
Ouro e Tesouros I 3000 anos de ornamentos chineses


Anel com Motivo do Dragão. Ouro. Dinastia Qing, 1644/1911. Fotografia: Picspark Co. Colecção Mengdiexuan. Cortesia L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris.

Fivela de cinto com figura mitológica. Bronze (folha de ouro). Dinastia Han Ocidental, 206 a.C.-8 d.C. Fotografia: Picspark Co. Colecção Mengdiexuan. Cortesia L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris.

Brincos em forma de cabaça. Ouro. Dinastia Ming, 1368/1644. Fotografia: Picspark Co. Colecção Mengdiexuan. Cortesia L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris.

Brincos em forma de lanterna. Ouro. Dinastia Ming, 1368/1644. Fotografia: Picspark Co. Colecção Mengdiexuan. Cortesia L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris.

Pulseira com motivos florais e de pássaros. Ouro. Dinastia Liao, 907/1125. Fotografia: Picspark Co. Colecção Mengdiexuan. Cortesia L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris.

Colar com motivos dos Oito Símbolos Budistas. Ouro. Dinastia Yuan, 1271/1368. Fotografia: Picspark Co. Colecção Mengdiexuan. Cortesia L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris.

Conjunto de ornamentos do cabelo com motivos de dragão. Prata dourada. Dinastia da Canção, 960/1279. Fotografia: Picspark Co. Colecção Mengdiexuan. Cortesia L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris.

Conjunto de placas de cinturão com o músico a tocar cítara. Prata dourada Dinastia Tang (618-907) ou Liao (907-1125) Séculos 10-11 Fotografia: Picspark Co. Colecção Mengdiexuan. Cortesia L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris.

