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Paço dos Duques de Bragança I Um Palácio único entre Nós

Vista nocturna do Paço dos Duques de Bragança.

Aspecto geral do Paço.

Capela do Paço vendo-se os vitrais.

Scan 5

Pormenor de uma das quatro tapeçarias de Pastrana, onde se vê a entrada dos portugueses em Tangêr.

Retrato da D. Catarina de Bragança que preside a uma das salas.

Sala dos Paços perdidos.

Scan 7

Sala de S. Cipião.

Entre o castelo e centro histórico de Guimarães emerge um palácio único entre nós. 

Mandado construir há mais de meio milénio, segundo arquitecto desconhecido, o edifício reflecte a importância política, social, económica e cultural dos Duques de Bragança.

O Paço, transformado em museu em 1959, conhece actualmente um período inovador. Com grande energia e dinamismo, Isabel Maria Fernandes, sua directora, entrega-se à sua revitalização. Mobiliza recursos, pessoas e apoios. O acervo foi estudado, redescobrindo peças excepcionais, e em arquivos documentos de grande valor sobre a história do imóvel, ao mesmo tempo projecta abrir ao público as zonas privadas, actualmente áreas administrativas.  

Pouco a pouco, o histórico palácio ganha nova vida e dinamismo.

A casa-mãe da família dos duques de Bragança teve a sua origem em D. Afonso (filho ilegítimo de Rei D. João I e Inês Pereira) e D. Brites Pereira, filha de D. Nuno Álvares Pereira e de sua mulher D. Leonor de Alvim.

A aliança permitiu, segundo alguns historiadores, ao monarca reaver as extensas terras que doara ao Condestável. Este concordou com o enlace mediante a condição do futuro genro ser legitimado, o que D. João I fez em 1401. Nesta altura D. Afonso recebeu das mãos do sogro o condado de Barcelos. 

Pouco depois, Nuno Álvares Pereira doou à única filha todas as vilas e castelos que possuía no Douro, no Minho e em Trás-os-Montes, bem como os padroados das igrejas que detinha, com o objectivo de constituir um morgadio. 

O casamento celebrou-se em Lisboa em Novembro de 1401, fixando-se o casal em Chaves, onde nasceram três filhos.

Nos anos seguintes, D. Afonso distinguiu-se na conquista de Ceuta (1415), sendo dos primeiros militares a evidenciar-se na sua campanha. 

Como recompensa trouxe colunas em pedra do palácio de Calabenzalla, senhor daquela cidade africana.

Três anos depois foi armado cavaleiro pelo pai quando da expedição à Galiza. Em 1442 requereu o senhorio de Bragança e de outras vilas, no que foi atendido. Passados 24 meses vê-se nomeado Fronteiro-Mor de Entre - Douro e Minho. Em 1451, o regente do reino e Duque de Coimbra, D. Pedro, concede-lhe (por ordem de D. Afonso V) o título de Duque de Bragança  – ficando ao mesmo nível dos seus irmãos.

 

Poderosa casa nobre

Detentora de vastos senhorios de norte a sul, a Casa de Bragança torna-se, assim, a mais poderosa de Portugal.

D. Afonso constrói ainda sumptuosos palácios em Chaves, Guimarães e Barcelos. 

Após a morte da mulher contrai novo matrimónio, em 1440, com D. Constança de Noronha, filha do Conde de Gijon. Na época, o Duque passava a maior parte do tempo em Guimarães, cidade onde mandara erigir um palácio, no local onde outrora existira um edifício habitado por D. Teresa e D. Henrique, pais do primeiro rei de Portugal.

O novo paço claramente influenciando pela arquitectura normanda, revela a afirmação do seu poderio.

Extremamente culto e viajado, era célebre a sua biblioteca hoje perdida, D. Afonso morre em Chaves em 1461, aos 90 anos, ficando sepultado na Igreja Matriz num imponente túmulo de granito - transferido em 1942 para o Panteão da Casa dos Duques de Bragança, na Igreja dos Agostinhos, em Vila Viçosa.

 

Fama de santa

A duquesa de Bragança, D. Constança, viúva e sem filhos, dedica-se a obras de caridade. Devota de São Francisco de Assis transforma o Paço Ducal de Guimarães em hospital-enfermaria e albergue aberto aos necessitados.

Passa a envergar o hábito de São Francisco, e afasta-se da vida social, seguindo uma vida de humildade. Nos últimos anos dedica-se a tratar dos enfermos, desfazendo-se da sua fortuna para os apoiar.

Em 1480 morre, aos 76 anos, com fama de santa. A terra da sua campa, na capela-mor da Igreja de São Francisco, ficou célebre pelas suas faculdades milagrosas. Chega a propor-se a sua beatificação. 

A sepultura, coberta por um alto-relevo com o seu perfil em tamanho natural (vestida com o hábito franciscano) acabará, no entanto, por desaparecer.

O segundo Duque de Bragança, D. Fernando, nascido em 1403, herda do avô materno, entre outros, os senhorios de Vila Viçosa, Borba e Arraiolos. Após o casamento com D. Joana de Castro (filha de D. João de Castro, Senhor de Cadaval) fixa-se em Vila Viçosa onde reside no Castelo.

O Paço de Guimarães arruína-se. No século XX é um quartel do exército. 

 

Reconstrução

Em 1937 inicia-se a sua reconstrução que termina em 1959. O Presidente do Conselho, Oliveira Salazar, resolve investir nessas obras os orçamentos que sobram anualmente dos ministérios.

O arquitecto Rogério de Azevedo dirige as obras com enorme rigor, secundado por uma enorme equipa de operários, e pelo pintor António Lino que desenha os vitrais da capela.

