
As Visões da Joalheira Nadia Léger I Suprematismo no Espaço
![]() Anel Ophiuchus, França, 1970. Nadia Léger, (Francesa, 1904-1982). Ouro, platina e diamantes. Colecção Museus do Kremlin, Moscovo. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo. | ![]() Pulseira Relógio, França, 1970. Nadia Léger, (Francesa, 1904-1982). Ouro, platina, diamantes e metal decorado. Colecção Museus do Kremlin, Moscovo. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo. | ![]() Alfinete Polaris, França,1970. Nadia Léger, (Francesa, 1904-1982). Ouro branco e diamantes. Colecção Museus do Kremlin, Moscovo. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo. |
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![]() Alfinete Luar, França, 1970. Nadia Léger, (Francesa, 1904-1982). Ouro dourado e branco e diamantes. Colecção Museus do Kremlin, Moscovo. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo. | ![]() Alfinete Castor, França, 1970. Nadia Léger, (Francesa, 1904-1982). Ouro. Colecção Museus do Kremlin, Moscovo. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo. | ![]() Alfinete Pegasus, França, 1970. Nadia Léger, (Francesa, 1904-1982). Ouro dourado e ouro branco, diamantes, calcedónia e quartzo. Colecção Museus do Kremlin, Moscovo. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo |
![]() Suprematismo, França, (cerca 1969). Nadia Léger, (Francesa, 1904-1982). Serigrafia. Colecção Museu Estadal de Belas Artes Pushkin, Moscovo. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo. | ![]() Suprematismo, França, 1972/1973 Nadia Léger, (Francesa, 1904-1982). Litografia a cores. Colecção Museu Estadal de Belas Artes Pushkin, Moscovo. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo. | ![]() . Homenagem a Gagarin N1, França 1961. Pablo Picasso (Espanhol, (1801-1973). Lápis sobre papel. Créditos da imagem: © Succession Picasso 2021. Colecção particular da família Karisalov. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo. |
![]() Retrato de Nádia com Flores, França, (cerca 1948). Fernand Léger, (Francês, 1881-1955). Tinta a pincel sobre lápis de grafite e sobre papel. Colecção Museu Estadal de Belas Artes Pushkin, Moscovo. Cortesia Museus do Kremlin, Moscovo. |
Os Museus de Kremlin de Moscovo de 9 de Abril a 1 de Setembro de 2021, apresentam a exposição dedicada à arte de Nadia Léger, uma artista notável do século XX e brilhante representante da escola de arte parisiense.
A obra desta talentosa pintora e artista gráfica, que também se dedicou à arte e ao design de joalharia. O seu trabalho original representa umaa reinterpretação das principais tendências artísticas do século XX, como o cubismo, o suprematismo, o purismo e o realismo socialista.
A exposição: Visão do Suprematismo: Motivos Espaciais nas Obras Gráficas e Desenhos de Joalharia de Nadia Léger, que celebra este ano, o 60º aniversário do primeiro voo espacial da história da humanidade de Yuri Gagarin.
Nadia Léger, (1904-1982), nasceu numa família pobre de ascendência polaca em Asiecišča (também conhecida como Osetishche), do Império Russo, agora Oblast de Vitebsk no norte da Bielorrússia. Nadia foi uma artista de considerável talento e muito versátil, foi aluna de Kazimir Malevich, tornando-se então numa figura destacada da Escola Artística de Paris. As pinturas de Nadia foram expostas ao lado das obras dos mestres como Wassily Kandinsky, Jean (Hans) Arp, Alexandra Exter, Le Corbusier, Fernand Léger e muitos outros. Nadia casou-se com Fernand Léger em 1952 e durante anos ela criou condições excepcionais para preservar, promover e imortalizar a obra do seu marido.
