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Quinta do Vinagre I Fausto e Requinte

Panorâmica dos edifícios em L da Quinta do Vinagre. Fotos cedidas GG Photography

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Fotos de Paris cedidas pela Moda&Moda. (1987)

Fotos de Paris cedidas pela Moda&Moda. (1987)

Fotos de Paris cedidas pela Moda&Moda. (1987)

Fotos de Paris cedidas pela Moda&Moda. (1987)

Fotos de Paris cedidas pela Moda&Moda. (1987)

Fotos de Paris cedidas pela Moda&Moda. (1987)

Palco de acontecimentos faustosos e requintados, a Quinta do Vinagre, uma das mais emblemáticas casas-de-campo portuguesas, resistiu ao longo dos tempos a terramotos, abandonos e incêndios. Agora encontra-se no mercado imobiliário.


 

A Quinta do Vinagre, construída entre os séculos XVI e XVIII, foi adquirida em 1964 pelo casal Pierre e São Schlumberger, destinando-se a residência de Verão.

A família Schlumberger realiza grandes transformações: restaura e amplia o solar, reconstrói os jardins e aumenta a zona circundante que tem actualmente 42 hectares com vinhas e parques.

A casa foi mandada edificar por D. Fernando Coutinho, filho do camareiro-mor de D. João II, bispo de Lamego e de Silves, que institui o Morgadio do Vinagre. A sua herdeira, D. Isabel da Silva, casa com Rui Pereira da Silva, alcaide-mor de Silves. Em 1630 o morgadio é dissolvido e vendido a D. Gaspar de Sousa Lacerda da Silva, fidalgo da casa-real e comendador do hábito de Santiago. Esta família vai possuir a Quinta do Vinagre durante 300 anos, instituindo em 1730 o segundo morgadio, aliando-se por casamento a importantes casas nobres flamengas, escocesas e italianas.

As visitas reais sucedem-se, D. João V e a mulher D. Maria Ana, e D. Maria I, acompanhada pelo marido D. Pedro III, visitam a propriedade em 1708 e em 1777.

Em 1787, William Beckford conhece a quinta que o encanta. No seu célebre Diário descreve um “jardim ensombrado estende-se ao longo das margens de um ribeiro, no sopé de uma colina a pique, coberta de pinheiros, medronheiros e de grande variedade de arbustos odoríficos”.

A casa na época passava por grandes obras. Foi ampliada e engrandecida com terraços e grandes reservatórios de água.

O pátio, o solar desenvolve-se em L, cercado por uma galeria rústica de pedra, tem ao centro um tanque com dois leões de mármore segurando brasões, vestígios das obras primitivas.

A capela, transformada no século XVIII, mantêm azulejos rocaille e um retábulo com uma Pietá encimada por um Sagrado Coração, envoltos em talhas douradas neo-clássicas.

Fausto e declínio

A Quinta do Vinagre produz durante décadas o célebre vinho Colares Dique que era exportado para o Brasil.

Nos finais do século XIX, a Rainha D. Amélia visita inúmeras vezes a quinta e o açude inspira-lhe aguarelas, contando-se na família que era frequente, nas tardes de Verão, ouvir-se de repente a sua voz perguntando: “Morgadinha, dás-me merenda?”.

O Rei D. Carlos, que pintou uma vista da Quinta, chamava à proprietária D. Maria José Bandeira Dick a “morgada dos cabelos de ouro”.

Segundo relatos da época, o mansão guardava inúmeras preciosidades em móveis, porcelanas, pratas e têxteis.

A Senhora morre em 1932, aos 77 anos. A Quinta do Vinagre que se encontra hipotecada é herdada por duas sobrinhas que a vendem ao Estado.

A casa alberga de 1926 a 1938 uma instituição de crianças pobres.

A Quinta do Vinagre fica depois votada ao abandono.

Em 1940, o V Conde de Mafra, D. Francisco de Mello Breyner, e a mulher D. Maria Antónia Tedeschi, adquirem o solar muito degradado. O casal salva o solar e transformam-no em residência permanente até 1963.

Grandes obras

Pierre Schlumberger, cuja fortuna vinha de poços de petróleo em Houston, casara em 1961 com a portuguesa Maria da Conceição Diniz. O casal adquire a casa em 1964, iniciando grandes obras de ampliação e restauro dirigidas pelo arquitecto Pierre Barbe. Os trabalhos duram três anos e são executadas por duzentos operários.

As paredes são forradas a seda, os pavimentos revestidos a madeiras preciosas e mármores, os estuques são restaurados e são encomendados azulejos a Nuno de Siqueira. São abertos diversos salões decorados com inúmeras preciosidades, entre as quais pinturas de Picasso e Dubutett.. A casa tem 40 divisões, entre as quais 18 quartos. Os jardins são expandidos e decorados com esculturas de Henry Moore e Pimenta Beverly.

A diversidade e intensidade das festas dos Schlumberger tornaram a Quinta do Vinagre um símbolo da alta sociedade. Protagoniza, com frequência nos Anos 60, recepções e banquetes oferecidos nos seus requintados salões aos Duques de Windsor, Audrey Hepburn ou Gina Lollobrigida.

Festa famosa

A festa mais famosa ocorreu em 4 de Setembro de 1968, onde esteve presente a sociedade mundial. Entre os 1200 convidados destacam-se membros das casas-reais de Itália, Portugal e Holanda.