O Estado resolve abrir o primeiro andar ao público, ficando o segundo reservado a residência-oficial do Presidente da República. 

Nele expõe-se um extenso acervo (proveniente dos museus de Arte Antiga, Aveiro, Soares dos Reis e Machado de Castro, Palácio da Ajuda, aquisições em antiquários e algumas doações) essencialmente dos séculos XVII e XVIII. Uma comissão composta por diversas personalidades, entre as quais Alfredo Guimarães, autor de preciosos estudos sobre mobiliário, aconselha essas incorporações.

Sobressaem réplicas de Tapeçarias de Pastrana (realizadas, possivelmente, sobre cartões de Nuno Gonçalves) que representam o Desembarque, o Cerco, o Assalto e a Entrada em Tânger, cidade onde combatera o III Duque.

O Estado português tentou, sem resultado, reaver os originais das referidas tapeçarias, que se encontram em Espanha, mas apenas conseguiu a sua reprodução. 

Destacam-se, ainda, tapetes persas, veludos venezianos, tapeçarias flamengas e francesas, mobiliário indo-português, barguenõs, estanhos, pratas e bronzes, faianças portuguesas e espanholas, porcelanas da China, pinturas de Josefa de Óbidos e retratos de reis e de nobres. Completam o espólio armas brancas e de fogo, elementos de armaduras dos séculos XV a XIX (outrora da colecção do Visconde de Pindela), imagens religiosas quinhentistas e barrocas, vestuário oitocentista dos Condes de Margaride, gravuras setecentistas francesas representando os Duques de Bragança doadas pelo embaixador António Leite de Faria e naturezas-mortas do século XVII recentemente depositadas. O palácio recria os ambientes da alta nobreza portuguesa.

 

Roteiro

Na actualidade, podem visitar-se 12 salas, capela e claustro, permitindo observar interiores dos séculos XVII e XVIII.

No percurso museológico destacam-se a Salão dos Passos Perdidos com duas tapeçarias de Pastrana, dois jarrões da Companhia das Índias com o brasão Melo e Sampaio, contadores indo-portugueses e tapetes orientais. 

Na Sala de Comer Íntima sobressaem uma das cinco tapeçarias flamengas, pertencentes ao Paço, segundo cartões de Rubens, sobre a vida do cônsul romano Públio Décio Mus, e assinadas por Jan Raes de Younger, armários flamengos e diversos estanhos completam o acervo. 

Na Sala da Antecâmara contemplam-se um pano de Veneza quinhentista, bordado a ouro e prata, com cenas religiosas, uma Nossa Senhora dos Anjos, alabastro do século XV, e cadeiras em couro de 1700. 

Na Sala de São Miguel realçam-se um par de bargueños, almofarizes em ferro e bronze, dois grandes jarrões, poncheira da Companhia das Índias, e uma imagem manuelina de São Miguel em calcário.

Na Sala do Cipião preservam-se quatro tapeçarias flamengas seiscentistas, assinadas por Andreas Van Dendries, representando cenas da Grécia clássica.

A Capela encontra-se decorada com enormes telas sacras, cópias de António Manuel da Fonseca de obras de Zampieri e Rafael, retábulos seiscentistas em talha portuguesa, e oito colunas trazidas do casa do Senhor de Ceuta pelo I Duque de Bragança. 

Na Sala de Dona Catarina preservam-se um Cordeiro Pascal de Josefa de Óbidos, um leito de 1600, uma tapeçaria francesa com Cena Campestre e um retrato da Rainha, cópia tardia de obra de Sir Peter Lely.

Os espaços do Salão dos Banquetes apresentam tapeçarias de Pastrana, faianças portuguesas e mesas e arcas do século XVII.

O Salão Nobre, o maior compartimento do paço, ostenta a quarta tapeçaria de Pastrana, anjos candelários barrocos, tapetes orientais e mobiliário nacional do século XVII.

O paço Ducal de Guimarães, verdadeiro tesouro da Casa de Bragança, evoca a história invulgar de uma família que exerceu o poder, entre nós, dos séculos XV ao XX.

 

António Brás

Tapetes Salting

Em Setembro de 2007 três tapetes ‘Salting’ foram identificados no Paço dos Duques de Bragança por dois especialistas em tapetes islâmicos, Michael Franses e John Mills. Os ‘Saltings’ estão atualmente entre os tapetes mais caros e cobiçados pelos colecionadores mundiais, e as peças do Paço dos Duques constituem o maior conjunto documentado fora do palácio Topkapi em Istambul.

Os três foram comprados aos proeminentes negociantes de têxteis em Londres, Mrs. Perez, que já haviam estado envolvidos na venda de importantes tapetes de coleções portuguesas ao mercado internacional.

A designação ‘Salting’ deriva do nome do famoso colecionador de arte australiano, George Salting (1835-1909) que, em 1909, doou um exemplar particularmente emblemático ao Victoria and Albert Museum em Londres.

Os tapetes descobertos no Paço dos Duques de Bragança representam o mais importante achado em Portugal desde 1911, quando José de Figueiredo encontrou o magnífico tapete de‘animais e árvores’no Convento da Madre de Deus em Xabregas, agora considerado a ‘joia da coroa’ da coleção têxtil do Museu Nacional de Arte Antiga.

 A intensa investigação levada a cabo no estudo e na conservação dos três tapetes ‘Salting’ tem garantido a sua preservação para as gerações futuras. Finalmente restituídos ao seu antigo estatuto de grandes objetos da arte islâmica, os tapetes são dignos de de relevo e valorização enquanto tesouros nacionais.

Texto por cortesia de Raquel Santos e Jessica Hallett

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