
Abel de Lacerda I Museu de Arte Antiga recebe colecção do Caramulo
![]() Abel de Lacerda em 1956 | ![]() O benemérito com Picasso | ![]() Fachada principal do Museu do Caramulo |
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![]() Vidros Romanos | ![]() Santíssima Trindade, séc. XVIII | ![]() Garrafa Ming, datada de 1552 |
![]() São Bernardino de Siena, Quinten Metsijs | ![]() São João Baptista, Grão Vasco | ![]() Maria de Médicis, Franz Pourbus |
![]() Arca-açoriana, sécs XVI-XVII | ![]() Jovem japonês, arte Nanbam | ![]() Virgem do Loreto, arte cingalo-portuguesa |
![]() Tapeçarias de Tournai, pormenor de português | ![]() Cavaleiro Romano da Ibéria, Dali | ![]() Oliveira Salazar, Eduardo Malta |
![]() Natureza-morta, Picasso | ![]() Gualdino Gomes, António Soares | ![]() Amadeo de Souza Cardoso |
![]() Oldsmobile, automóvel de 1902 | ![]() Rolls Royce, 1937 |
O Caramulo visita Lisboa
Há meio século, um jovem economista português, Abel de Lacerda, chega ao Castelo de Púbol, em Espanha, para encontrar-se com Salvador Dali.
O célebre pintor recebe-o e falam animadamente de assuntos artísticos. No final oferece-lhe uma magnífica aguarela denominada “Cavaleiro Romano na Ibéria”. Com esse gesto, aliás singular na ocasião, Dali torna-se um mecenas português.
Apaixonado pelas artes e pelo desenvolvimento cultural do nosso País, Abel de Lacerda ambiciona fundar um museu com base no mecenato, pois todas as obras de arte deviam ser oferecidas por seus autores, empresários e coleccionadores.
Dotado de enorme sensibilidade e empenho, o jovem consegue reunir, dessa maneira, entre 1953 e 1955, 150 obras - pinturas, esculturas, cerâmicas, tapeçarias, móveis, pratas e marfins desde a pré-história ao século XX.
Fim trágico
Paralelamente, Abel de Lacerda planeia a construção no Caramulo, onde a família era detentora da maior estância sanatorial da Europa, de um museu. No entanto morre em 1957, num trágico acidente de viação, decidindo a família e os amigos criar uma fundação com o seu nome.
Dois anos depois é inaugurado no Caramulo o Museu Abel de Lacerda. Uma das peças que, nele, despertará maior atenção será a aguarela de Salvador Dali. Nela, o artista catalão retrata, como o título indica, um cavaleiro - guerreiro que vai caminhando sob nuvens ameaçadoras, numa paisagem montanhosa e agreste. O quadro, uma obra de traço classicista, contém notórias influências surrealistas.
Durante décadas esta foi a única peça de Salvador Dali exposta entre nós.
Centenário de Abel de Lacerda
Ao longo deste ano comemora-se o centenário do nascimento de Abel Lacerda (ocorrido em 1921), considerado um dos mais maiores beneméritos portugueses.
Em Lisboa vão decorrer inúmeras homenagens que pretendem dar um olhar aberto, diferente e inovador da sua vida e obra – exposição com tesouros do Museu do Caramulo, um vídeo sobre o patrono, bem como visitas guiadas e um colóquio.
Abel de Lacerda era bisneto, neto e filho de médicos, mas decidiu seguir Ciências Económicas e Financeiras. A morte do pai, Jerónimo de Lacerda em 1945, obriga-o a fixar-se no Caramulo e a administrar o império familiar. Ao mesmo tempo coleciona obras de arte, convivendo com artistas e colecionadores. O jovem sonha criar um museu verdadeiramente único de artistas e coleccionadores. A ideia torna-se realidade ao conseguir a aderência de 100 personalidades e a doação de 150 obras de arte.
Antigo convento
O arquitecto Alberto Cruz projecta o futuro museu. Trata-se de um edifício clássico de grande qualidade em quadrado. Ao centro é colocado o claustro oitocentista do Convento da Fraga, em Satão, então em risco de perder-se.
O museu é inaugurado em 1958, mas o valioso acervo não para de crescer até aos nossos dias.
O acervo tem uma enorme abrangência temporal desde o Neolítico ao século XX.
A pintura é o núcleo forte da instituição, abrangendo cinco séculos, com quadros excepcionais de Grão Vasco, Fernão Garcia, Diogo de Contreiras, Frei Carlos, Franz Pourbus, Jacob Jordaens, John Gorgon e Domingos Sequeira.
A arte-contemporânea portuguesa é outro sector muito qualificado, havendo obras desde o naturalismo aos nossos dias. Destacamos Silva Porto, Amadeo de Souza Cardoso, Aurélia de Sousa, Eduardo Malta, Eduardo Viana, António Soares, Francis Smith, António e Carlos Carneiro, Vieira da Silva e José de Guimarães. O núcleo é pontuada por excelentes marcações internacionais – Dali, Picasso (tela denonimada de Natureza-morta), Fernand Léger, Raoul Duft e Rodin.
Os têxteis são marcados pela presença esmagadora das Tapeçarias de Tournay, série quinhentista comemorativa da chegada dos portugueses à Índia. É o maior conjunto mundialmente conhecido.
As artes decorativas, portuguesas e europeias, abrangem a faiança, o vidro, o esmalte, a porcelana, a ourivesaria, a joalharia e o mobiliário. O sector, relativamente diminuto, conta com obras-primas, caso da garrafa em porcelana chinesa datada de 1552; da salva quinhentista em prata com o brasão dos Almeida ou dos Mello; e arcas açorianas dos séculos XVI-XVII.
A arte Luso – Oriental e Namban encontra-se representada com exemplares de grande raridade- pintura, escultura, têxteis e marfins.
O último núcleo são os automóveis, a maior colecção existente entre nós, com exemplares desde 1886 a 2000.
Todas estas facetas podem ser contempladas numa grande exposição (constituída por dezenas de obras) que está patente no Museu Nacional de Arte Antiga.
António Brás