
Jorge Barradas I No Jardim da Europa
![]() Paisagem, 1970, (Pormenor). Jorge Barradas (1894 -1971). Colecção Millennium bcp, Lisboa. Cortesia Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado (MNAC-MC). | ![]() S.Tomé paisagem-tropical-1931. Jorge Barradas (1894 -1971). Óleo sobre tela. Crédito da imagem: © MNAC Cortesia Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado (MNAC-MC). | ![]() As Varinas, 1930. Jorge Barradas (1894 -1971). Guache sobre cartão. Crédito da imagem: © MNAC Cortesia Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado (MNAC-MC). |
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![]() Cabeça de Mulher 1930. Óleo sobre tela. Jorge Barradas (1894 -1971). Crédito da imagem: © MNAC Cortesia Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado (MNAC-MC). | ![]() Sem título, (1926). Jorge Barradas (1894 -1971). Gouache sobre papel. Centro de Arte Manuel de Brito, CAMB), Palácio dos Anjos, Algés, Portugal Colecçãot: Manuel de Brito | ![]() Capa da ABC a publicitar o Bristol Club (1927). Jorge Barradas (1894 -1971). Litografia. Colecção particular. |
![]() Capa da ABC a publicitar o Bristol Club (1927). Jorge Barradas (1894 -1971). Litografia. Colecção particular. | ![]() Capa da ABC a publicitar o Bristol Clube: “As Melhores noites de Lisboa”, 1927. Jorge Barradas (1894 -1971). Aguarela sobre papel. Colecção particular. | ![]() Capa da ABC a publicitar o Bristol Club (1927). Jorge Barradas (1894 -1971). Litografia. Colecção particular. |
![]() Capa da Revista ABC, a publicitar o Bristol Club, número 362, ano VII, 23 de Junho de 1927. Jorge Barradas (1894 -1971). Litografia. Colecção particular. |
Uma retrospetiva da obra do pintor e ceramista Jorge Barradas (1894-1971), com 100 obras de coleções particulares e institucionais, foi inaugurada no Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado (MNAC-MC), em Lisboa, a 04 de abril.
Com curadoria do historiador de arte Carlos Silveira, a mostra — a maior realizada até hoje, segundo o MNAC-MC — irá percorrer seis décadas da carreira do também artista gráfico e caricaturista, considerado uma referência da corrente modernista.
Organizada em quatro secções, na Galeria Millennium BCP, a exposição apresentará obras de diferentes formatos e técnicas, desde desenhos a tinta-da-china, ilustrações a aguarela, pintura a guache ou a óleo, peças de cerâmica decorativa, e painéis de azulejos, indica um texto do ‘site’ do MNAC.
O curador acerca das obras da exposição, sublinha o seguinte: “Jorge Barradas no Jardim da Europa” “permite ao publico contactar com a diversidade e sofisticação técnica deste importante modernista português do século XX”.
Barradas é considerado um dos artistas de referência da primeira geração de modernistas, surgida com as exposições do grupo dos Humoristas na década de 1910.
“Para além de se afirmar como um caricaturista inovador, Jorge Barradas foi o mais importante artista gráfico dos anos 1920, cronista das mudanças sociais e da febre de viver do pós-guerra. Foi também o renovador da cerâmica artística, já nos anos 1940, tornando-se num prolífico ceramista de grande aceitação no mercado e solicitado para inúmeras encomendas de cerâmica decorativa, em edifícios públicos e privados, por todo o país”, recorda o investigador, no texto do museu.
Na pintura, o artista empreendeu projetos como uma viagem à ilha de São Tomé em 1930 e reinterpretou movimentos vanguardistas como o surrealismo e a abstração gestual, já na década de 1960, no final da sua carreira.
“A sua obra testemunha a renovação das práticas artísticas em Portugal na primeira metade do século XX”, acentua ainda o investigador Carlos Silveira.
Decorrido um século sobre o auge da produção gráfica de Jorge Barradas, o MNAC-MC “apresenta a maior exposição realizada até hoje sobre este artista multifacetado, cobrindo todo o período de seis décadas de carreira”, afirmou o Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado (MNAC-MC).
A exposição apresenta obras oriundas de coleções institucionais e particulares, sobretudo da Fundação Calouste Gulbenkian e o Museu Nacional do Azulejo, e será publicada uma monografia de referência, da autoria do curador, em parceria com a editora Tinta-da-china.