A recepção inicia-se pelas 23 horas e prolonga-se até de manhã. Os 200 empregados trajam casacos azul-celeste com aplicações prateadas, a ceia é servida pelo Hotel Ritz, as orquestras Milch Ryder e Los Argentinos animam o ambiente, centenas de gardénias vindas da Holanda e milhares de folhas de plátano oriundas do Canadá decoram o pavilhão erguido no jardim.

Jet-set mundial

Maria da Conceição Diniz, conhecida por São Schlumberger, vive entre Paris, Cap Ferrat e Nova Iorque.

Figura do jet-set mundial, integra o conselho do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e do Centro Pompidou em Paris, patrocina o restauro do quarto de Luís XIV em Versalles, colecciona pinturas de Mark Rothko, Robert Rauschenberge, Ad Reinhardt e Roy Lichtenstein, é retratada por Andy Warthol e Dali que também desenhou para ela um colar de esmeraldas e pérolas. Vestia exclusivamente alta-costura e foi patrona do estilista John Galliano.

Os mais íntimos dizem que ela lia muito, era muito atenta à política, gostava de ballett, mas não tinha grande julgamento das pessoas.

Apagamento

Em 1975, o Solar do Vinagre é parcialmente destruído por um grande incêndio, mas foi rapidamente reconstruído.

Nas décadas seguintes, a quinta conhece um apagamento e algumas vendas do recheio em leilão.

Pierre Schlumberger adoece e morre em 1986. A viúva enfrenta problemas na herança, o filho Paul-Albert desaparece prematuramente em 2001, as relações com a filha Vitória mostram-se complexas.

Em 1992 vendem-se inúmeros móveis franceses e um Nú de Bonnard num leilão na Sothbeys por 4 ,5 milhões de dolares, troca a mansão da Rua Férou por um enorme apartamento na Avenida Floquet, a casa do sul de França fica para os cinco enteados, e a Quinta do Vinagre para a filha.

São Schlumberger passa os últimos anos em Paris, onde continua a receber Yves Saint Laurent, Andy Warthol, Rudolf Nureyev, Christo, Jacques Chirac e Sylvester Stallone, Versace, Javier Prez de Cuéllar, duques de Bedford, entre outros. A 15 de Agosto de 2007 desaparece, aos 77 anos, vítima de Parkinson. O funeral decorre na Igreja de Saint-Pierre-du-Gros-Caillou, na presença da filha Vitória, do Conde de Paris, do empresário André Dunstetter, do príncipe Nicholas Dadeeshkeliani, do artista gráfico Philippe Morillon e de Maria, sua empregada de muitos anos.

A filha herda todos os seus bens, o projecto de uma fundação de apoio a jovens artistas e de legados aos amigos fora abandonado por Conceição Schlumberger no Inverno da vida.

Visionários

A coleccão de arte de Pierre e São Schlumberger é leiloada pela Sotheby`s durante quatro dias em 2014, que os chamou de “dois dos colecionadores mais visionários do século XX”.

Ela comprava sempre trabalhos de jovens artistas nas exposições que visitava para que eles pudessem dizer que estavam na colecção Schlumberger.

Destacavam-se obras de Pierre Bonnard, Henri Matisse, Paul Mondrian, Picasso, Degas, Leger, Matisse, Monet, Bonnard, Seuret, Rothko, Rauschenberg, Liechtentein, Andy Warthol e Dali, cujo retrato de Senhora Schlumberger atingiu 575 mil euros.

A filha Vitória herda a Quinta do Vinagre, mas acaba por a colocar à venda na Sotheby`s por 17,5 milhões de euros.

O solar tem agora as salas vazias, as que no passado ostentaram grandezas e vidas invulgares cuja memória se dilui no tempo.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A directora da revista Moda & Moda, conhecia São Schlumberger, quer através das visitas que lhe fez na sua casa ,de Paris,a mesma onde a entrevistou para a revista nº. 6 da Moda & Moda, mas principalmente dos encontros periódicos nos desfiles de Alta Costura Francesa. Contudo, é de salientar que Marionela se aproximou de São graças a amizade que a viscondessa Erika de Vignial tinha com a mais famosa portuguesa do “tout Paris”.

Entre as duas havia uma estima muito visível, o que era natural, ambas eram portuguesas e tinham a mesma paixão pela Alta Costura Francesa.

De salientar que havia desfiles em que as responsáveis pela distribuição dos lugares os dispunham de modo a ficarem juntas. São Schlumberger rejubilava e no final fazíamos os nossos comentários parecendo até que tínhamos andado na mesma escola. Foram tempos muito agradáveis e em que a directora da nossa revista descobriu a rara sensibilidade de São.

Ela foi um ícone da Alta Costura Francesa e a maior figura portuguesa que passou por Paris.

Porém, o facto de São Schlumberger ter oferecido uma colecção de modelos de Alta Costura, transportados através de Marionela e entregues na pessoa de Madalena Brás Teixeira, isso não foi suficiente para que o Museu Nacional do Traje tivesse apresentado a doação, a custo zero, que uma tão importante personalidade portuguesa teve a gentileza de oferecer.

Sempre achei que a inveja e a ignorância andam de mãos dadas. Neste caso, é mais que evidente esta minha convicção.

Porque motivo os portugueses não tiveram direito a ver uma exposição de uma mulher portuguesa celebérrima no mundo da moda que os Museus de Traje de todo o mundo homenageiam?

O Museu de Nova Iorque faz exposições com os modelos de São, os museus de Paris, suspiram por isso e Portugal esconde-os, até que se estraguem, sem ninguém os ver…

Isto, é lindo! É o retrato de Portugal no seu melhor…

António Brás e Marionela Gusmão

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