Com o colapso da União Soviética, as obras realistas de Nadia caíram gradualmente no esquecimento e foram negligenciadas por parecerem muito "soviéticas". Ao mesmo tempo, o seu próprio legado na Europa permaneceu geralmente desconhecido, tendo sido ofuscado por muito tempo pela notoriedade do seu marido, Fernand Léger. Após a sua morte, Nadia actuou como guardiã das suas obras e parecia priorizar o seu património, em relação ao dela. Durante trinta anos, foi assistente e depois directora do Atelier Léger, um dos mais extraordinários laboratórios da modernidade, onde partilhou o seu cavalete com Nicolas de Staël e Louise Bourgeois. No entanto, ela nunca parou o seu desenvolvimento artístico, como aluna de Malevitch, Strzemiński, Ozenfant e Léger, Nadia fez experiências com quase todos os principais movimentos artísticos do século XX. De acordo com a historiadora de arte britânica Sarah Wilson, as obras de Nadia ofereceram influências do "suprematismo revolucionário, modernismo parisiense, realismo, o mundo oficial dos vernissages da Guerra Fria em Paris, Biot e Moscovo, o extraordinário renascimento Suprematismo e realismo na década de 1970”. Sarah também afirmou, que as obras de Nádia são "uma viagem exemplar ao longo do século XX".
Presa ao seu “status de mulher das sombras”, Nadia merecia serdivulgada, pelo seu grande talento. Só em 2019, Aymar du Chatenet, uma ex-jornalista que se apaixonou pela arte de Nadia, publicou uma monografia abrangente sobre a sua vida, como “Nadia Léger - l'histoire extraordinaire d'une femme de l'ombre” (Nadia Léger, uma extraordinária história de uma mulher nas sombras), através do resultado de um estudo e pesquisa de dez anos. O entusiasmo unânimo dos críticos de arte, historiadores e coleccionadores, que acolheram esta publicação, logo contribuiu para o reconhecimento do papel de Nadia como uma grande artista do século XX.
Então, quem era Nadia Léger? Nascida numa vila perto de Vilnius, em 23 de Outubro de 1904, Nadia Khodasevich passou a infância em Zembino, Bielo-Rússia. A jovem camponesa revelou-se uma desenhista apaixonada. Embora os seus parentes se opusessem incendidamente ao seu interesse pela arte e aos 15 anos ela fugiu para Smolensk. Entre 1919/1921, Nadia teve aulas de arte com Władysław Strzemiński, o aluno de Kazimir Malevich, e depois com o próprio Malevich.
Na Polónia, Nadia mudou o seu nome para Wanda Chodasiewicz e ingressou na Academia de Belas Artes de Varsóvia, onde estudou com o artista Milosz Kotarbinski. Foi lá que ela conheceu o seu primeiro marido, o pintor polaco Stanislaw Grabowski. Casaram-se em 1923 e mudaram-se para Paris em 1925. Os artistas juntaram-se à Académie Moderne de Fernand Léger e Amédée Ozenfant, onde Nadia participou em várias exposições como artista polaca, onde mostrou o seu trabalho em galerias e salões. Em 1927 ela separou-se do marido após o nascimento da sua filha Wanda nesse ano.
Em 1945 Nadia reabriu o estúdio e preparou-se para o regresso de Fernand Léger. Após a morte da sua primeira mulher Jeanne-Augustine Lohy em 1950, Fernand Léger casou-se com Nadia em 1952. Ambos os artistas viviam no subúrbio sudoeste de Paris, em Gif-sur-Yvette. Essa mudança de circunstâncias foi uma bênção e uma maldição para Nádia: enquanto a sua situação financeira e social melhorou muito e abriu-se também muitas portas, a sua reputação artística sofreu, ao ser ofuscada pelo marido. Além disso, os seus inúmeros trabalhos do pós-guerra foram atribuídos a Fernand Léger, embora ela os tenha assinado como “Nadia Petrova”. Em 1953, ela expôs 75 novas obras na Galeria Bernheim e Jeune. Nesse ano, Louis Aragon elogiou as suas pinturas: “Podemos debater sobre elas, devemos reconhecer na obra de Nadia Petrova-Léger uma audácia bastante singular, uma decisão que conquistou a sua estima”.
Cinco anos após a morte de Léger, em 1960, Nadia supervisionou a construção e o lançamento do Musée Fernand Léger em Biot, Alpes-Maritimes, perto de Antibes. O museu foi doado ao Estado francês em 1967 e, em 1969, o ministro da Cultura da França, André Malraux, inaugurou o Museu Nacional Fernand Léger. No ano seguinte, Nadia converteu a quinta de Léger em Lisores, na Normandia, no Ferme-Musée Fernand Léger. Para abrir esses museus, Nádia foi condecorada com a Ordem da Legião de Honra, a mais alta ordem de mérito concedida pelo presidente da França para distinção civil e militar.
