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Rumos Ensemble I “Tocando Portugal”

Portugal é o lugar onde o nosso coração bate, a casa de todas as memórias, o cofre sagrado dos afectos. Estar longe do nosso país é sentir uma ausência galopante porque nos faltam as cores, a luz de Lisboa, as planícies do Alentejo, as praias de areias finas, as sombras das árvores, o murmúrio dos rios, os cheiros de uma gastronomia deliciosamente reconfortante que nos devolve a infância e nos eleva às nuvens.

Mas Portugal não é só o feitiço das suas paisagens e sabores únicos, é também a beleza dos seus poemas, os enredos em romance, o prodígio inventivo dos seus artistas. E é lamentável que nem sempre estejamos à altura do que de melhor se faz em Portugal com a nobreza de exaltarmos a nossa excelência. Quantas vezes a notoriedade chega só depois do que se alcançou fora de portas? E bem sabemos que a marginalidade geográfica de Portugal não favorece a divulgação da nossa arte além-fronteiras.

Mas há quem contrarie e leve o melhor de nós ao mundo.

Em 2015 surgiu um projecto distinto de tudo quanto alguma vez foi feito. Um trio formado por três professores da EMCN, a Anne Vitorino d’Almeida (violino), o João Vasco (piano) e o Luís Gomes (clarinete) começou a levar aos palcos do mundo um concerto multimédia onde a música tradicional, com arranjos musicais muito bem conseguidos, interage em diálogo poético com imagens de cada região captadas pelo pianista do trio. "Tocando Portugal" é seguramente uma experiência que nos toca profundamente e por isso o nome dado ao concerto é duplamente feliz.

Eu já tinha tido a grata oportunidade de assistir a uma das primeiras apresentações, logo no início desta aventura e, no passado dia 15 de Setembro, fui convidada a assistir, numa das salas do CCB ao 50º concerto. 50 concertos é, sem dúvida, um número redondo e muito respeitável de apresentações que conquistaram audiências em Portugal, Alemanha, França, Namíbia, África do Sul, Estados Unidos, Cuba, Suíça, Tunísia, Cabo Verde, Espanha, Dinamarca, Brasil, China, Bulgária e Grécia, numa fantástica viagem por 16 países.

Durante o concerto, dez regiões portuguesas são tocadas e reveladas diante o nosso olhar deslumbrado. O resultado é um bailado cénico onde a música a ajuda a redescobrir a beleza e a riqueza natural e arquitetónica do nosso país. Os depoimentos de personalidades naturais de cada região, como António Victorino d’Almeida, Graça Morais, Janita Salomé, Carlos Alberto Moniz, Rosa Mota ou Lídia Jorge são um elemento de ligação íntima e confidente com as regiões tornando-nos cúmplices dessas visões.

Ouvir e ver o nosso país pode mesmo ser avassalador.

Há uns anos, numa entrevista à X Pressing Music, portal do conhecimento musical, o trio falou da comoção com que as comunidades portuguesas estavam a receber este projecto acrescentando que “em Portugal, a emoção não foi menor, como se as pessoas sentissem saudades de onde estão, como se andássemos cegos no maravilhoso país em que vivemos e nos esquecessemos de olhar tudo o que há de tão belo mesmo à porta de nossas casas”.

E é exactamente isto que sentimos. De repente há um soluço que galopa dentro de nós porque cada frase, cada silêncio, cada suspensão no final de compasso, cada célula rítmica, tudo é um bailado virtuoso e perfeito que envolve as esquinas dos lugares, os trilhos das calçadas, o embalo do mar, as cicatrizes das casas, os pormenores da vida simples de todos os dias, a roupa estendida, os ninhos, as sombras da tarde, o movimento das gentes, o bulício das vilas e tanta, tanta emoção que aqui não cabe dizer porque as experiência boas não se descrevem, vivem-se.

E como só vivendo se sabe, fica o convite: sigam o Rumos Ensemble no Facebook para não perderem o próximo concerto. O CD, recentemente editado, infelizmente só está à venda nos locais de concerto.

 

 

                                                                                              Paula Timóteo

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