
Jardim Botânico da Ajuda I A recriação do Éden
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Entre um faustoso Palácio da Ajuda, um grandioso Mosteiro dos Jerónimos e uma preciosa Igreja da Memória, emerge um parque único entre nós, agora em fase de recuperação, depois de ter atravessado longas fases de abandono e degradação.
Mandado edificar em 1764 pelo Rei D. José, que chamou o botânico Domingos Vandelli para orientar a obra, o jardim destinava-se a reunir o maior número de espécies vegetais existentes no mundo.
Os três hectares e meio do parque, o primeiro existente em Portugal, tornaram-se, com o tempo, um local privilegiado para o estudo e desenvolvimento da vida vegetal. Beneficiando de óptima localização (dado estar abrigado dos ventos da Serra de Monsanto, com várias nascentes de água e uma exposição solar única), aproveitou um micro-clima especial para se desenvolver e impor.
Nos finais de 1700 tinha cerca de cinco mil plantas, dispostas por áreas geográficas, um Museu de História Natural com um precioso espólio de animais embalsamadas.
Longa decadência
A invasão francesa de 1808 marca-lhe o início de uma decadência longa. O acervo do Museu de História Natural foi totalmente pilhado. Milhares de exemplares passaram a constituir, pela sua raridade e valor, o núcleo inicial do Museu de História Natural de Paris, hoje Museu do Homem, onde ainda se encontram nas reservas.
Reativado após o regresso da corte do Brasil, o espaço tornou-se por intervenção de Avelar Brotero num dos lugares de lazer da família-real.
A abertura em 1873 do Jardim Botânico do Jardim Botânico da Faculdade de Ciências levou, entretanto, à transferência de inúmeras espécies para a zona da Escola Politécnica.
No reinado de D. Luís foram restauradas as estufas, uma delas destinada exclusivamente às orquídeas do monarca. O aquecimento fazia-se a água quente, através de um sistema (o primeiro existente entre nós) importado de Inglaterra.
Após a proclamação da República, o jardim foi aberto ao público, mas depressa se banalizou e caiu no esquecimento.
Nos anos 40, centenas de espécimes raras foram transplantadas para o Jardim Botânico do Ultramar, instalado no antigo parque do Palácio de Belém. Nesta década, por intervenção de Francisco Caldeira Cabral, conhece uma profunda intervenção com novos canteiro modernistas.
Mas a incúria tomou, aos poucos, conta do parque após 1974. O sistema de rega arruinou-se, a maior parte das plantas secou e as estufas degradaram-se.
Renascimento
No início dos anos 90, principiou-se a sua recuperação sob a direcção da arquitecta paisagista Cristina Castel-Branco. Na época restavam 200 espécies botânicas, os jardineiros estavam desmotivados, os visitantes eram poucos.
As obras abrangeram, essencialmente, a reconstrução do tabuleiro superior, dos sistemas de rega e drenagem, a criação de um espaço de aromas destinado a invisuais, e o aproveitamento de estufa para restaurante.
Investiu-se, fundamentalmente, na recuperação das colecções botânicas. De contactos com jardins similares de Espanha, Inglaterra, Alemanha, África do Sul, Macau e Madeira resultaram a cedência de centenas de novas plantas.
As obras custaram cerca de 750 mil euros, provenientes da Comunidade Europeia, do Fundo de Turismo e do Instituto de Agronomia.
Além do jardim, existem ainda duas estufas e uma mata. A manutenção do espaço revela-se complexa, os jardineiros são poucos para cuidarem dos 3, 5 hectares e dos sete quilómetros de buxo.
Inovações
Nas longas obras houve a preocupação de tornar o jardim num espaço vivo e atraente para o público.
A animação passa por convidar escritores para lerem as suas obras infantis e por organizar campos de férias e espectáculos.
Outra das iniciativas foi a concretização da Escola-Oficina de Jardinagem. Os cursos iniciaram-se em 2000, tendo a duração de um ano. O objectivo é formar jardineiros bem preparados e dignificar a profissão. Ao mesmo tempo realizaram-se minicursos para amadores, que têm a duração de uma semana.