No início de 1976, uma caixa de couro de três camadas de aparência bastante misteriosa da França chegou ao Ministério da Cultura soviética. A caixa continha 37 peças excepcionalmente raras de jóias de vanguarda realizadas em ouro e platina e incrustadas com diamantes, como alfinetes, anéis e relógios. Foi este o presente ao Estado soviético da artista francesa de origem russa Nadia Khodasevich-Léger (1904-1982), viúva do célebre artista cubista francês Fernand Léger. Em 1980, o Ministério da Cultura doou a colecção para os Museus do Kremlin de Moscovo, onde permanece desde então. Hoje, é a única colecção documentada de jóias esculpidas projectadas e feitas por Nadia Léger em 1970.
Embora Nadia doasse uma série de trabalhos de Fernand Léger e as suas próprias obras para os museus soviéticos, as experiências de vanguarda da artista foram recebidas com cautela. Talvez, esta também seja a razão pela qual a colecção de jóias de vanguarda de Nadia foi aceite, mas não exibida até hoje.
Apenas as suas obras monumentais, correspondentes aos cânones da arte realista socialista, foram aceites pelas autoridades soviéticas. Em 1972, a artista concluiu e apresentou 72 painéis de mosaico espectaculares com retratos de heróis e líderes do século XX, admirados por Nadia Léger (entre eles estavam o cosmonauta Yuri Gagarin, a bailarina Maya Plisetskaya, o director de cinema Sergey Eisenstein).
Ainda em 1972, as suas 45 obras monumentais foram exibidas na VDNKh, a Exposição de Conquistas da Economia Nacional em Moscovo. Antes disso, em 1972, Nadia Léger foi agraciada com a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho pelo Presidium do Soviete Supremo da URSS por sua contribuição significativa para a cooperação soviético-francesa e promoção das relações diplomáticas entre os dois países.
Exposição
A exposição nos Museus do Kremlin de Moscovo apresenta um dos aspectos do talento excepcional de Nadia Léger e salienta a sua colecção de jóias de vanguarda projectada de acordo com os princípios do Suprematismo. A criação desta colecção foi inspirada pelo evento marcante, em 12 de Abril de 1961, a nave espacial Vostok com um homem a bordo, que foi lançada num espaço aberto, uma conquista sem precedentes na história mundial. A nave espacial foi pilotada pelo astronauta soviético Yuri Gagarin, cuja imagem e o nome se tornaram sinónimos de exploração espacial. A façanha de Yuri Gagarin trouxe pontos de inspiração "cósmicas" para Nádia, esta realidade, foi percebida por ela como o cumprimento final dos sonhos e profecias anteriores de Kazimir Malevich. No início do século XX, ele escreveu, "dentro de uma pessoa, na consciência humana está oculta a ânsia pelo espaço, a ânsia pelo afastamento da esfera terreste".
A colecção de 37 peças de jóias preciosas de vanguarda: alfinetes, anéis e relógios foi transferida para os Museus do Kremlin de Moscovo em 1980 pelo Ministério da Cultura da URSS. Hoje, é a única colecção documentada de jóias esculpidas projectadas pela célebre artista em comemoração ao evento histórico marcante: “O Alvorecer da Era Espacial”. A colecção completa é exposta ao público pela primeira vez na mostra:
“Visão do Suprematismo: Motivos Espaciais nas Obras Gráficas e Desenhos de Joalharia da Nadia Léger”, para além das jóias apresenta ainda um retrato gráfico de Nádia, feito pelo marido Fernand Léger; quatro Composições Suprematistas do Museu de Belas Artes Estatal Pushkin e o desenho de Pablo Picasso da colecção do mecenas de arte, Mikhail Karisalov, retratando Yuri Gagarin como uma pomba voadora.
É muito louvável que os Museus do Kremlin se tenham juntado ao processo de reintegração de Nadia Léger como uma das principais artistas do século XX, uma mestre modernista de considerável talento versátil.
Theresa Bêco de Lobo