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Palácio da Ajuda I Um Património Singular

Fotografia da fachada do Palácio da Ajuda, durante anos em ruína a agora terminada indicando que aquele espaço vai ser o Museu da Coroa Portuguesa. I © José Luís Teixeira

Pormenor da fachada I © José Luís Teixeira

Pormenor da entrada I © José Luís Teixeira

Perspectiva da fachada I © José Luís Teixeira

A recente conclusão do edifício, e a inauguração em Novembro do Museu do Tesouro Real, colocou na primeira linha a antiga residência real, hoje o mais destacado museu de artes decorativas entre nós.

 

Em meados do século XIX, o Rei D. Luís escolhe para sua residência oficial o Paço da Ajuda. Com o apoio da mulher, D. Maria Pia, uma princesa italiana, inova todo o edifício. Sem olhar a despesas, o casal encomendava, principalmente em França, o que existia de mais avançado na época.  

Introduzem-se, assim, no nosso País as instalações de gás para iluminação, as casas de banho com água quente e fria canalizada, os elevadores (encomendados em Inglaterra), os tectos de madeira de abrir (para o atelier de D. Luis), as janelas duplas para protecção dos ruídos e das temperaturas exteriores e as portas de correr automáticas. Existiam em algumas divisões minúsculas “kitchnettes” para aquecer os alimentos. Isso devia-se ao facto das cozinhas estarem na ala norte e os monarcas residirem na ala sul.

Rapidamente a residência imps-se pela inovação e ousadia. Nobres e burgueses passam a tê-la como modelo. Os reis chegavam a abrir os seus salões ao público, uma iniciativa rara nas cortes da época. Em 1869 é inaugurada na ala norte -  a primeira galeria de pintura existente em Portugal. Nasceu ali um espaço deslumbrante, com clarabóias de vidros opacos, que filtravam a luz afim de proteger as pinturas.

 

Mecanismos singulares

As novidades não páram de chegar: caso da primeira máquina de costura, do megaletoscópio (antepassado dos projectores de filmes), da câmara escura (para fotos),  do telefone (instalado propositadamente para a família-real ouvir os concerto do Teatro de São Carlos) e dos espelhos inteiriços (revelando grande exigência e controlo do vidro).

Surgiram, por outro lado, as alcatifas, bem como as redes de campainhas para chamar o pessoal.

Caídas no esquecimento durante mais de meio século, as inovações do Palácio da Ajuda, começaram a ser redescobertas com Cayolla Zagallo e especialmente por Ayres de Carvalho. Ao tornar-se responsável daquele edifício, em 1964, recuperou e valorizou o todo singular e desconhecido património.  Trabalho lento e rigoroso, o conservador tinha na mulher, Elda Bianchi, um apoio permanente no estudo e inventário da riqueza detectada.

"Foi uma tarefa difícil que se levou a cabo. Essa pequena equipa fez o levantamento do espólio que deve rondar as cem mil peças e preparou a abertura do museu", diz-nos Simonetta Luz Afonso, filha de Ayres de Carvalho. Em 1969, as portas do palácio foram abertas ao público que assim pode conhecer as inovações tecnológicas de que o nosso País foi percursor. Muitas delas perderam-se, entretanto, em incêndios, incúrias e indiferenças. A direcção de Isabel Silveira Godinho esforçou-se por continuar a recuperação deste singular espaço, mas só o conseguia graças a doações de particulares, amigos do Museu.

Na actualidade, José Alberto Ribeiro, nomeado director em 2012, tem vindo a recuperar diversas salas, adquirindo inúmeras obras de arte, realizando diversas exposições temporárias, e divulgando o monumento. No entanto, convém realçar, em nome da justiça, que os auxílios estatais têm sido mais generosos.

 

Exemplares únicos

Em Portugal houve sempre figuras interessadas nas altas tecnologias surgidas internacionalmente. Além dos reis D. Luís e D. Maria Pia, outras personalidades deixaram-se cativar pelas inovações divulgadas na Europa.

Vários edifícios seguiram o exemplo do Palácio da Ajuda. Entre eles, o da residência dos marqueses de Valle Flôr, em Lisboa, possuidor de sofisticados elevadores e aquecimento central. A quinta de Sintra daquela família teve, por sua vez, um dos primeiros geradores eléctricos existentes entre nós.   

Em Guimarães, a Casa de Sezim (outro exemplo, fascinante) preserva colecções de papéis de parede de grande beleza. Encomendados em França no século XIX, as suas pinturas paisagísticas apresentam mais de duzentos tons, o que os torna únicos a nível mundial. Pela sua qualidade e diversidade são, com efeito, considerados documentos excepcionais das oficinas de Zuber. Como o são as colecções preservadas no atelier Carlos Relvas, na Golegã, o primeiro estúdio fotográfico do Pais. Construído propositadamente para esse fim,é um raro exemplo da arquitectura de ferro e vidro. No seu interior guardam-se, por exemplo, conjuntos de lentes e câmaras ousadíssimos na época.

 

António Brás

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