
Diário português de Cecil Beaton
![]() Maria Lucília Pinto Basto | ![]() Retrato de Veva de Lima | ![]() Presidente da República Óscar Carmona em Belém |
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![]() O vice-Almirante Alfredo Botelho de Sousa | ![]() Engº. Duarte Pacheco | ![]() Almirante João de Azevedo Coutinho |
Em 9 de Junho de 1942 desembarcou em Lisboa o fotógrafo, e mais tarde cenógrafo, Cecil Beaton.
Estávamos em plena II Guerra Mundial. Londres sofria fortes bombardeamentos e a neutralidade portuguesa era questionada pelos Aliados.
Cecil Beaton veio na qualidade de artista militar e com instruções para fotografar diversas personalidades. A lista incluía o Presidente da República Óscar Carmona, o Presidente do Conselho de Ministros Oliveira Salazar, passando por militares, cardeais, senhoras da sociedade e ministros.
No seu diário, quase desconhecido entre nós, Beaton descreveu esse Portugal de forma arguta e incisiva.
O fotógrafo instalou-se no Hotel Aviz onde esperou cinco dias para usar uma máquina fotográfica, dado ser proibido uilizá-las em Lisboa.
No diário descreveu o ambiente Luís XVI do hotel, havendo entre os hóspedes Calouste Gulbenkian e o seu gosto por caviar.
Acompanhado por David Ecclex, conselheiro económico da embaixada inglesa, e de Marcus Cheke, diplomata e seu antigo colega de Harrow, visitou o Museu dos Coches e o Palácio de Queluz.
O monumento atraía-o profundamente, escrevendo que era uma residência digna da Cinderela
Início do trabalho
No dia 5 de Julho Cecil Beaton iniciou o seu trabalho. Escreveu que a sociedade portuguesa era cinzenta e conservadora; destacou que todos o receberam com cordialidade excepto Salazar. O estadista evitou-o, levando Cecil Beaton a compará-lo a Greta Garbo devido ao seu profundo desejo de privacidade.
Essa galeria de fotografias, preservada no Museu Imperial da Guerra, em Londres, revela-se notável. Os retratos, a preto e branco, são marcados pela estética de Beaton; neles as personalidades movem-se com dramatismo em cenários diversificados.
Decoração vitoriana
Ao fixar a imagem do então Presidente da República, destacou na mesa de trabalho as fotografias, em molduras de prata, de George VI e da Rainha Isabel, futura Rainha-Mãe.
«A decoração vitoriana do Palácio de Belém”, escreveu, “proporcionou deliciosas fotografias. As paredes eram revestidas de brocados cor de mostarda,onde predominavam retratos oleográficos e um enorme relógio de prata dourada. Em muitas das molduras de prata havia fotografias de uma senhora que, segundo se diz, tinha sido sua cozinheira e com quem o chefe de Estado se casara. Óscar Carmona recebeu-me com uma cortesia à moda antiga, apesar de ter acabado de receber uma dolorosa injecção numa perna».
Outros retratos
Ao longo desses dias Cecil Beaton retratou inúmeras personalidades, caso da escritora Fernanda de Castro, da poetisa Veva de Lima e da benemérita Condessa de Rilvas. O pano de fundo eram invariavelmente imagens de interiores, destacando que «cada uma dessas figuras foi isolada num cenário que lhe era próprio».
O artista escreveu que apreciou as «marquesas vestidas de negro agitando os seus leques, muitas à moda antiga».
A sessão fotográfica com o vice-almirante Alfredo Botelho de Sousa, chefe do Estado-Maior da Armada, foi relatada de forma exaustiva: «Ao sair do meu último encontro com um almirante com um nariz muito comprido, apontado para a esquerda, e com um cabelo grisalho cortado em franja, deixei cair a minha máquina na escadaria de pedra».
Longos dias
A figura mais beneficiada nessa galeria de imagens, dada a quantidade de negativos que chegaram até nós, foi a poetisa Veva de Lima. O artista destacou no seu diário os «dias inteiros em jogos de lisonja com algumas personagens da sociedade lisboeta”.
As imagens de Veva de Lima são atravessadas por toques de sedução que antecipou o futuro «sucesso de Beaton em Inglaterra e nos Estados Unidos, como fotógrafo da casa-real e da sociedade mais proeminente, bem como das gentes do teatro», anotou Ângela Delaforce.
António Brás