as classes mais favorecidas  guardavam as roupas dos seus antepassados que resistiam ao tempo devido  à qualidade dos tecidos (destaca-se a seda) e ao acondicionamento em arcas, cómodas e armários. Isto permitiu que o Museu do Traje possua importante indumentária nobre dos séculos XVIII a XX.

O célebre loudel de D. João I, envergado pelo monarca na Batalha de Aljubarrota, é a mais antiga peça de traje existente entre nós. A peça, em lã, seda e linho, encontra-se exposta no Museu Alberto Sampaio, em Guimarães. O loudel foi restaurado em 1973 no Instituto José de Figueiredo, em Lisboa. 

No Museu de Arte Antiga expõe-se um Mitra do século XIV, em seda bordada a ouro, oriunda da Ermida de Paiva, em Castro d`Aire. É o têxtil religioso mais antigo existente em Portugal.

 

Diferenciadas regiões

Apesar da sua limitada dimensão, Portugal tem diferenciadas regiões geográficas, económicas e culturais. A sua cultura foi enriquecida, ao longo dos séculos, por uma complexa miscigenação étnica e diversa aculturação. Estes factores levaram a enormes variedades na maneira de vestir. 

Portugal pode orgulhar-se de ser um dos territórios europeus com maior riqueza de trajes populares.

As roupas de cada região exprimem o seu meio geográfico e humano. Os adornos reflectem os contactos culturais e comerciais estabelecidos entre diversas etnias. Neles destacam-se os cordões, as arrecadas, os brincos e os berloques usados pelas mulheres do norte como é o caso das mordomas e lavradoras de Viana desfilando com ouro em profusão pendurado ao pescoço. 

Como se depreende, o traje feminino é muito mais rico que o masculino. Aliás, a mulher afirmou-se sempre agarrada à terra e às tradições, enquanto o homem mostrou  preferências pela viagem e pela indústria.

 

Exemplares únicos

O traje mais marcante é o de noiva de Viana do Castelo quase todo preto, com saia rodada, corpete bordado pela cintura, em seda, lenço de mão, mantilha de renda e tule bordado, meias e chinelas de verniz também bordadas. Nele sobressai o uso de adornos em ouro e bordados em grande quantidade. O traje masculino de Viana do Castelo mostra-se menos original. As calças, a camisa e o colete são brancos, as boinas e a cinta vermelhas.

Nas zonas marítimas as roupas mostram-se harmoniosas, predominando o conhecido “padrão escocês”. Os homens vestem calções e camisas aos quadrados, barrete negro e, frequentemente, vistosas camisolas bordadas.

As mulheres apresentam saias escocesas pragueadas, sobre saias interiores com barras de renda, blusas e aventais bordados e um lenço ou pequeno chapéu de feltro. Esta indumentária é comum na Nazaré, Póvoa de Varzim e Vieira de Leiria. São, ainda, de sublinhar os capotes dos pescadores e as capas femininas. As viúvas vestem invariavelmente de negro.

As capas masculinas encontram-se por todo o País. As de honra em Trás-os-Montes, Beira Alta e Beira Baixa; as femininas, às riscas, na Beira Litoral. Há ainda os capotes do Alentejo, as capas de pastores da Beira Alta, as “coroças” (capas de palha) de Trás-os-Montes, do Minho e Beira Alta; e as capas de capuz das mulheres da Beira Alta.

Os trajes masculinos mais exuberantes são os dos campinos do Ribatejo. A sua roupa de festa inclui barrete verde, calção e jaleca verde, camisa branca, colete vermelho, meia branca até ao joelho, faixa vermelha e botões prateados com iniciais. Este vestuário é usado pelos forcados nas corridas de touros.

O traje feminino compõe-se de saia rodada garrida, com barras, blusa, avental e lenço colorida na cabeça.

 As indumentárias tradicionais do Alentejo, Algarve e Beira Baixa mostram-se bastante parecidas entre si. Apenas se diferenciam nos capotes masculinos alentejanos, nas capas femininas da Beira Baixa, nos chapéus sobre o lenço das algarvias e alentejanas, nos casacos curtos das alentejanas e no traje dos pescadores.

Os homens das referidas regiões usam calças compridas bocas de sino, cinta negra, camisa branca, colete de fantasia (ou igual à calça), jaleca curta e chapéu de feltro. Por vezes no Alentejo e na Beira Baixa, os pastores vestem no Inverno calça-avental e pelico (casaca  cortada na frente e caída atrás) em pele de ovelha e carneiro.

 Os trajes femininos do Douro são de grande beleza. Compõem-se de saia negra, rodada, com barras, corpete pela cintura (com mangas e fechado à frente), lenço sobre os ombros, pequeno chapéu sobre lenço caído e chinelas.

Um dos vestuários mais antigos e originais de Portugal é o dos pauliteiros de Miranda, que se compõe de chapéu largo, camisa bordada, colete, lenço franjado sobre os ombros (cruzado na frente), grande e ampla saia branca rodada, meias às riscas e botas. Este traje é de função e, como tal, apenas se usa em festas e romarias.

Alguns dos trajes populares encontram-se disponíveis em lojas de souveniers – quer em miniaturas de bonecas, quer em trajes, quer em peças isoladas, constituindo uma imagem sugestiva de um Portugal que vai desaparecendo.

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