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Pierre Cardin I Dos zeros aos $$$$$$$$$$$$

Pierre Cardin, em 1992 com do traje da Academia de Belas Artes Académido das Artes. Uma homenagem muito justa que aplaudimos.

Vestidos com motivos geométricos em crepe de lã. Pierre Cardin 1966

Casacos de riscar com vestidos a combinar o look. Primavera de 1967

Conjuntos de calças e casacos com gechos éclair. Verão 1967

O estilo futurista inspirado na conquista espacial introduzido por Pierre Cardin em 1966

Gilet e Knickers em lã vermelha com "pull-over" em malha. Cerca de 1966.

Vestido de cocktail em cetim verde. 1967

Com um espírito premonitório, Pierre Cardin foi o primeiro a lançar as suas linhas de moda no Oriente e ali se implantar com muito sucesso.Colecção moderna 1987/8.

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A assinatura de Pierre Cardin

Vestido em lamé com mangas compridas e capa com um grande fecho em cobre. 1970

Pierre Cardin foi um figura da moda a quem cabem todas as homenagens. Foi, sem qualquer dúvida, um grande artista, único na sua forma audaciosa de entender a moda do vestuário e, ainda, mestre em vários ramos das artes decorativas, notável empresário, um personagem que teve o “feeling” de multiplicar as dezenas a milhões.

 

Conheci-o em 1968, ano em que fui a Paris e lhe adquiri um vestido linha trapézio , chamado “cardine”, que me custou 100 francos. Nesse ano, comprei esse vestido a Cardin, um vestido a Paco Rabannne e outro a Courrèges. Eram o último grito da moda! Faziam parte dos  pensadores manifestantes do Maio de 1968. O meu marido que me acompanhou nessa viagem, achava que aquelas modas eram muito ousadas para Lisboa. Sorri, ri, comprei o que quis com o dinheiro que era fruto do meu trabalho.

 

Nessa data, no meu interior, já sentia uma grande paixão pela moda do vestuário, mas não me passava pela cabeça que algum dia viesse a escrever sobre esse ramo das Artes Decorativas. Em 1968, Paris era uma cidade que fervilhava, era o ano das contestações, de atitudes que desagradavam ao meu marido, um médico muito mais conservador do que eu.

 

O modelo do Paco Rabanne, que adquiri, estava executado dentro de uma linha direita, em placas de plástico e de metal. Hoje, à distância, considero que a minha escolha do Courrèges, uma saia e um casaco em tecido de lã fina, de cor branca, branco, era apesar da mini-saia ser muito acentuada, o mais clássico de todos, mas o conjunto que mais usei.

 

Mas, este texto é dedicado a Cardin, um mestre com quem muito contactei durante anos e anos, quer em Paris e até em Lisboa, pois como grande homem de negócios que era, veio cá várias vezes, sempre em serviço.

 

Estive com ele numa recepção no Castelo de S. Jorge e, noutra ocasião, ambos fomos jantar a casa da Srª. Drª. Theresa Regojo, sua representante em Portugal na área das camisas. Foi um jantar de grande elegância na moradia da família Regojo muito próximo da Praça Duque de Saldanha. A recepção não podia ser mais elegante. A minha querida amiga Teresa e todos os seus filhos e noras estavam presentes e eu fiquei muito grata pela distinção de que fui alvo e Pierre Cardin sempre que me via em Paris, recordava a noite portuguesa em casa dos Regojos.  

 

Não sou capaz de contabilizar as vezes que estivémos juntos. Faleceu a 29 de Dezembro de 2020, no hospital americano de Neuilly com a idade de 98 anos.

 

Para Pierre Cardin o mundo não se limitava à Europa e, por isso, aventurou-se na entrada da China em 1978. Em 1981, abriu um showroom em Pequim. Em 1986, desfilou na Praça Vermelha, em Moscovo e no ano seguinte abriu um loja na mesma cidade. Em 2018 organizou uma enorme passagem de modelos tendo com fundo a célebre Muralha da China. 

 

Porém, não se pense que Pierre Cardin só tinha olhos para os países muito grandes.

 

Em Portugal, a fábrica das camisas Cardin continuam a ser fabricadas em Lisboa, sob a direcção do meu querido amigo Dr. Marcos Regojo, filho da grande senhora e industrial de elevado sentido económico e artístico, Drª. Teresa Regojo.  

 

 

Nasceu em Itália de uma família italiana a 2 de Julho de 1922. Foi baptizado com o nome de Pietro Constante Cardin, último a nascer de uma família de nove irmãos, tornando-se ao longo dos anos num valoroso costureiro, designer, produtor de espectáculos, coleccionador, homem de negócios e membro da Academia de Belas-Artes, passando à posteridade como um dos maiores símbolos das artes decorativas.

 

Pierre Cardin, a partir do nada, morreu como um artista que fundou e fez crescer um fabuloso império.

 

Muito jovem , tinha 14 anos, foi para um atelier, em  Saint-Etienne, onde aprendeu a arte da costura e o conhecimento dos têxteis. Aos 17 anos sonhou trabalhar em Paris, mas ainda trabalhou em Vichy na casa Rigoly, até alcançar o sonho de trabalhar na cidade luz, que o acolheu em 1945 para trabalhar na casa Paquin. E é aí que desenha os trajes do filme de Jean Cocteau “La belle et la Bête” onde serve de manequim para os trajes de Jean Marais. Seis meses depois, alcança um lugar na casa de Schiaparelli, na Place Vendôme, a qual veio a abandonar posteriormente, para criar os seus modelos de cinema e teatro para Cocteau. Depois entra na Maison Dior, onde é nomeado encarregado do atelier de casacos e de “tailleurs”, tornando-se um dos participantes famoso do New Look. Depois de ter conseguido juntar umas economias acima do razoável, abandona a Dior para se instalar por conta própria no nº. 10 da Rue Jean Richepain, onde cria trajes de bailes e festas.