A mostra — que ficará patente até 27 de Agosto — é realizada no âmbito do protocolo existente entre o MNAC, o Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/NOVA e a Fundação Millennium BCP.
As Revistas ABC
Os anos vinte foram a idade dos clubes e dos "cabarets", em Lisboa. Abriram eles desde 1917, com dinheiro fresco dos negócios da guerra e o primeiro de todos, foi o “Palace” em gosto de neobizantino, situado em frente do Coliseu, e só permaneceu dois anos aberto, tornando-se depois sede da Associação Comercial. Ainda em 1917 abriu o “Majestic” no palácio de Alverca; pouco depois surgiu o “Monumental” que durou onze anos, com uma decoração mourisca e “kitsch” do arquitecto Silva Junior, nos seus salões e pátio. No ano seguinte, surgiu o “Bristol Club”, também situado perto daqueles e apresentava excelentes decorações de Almada, Viana e Soares, graças ao seu empresário que tinha um gosto requintado. A publicidade do Bristol foi concebida por Barradas, através de capas da magnífica revista ABC em 1927.
Em 1918, abriu no Palácio Mayer, o “clube da Avenida” que esteve aberto durante nove anos. No Palácio Foz, instalou-se o maior dos clubes lisboetas, com obras em 1908 e reabrindo só em 1929 com grande publicidade o Maxim's. Em 1923 no Palácio Regaleira surgiu um clube por pouco tempo, onde eram servidos "cocktails" com vários anúncios. Era a bebida nova, que esteve em voga, e também das primeiras e frustadas publicidades da Coca-Cola americana. Acerca desta euforia dos clubes nocturnos alguns cronistas afirmavam como Felix Correira no Diário de Lisboa em 2 de Abril de 1925 que "a mocidade os elege(ra) seu campo de batalha porque o espírito e o luxo, a alegria e o amor cantam lá dentro a eterna canção da vida", "um clube de noite é a síntese da vida moderna: a confusão, a loucura, o delírio...”, “E às três horas da madrugada … cocaína!...” João Ameal salientava que os clubes eram "templos de insónia e tédio". Não havia duvida de que "se mais a noite que de dia" em Lisboa e de que os clubes eram " uma noite digna da capital, nota indispensável para a vida nocturna da cidade.”
Jorge Barradas na publicidade do Bristol Club através das capas do ABC inspirava-se na "Art Deco" interpretando-se à sua maneira moderada, adoçando as formas angulosas numa delicada linha sinuosa de grande elegância e poder expressivo, combinando as cores da moda, como o vibrante tom de laranja (denominada cor tango), os rosas vivo e da begónia, o azul de Delfos, o cinza, o verde-esmeralda, o lilás e o cerise, realizando as melhores capas da ABC, assim como as de 1920 e 1921, tornando-se um dos melhores momentos da ilustração ligada à Mulher desta década e de toda a produção de Jorge Barradas. Neste campo, existia uma diferença entre António Soares e Jorge Barradas. Enquanto o primeiro inventava elegantes com uma vaidade inconfidente, Barradas desenhava as mulheres do seu apetite, numa malícia sensual que definia no sorriso cúmplice dum "putti". As suas capas e ilustrações eram tema quase exclusivo, por moda e por gosto. Representadas umas vezes a corpo inteiro, outras só a meio corpo ou ainda apresentando só o rosto, ele podia podendo então dar a expressão que mais o interessava. Sorridentes na sua sofisticada sensualidade, menos trabalhadas em capas para o ABC de 1922 a 1925, tornando-se mais nostálgicas a partir de 1924 para as suas capas de publicidade do Bristol Club, em que mostravam uma alegria melancólica, dançando, preparando-se ou unicamente esperando. Ninguém como Barradas podia entender este género somático e social do quotidiano lisboeta. Mesmo quando as apresentava como as da capa da Vogue, nunca escondia o rosto português. Observava-as com a mesma delicadeza sentimental das "Mulheres de Vida Difícil" de 1913. Influenciado pelas capas das revistas parisienses esse tique passou para algumas capas do ABC de 1920 a 1921, e era um pretexto para experimentar o prazer do traço finamento como no Chiado às cinco. Silhuetas fugidias algo incorporais e de rosto uniforme, desenhou-as mais elegantes que de observação, até porque tal pose europeia tinha bem mais de imaginária que real em tradição lisboeta.
Theresa Bêco de Lobo