Gancho de cabelo com motivo de fênix. Ouro. Dinastia Song, 960/1279. Fotografia: Picspark Co. Colecção Mengdiexuan. Cortesia L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris.
Até 14 de Abril de 2023, a L'ÉCOLE, School of Jewelry Arts, em Paris, apresenta uma exposição com mais de três mil anos de trabalho de ourivesaria na China, através de uma selecção de obras-primas da Colecção Mengdiexuan.
A exposição está instalada num espaço com ambiente de influência chinesa, que destaca a forma como o ouro encantou o mundo durante milénios. Embora as jóias em ouro tenham raízes nas culturas do antigo Egipto e da Mesopotâmia, elas chegaram à China entre 3.000 e 4.000 anos atrás, quando os artesãos percorriam as mesmas rotas que os comerciantes da Rota da Seda. Algumas das peças mais antigas são do norte da China, como um colar em ouro martelado e uma coroa, mostrando a influência distinta do povo nómada, célebre pelo seu ouro e pelos seus cavalos, que se espalharam por toda a Ásia Central até as margens do Mar Negro. Tudo isto se passou na época em que a China foi unificada sob as dinastias Qin e Han, e, ainda, em que o status do ouro era como a personificação de riqueza e de poder.
Betty Lo e Kenneth Chu começaram a coleccionar objectos preciosos há mais de 30 anos na sua galeria em Hollywood Road, uma das ruas mais antigas de Hong Kong e ainda célebre pelos seus antiquários. Quando receberam de presente um espelho de bronze no aniversário de casamento, eles começaram a coleccionar peças em bronze antes que o seu interesse tivesse evoluido para incluir ouro e outros ornamentos de metal precioso no seu acervo.
“Não fomos à caça ao tesouro”, disse Kenneth. Em vez disso, foram atraídos pela criatividade de como as pessoas usavam esses belos objectos. Ao reunir o seu património, eles olharam para a beleza, a autenticidade e a condição de cada material.
Lo e Chu trabalham em estreita colaboração com investigadores e usam exposições como esta, como uma experiência de aprendizagem. As suas mostras viajaram pela China continental e à volta do mundo.
A L’École des Arts Joailliers, em Paris, foi fundada em 2012, é apoiada pela Alta Joalharia Maison Van Cleef & Arpels, tem construído uma cultura em torno do conceito de jóias ou savoire-faire. As suas três edições cheias de sucesso antes do lançamento oficial da sua escola em Hong Kong, em 2019 iniciaram cursos, vídeos, livros, palestras e exposições sobre a história da arte da joalharia, o universo das pedras preciosas e “workshops” práticos introdutórios à joalharia.
A mostra: “Ouro e Tesouros, 3000 anos de ornamentos chineses”, salienta o caminho que a joalharia seguiu de oeste para leste utilizando técnicas, como martelar, fundir, filigranar e granulação. O período da Colecção Mengdiexuan, vai desde o final da Dinastia Shang, por volta de 1600 a.C., até à Dinastia Ming, de 1368 a 1644, abrangendo a evolução do ouro como um lugar central na civilização chinesa.
Apesar da sua escala, a exposição é em muitos aspectos revolucionária, oferecendo avanços tanto na abordagem da curadoria como nas revelações da colecção Mengdiexuan exibida. Foi montada pelos coleccionadores Betty Lo e Kenneth Chu, que são casados e sócios nos negócios e no património. A China representa “a cultura do bronze e do jade, e não uma cultura de ouro”, disse Lo. Mas eles descobriram, por meio da sua forma de reunir peças, que a China estava aberta às influências de fora docentro geográfico da China.
Um texto taoista da dinastia Han (206 a.C. -220 d.C.) revela a importância do ouro durante essa época: "O ouro é a coisa mais valiosa em todo o mundo porque é imortal e nunca apodrece. Os alquimistas comem-no, e gozam de longevidade". (Wei Boyang, alquimista). Desde o 5º milénio a.C., o ouro tem tido um poder de fascínio e tem sido utilizado por artesãos talentosos para criar jóias e ornamentos com um forte valor simbólico.
Após uma primeira exposição na L'ÉCOLE Asia Pacific em Hong Kong na Primavera de 2021, a mostra chega a Paris com um olhar, com vários significados simbólicos que são decifrados ao longo da exposição.
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É a colecção Mengdiexuan, centrada na arte chinesa, que a L'ÉCOLE, School of Jewelry Arts, em Paris tem a honra de apresentar pela primeira vez ao público na Europa.
O evento está organizado em torno de três temas principais:
A primeira parte oferece uma introdução do ponto de vista científico e gemológico sobre o material e as propriedades do ouro: o que é o ouro? onde é encontrado? que tipo de ouro é utilizado para fazer jóias? Graças às exposições compostas por pepitas, cristais e jóias antigas, a exposição explora todos estes diferentes aspectos.
A exposição centra-se então no conhecimento, com várias técnicas principais: martelagem, fundição, granulação, fio de ouro e filigrana e incrustação. Os colares, pulseiras, brincos, ganchos de cabelo, pregadeiras e fivelas de cinto expostos levam-nos numa viagem ao Império Chinês através da Ásia Central, das Estepes Eurasiáticas, da Mongólia e dos Himalaias. A exposição cobre um período de mais de três milénios, desde a dinastia Shang (cerca de 1500/1046 a.C.) até à dinastia Qing (1644-1911), e apresenta habilidades ancestrais que ainda hoje nos fascinam.
A técnica final apresentada na exposição, a granulação, é um processo de confecção de grânulos de ouro que são usados como decoração, juntamente com incrustações de outros materiais. Entre as jóias de preferência dos colecionadores, sobressai um pente em ouro com incrustações de pedras preciosas, vidro e concha contra um fundo granulado. Além do pente salienta-se uma placa de toucado e outra extremidade do pente em ouro, que apresentam desenhos elaborados em relevo usando granulação. A técnica estava disponível para os artesãos chineses já no período Han Ocidental e esteve na moda desde então até à dinastia Tang, com exemplos como a extremidade do pente em ouro e a placa de toucado. A própria técnica de granulação foi perdida no século XX.
Finalmente, a mostra destaca o poder dos símbolos na arte chinesa, que exibe uma iconografia rica e diversificada que encarna a felicidade, a longevidade, a posição, a prosperidade e, mais genericamente, o auspício. Os ornamentos da Colecção Mengdiexuan oferecem-nos um vestígio desta riqueza simbólica.
Ao trazer a história da arte, savoir-faire, e materiais para o diálogo, a exposição ressoa com a missão prosseguida pela L'ÉCOLE, School of Jewelry Arts, em Paris desde a sua criação em 2012, com o apoio da Van Cleef & Arpels, a de promover as muitas dimensões da arte da joalharia através de cursos, palestras, workshops, exposições, publicações e investigação.
Todo o ambiente do evento atrai o espectador a olhar para as lindas jóias expostas no seu contexto cultural e tecnológico, convidando o visitante a ver como os “criadores” conceberam exemplares tão delicados e fascinantes. Esta mostra, foi montada com tanta harmonia, afastando-se da curadoria tradicional, através dos curadores Valentina Bruccoleri, com o doutoramento em História de Arte Chinesa (Universidade Sorbonne) e Olivier Segura, Gemólogo Científico e director na L’ÉCOLE, School of Jewelry Arts, Paris, apresentando então uma organização admirável, que se inicia com a assinatura atraente das peças e a investigação apurada da natureza do ouro.
Theresa Bêco de Lobo