 

Passado pouco tempo muda-se para o nº. 118 do Faubourg Saint Honoré. Já estava na zona chique da moda francesa. Em 1951cria a primeira colecção de Alta Costura com dois casacos compridos e dois “tailleurs” que lhe conferem um sucesso inesperado. Em finais de 1958 revoluciona a Moda Masculina criando uma linha para homem que ele apresenta através dos estudantes. De sublinhar que Pierre Cardin foi um dos primeiros a lançar uma linha “pret à porter” de luxo dirigida aos grandes “magasins” como o Printemps.

 

Cardin foi o primeiro personagem da Moda a implantar a sua roupa no Japão a partir de 1956 e a seguir na China. Desejoso de alargar sempre os seus domínios de actividades, Cardin utiliza o seu nome como uma marca “assinando os produtos mais variados”. O seu nome, vende.

 

Em 1961, compra o teatro dos Embaixadores que o transforma em Espace Cardin. Em 1965, inaugura a boutique Design e compra o restaurante Maxim’s um ícone da história da elegância e das grandes mundanas.

 

Na minha vida  jantei três vezes no Maxim’s sendo que a primeira foi a convite do próprio Pierre Cardin.

 

As suas criações foram muito além da Moda embora se possa afirmar que o que mais pesquisou foi a arquitectura da Moda. Os primeiros exemplos é o estilo futurista dos Anos 60, igualmente pensando que a concepção do vestuário pudesse ser mudada por ambos os sexos e, por isso, impulsionou a Moda Unisexo, que teve curta duração. Ele viveu o mundo moderno mais que qualquer outra pessoa.

 

Por tudo isto, foi convidado a entrar na Academia de Belas Artes em 20 de Novembro de 1992, acto que não agradou aos seus pares. O único que apareceu foi Jean Paul Gaultier.

 

Pierre Cardin, ele próprio encarregou-se da sua Espada a qual simboliza a sua vida de criação entre o dedal alusivo à Alta Costura em 1977 e 1979, uma máscara veneziana em ouro amarelo lembrança das suas raízes e fidelidade ao seu amor ao Teatro. O  punho evoca  figuras masculinas e femininas ... para a eternidade.

Sobre esse facto ele disse: “ Considero-me como um Artista e tomei consciência que os outros também tinham essa ideia”.

 

Dizia-me com frequência: “Marionela você não tem nada de portuguesa”. Eu sorria. Acredite em mim. A Marionela é uma mulher do Mundo que entende a Moda como a maior das grandes directoras das revistas americanas. Não tem comparação mas, a admiração que tenho por si, a nível profissional, é semelhante àquela que tenho pela Diana Vreeland.

 

Sinceramente não me sinto nem de perto nem de longe, comparável a Diana Vreeland, a começar porque vivo num pequeno país, de horizontes limitados e esta grande senhora teve oportunidades que a mim nunca me surgiram. Colaborei e muito no Museu Nacional do Traje, mas quando a Drª. Natália Correia Guedes me ofereceu o lugar de directora, respondi-lhe com toda a sinceridade: “Obrigada, mas não me governo com tão baixo ordenado”. Nessa data o meu vencimento mensal era 7.500$00 e ainda me sobejava tempo para escrever para alguns folhetins que a rádio transmitia, onde ganhava muito mais e não iria sujeitar-me ao vencimento de uma funcionária pública. Trabalhei muito no Museu do Traje sempre “pro bono”. Se tivesse aceitado o lugar, trabalharia com muito gosto e aquele museu seria hoje digno de visitar, mas apesar do meu marido nessa data estar de saúde, nunca gostei de contar com o dinheiro nem de familiares, nem do meu marido que como médico especialista, ganhava muito bem. Afinal, infelizmente, ele faleceu e gostava de saber que estilo de vida teria que fazer, hoje, com aquela miséria mensal.

 

Fiquei viúva e nunca tencionei voltar a casar-me. Há um tempo para tudo. Também já estaria reformada do museu e como pagaria as minhas despesas?

 

Ora, isto não tem nada a ver com Pierre Cardin, a não ser a opinião dele em relação à minha nacionalidade. Eu adoro Portugal, não me identifico com muitas mesquinhices em que este país é pródigo.

 

Estou a escrever no dia seguinte às eleições presidenciais. Muito triste com o país que escolhi

porque nenhum dos meus irmãos é português. Vivem em Espanha. Eu adorava o meu pai e quis ter até ao fim dos meus dias a sua nacionalidade. Em Espanha tenho irmãos, sobrinhos, muitos primos e primas. Em Portugal, tenho primos, amigos e o meu coração.

 

Tinha razão o Sr. Pierre Cardin quando achava que não tinha nada de portuguesa. Enganava-se porque sem ser fadista tenho o coração que lhe dava o maior valor, que apreciava o seu talento, sempre a troco de nada. Isto é ser portuguesa.

 

Que Deus o tenha no céu e descanse em paz, pois o Senhor arranjou maneira de dar trabalho a muita gente e com isso o pão que eles comem. Além disso, o seu talento era verdadeiro eclético e notável.

 

Marionela Gusmão

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