A harmonia da atmosfera que se respira na colina da Ajuda, onde se situa, a luminosidade das flores e da vegetação, a melopeia das vozes e ruídos, à distância, voltam a recriar-lhe, como no passado, a geometria oculta de um Éden mítico.

Pormenor do jardim da Gulbenkian
Outros jardins
No nosso país surgiram, no século XVIII, além do da Ajuda, diversos jardins de grande interesse histórico. Entre os mais importantes destacam-se os do Palácio dos Biscainhos (hoje museu) e do Mosteiro de Tibães, em Braga; o da Universidade de Coimbra, do Mosteiro de Landim, (Famalicão), da Casa de Pascoaes, Amarante, do Paço da Glória, Arcos de Valdevez, Palácio Anadia, Mangualde, da Casa da Ínsua (hoje hotel), Penalva do Castelo, da Quinta da Aveleda, Penafiel, da Quinta da Boa Viagem, Viana do Castelo, do Paço Episcopal de Castelo Branco (Museu Tavares Proença), do Palácio do Monteiro-Mor (Museu do Traje) e do Palácio Fronteira, ambos em Lisboa, da Quinta Real de Caxias, do Palácio de Queluz, do Palácio Pombal, em Oeiras, da Quinta de Calhariz, em Sesimbra, do Paço de Vila Viçosa, da Quinta do General, em Borba.
No século seguinte o conjunto foi enriquecido com o jardim da Quinta da Macieirinha (hoje Museu Romântico), da Casa Andresen (Jardim Botânico da Universidade), ambos no Porto, do Bussaco, os da Estrela e Campo Grande, em Lisboa, do Palácio de Monserrate e Condessa d`Edla, em Sintra, da Quinta das Machadas, Setúbal, do Palácio de Estoi (hoje pousada), em Faro, do Palácio Jácome Correia (sede do governo) e do Jardim José do Canto, ambos em Ponta Delgada, e do Hotel Monte Palace, no Funchal.
No século XX surgiram os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, do Palácio Valle Flor (hoje hotel), de Garcia da Orta (Expo), do Parque Vale do Silêncio, em Lisboa, do Parque do Bonfim, Setúbal, da Quinta da Piedade, em Sintra, do Parques de Serralves (hoje museu) e da Cidade, no Porto, do Parque Aquilino Ribeiro, Viseu, da Casa da Brejoeira, em Monção, do Parque do Mondego, Coimbra, do Solar de Mateus, em Vila Real.

(Pormenor do Jardim José do Canto, Fundação José do Canto)
De jardim a fundação
Ao longo de sete gerações o Jardim José do Canto, em Ponta Delgada, tornou-se um caso emblemático de conservação, preservação e renascimento.
O jardim foi plantado por José do Canto, uma personalidade que investiu a sua fortuna em jardins, parques, florestas, plantações de chá e de laranjas em São Miguel.
O jardim foi edificado com o apoio do arquitecto David Moncata, dando-se prioridade às 2000 novas espécies vindas de todo o mundo.
Em meados dos anos 30 século XX, a sua bisneta Maria da Graça de Athayde e o marido, Augusto de Athayde, herdam o jardim e renovam-no com novas plantas. José do Canto é homenageado com uma estátua, da autoria de Xavier Costa, de tamanho natural ao fundo da alameda, edificando-se uma casa de estilo paladino que ficou inacabada.
O chamado Jardim José do Canto torna-se um lugar cimeiro nos Açores pelas actividades empresariais, sociais e filantrópicas dos novos proprietários.
Nos anos 70, a propriedade fica na posse de Augusto de Athayde, filho do casal, que inicia profundas alterações nas décadas seguintes. Os sete hectares do parque são renovados, o primeiro piso da casa é transformado numa estalagem com o objectivo de gerar receitas para a sua manutenção, e, por fim, institui a Fundação José do Canto.
Nas suas memórias, “Uma Vida Qualquer”, Maria da Graça Athayde, escritora que recebeu inúmeros prémios, caso do Nacional do Teatro do SNI, não esconde o fascínio do jardim; “Através de quanto o recordo. Aos 16 anos, deslumbrou-me. Depois de casada, misturou-se à vida, tornou-se um centro, um refúgio, um motivo. Noites de paixão, horas tranquilas, ansiedade, tudo ficou ali”.
António Brás