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Expansão I A conquista de Ceuta

Infante D. Henrique.

Retrato de D. João I.

Infante D. Duarte.

Casamento de D. João I e D. Filipa de Lencastre.

Conquista de Ceuta.

Laudel de D. João I.

Há 600 anos a conquista de Ceuta marcou a expansão portuguesa, tal deve-se, segundo a nossa opinião, a quatro factores. O primeiro foi a vitória de D. João I em 1385 e a sua consequente subida ao trono – apoiado pela baixa nobreza e pelos filhos segundos da grande nobreza, desejosos de obter terras e cargos detidos pelos senhores feudais.

O segundo factor encontra-se no papel da média burguesia que aspirava a maior participação na administração central e,sobretudo, a uma ampla influência nos meios económicos.

O terceiro factor liga-se a franjas do povo desejosas de melhorar as suas condições de vida. O último, e talvez o mais importante, radicava na convicção de que era necessário, para a sobrevivência de Portugal, libertar as rotas marítimas ameaçadas por Castela.

Esta cortava as nossas vias terrestres para a Europa, enquanto os corsários norte-africanos faziam-nos constantes saques junto da costa.

Em 1400 a Península Ibérica estava dividida em quatro estados – Portugal, Castela, Aragão, Navarra e Granada, cada um com interesses políticos e económicos diferenciados.

Tratado de Monteagudo

Portugal e Castela, ao assinarem o Tratado de Monteagudo, partilharam o norte de África (pelo rio Muluia) tendo a segunda ficado com o direito de conquistar o reino de Granada.

D. João I obtém, entretanto, do Papa, em 1411, a bula “Eximie Deuocionis” que permitia às ordens militares portuguesas colaborar na guerra contra os muçulmanos. O documento destinava-se, essencialmente, a contrariar as tendências hegemónicas de Castela e Aragão.

Paralelamente, o nosso País assinava um tratado de paz com Castela e obtinha, por parte de Roma, a nomeação do franciscano Frei Aiumaro de Aurelíaco (ex-confessor da rainha D. Filipa de Lencastre) como bispo de Marrocos.

Portugal estreitava, entretanto, as relações com Aragão a fim de promover uma futura expansão económica no Mediterrâneo, dilatar a fé e conquistar Marrocos. O príncipe D. Pedro parte em 1412 para a Sicília com o intuito de pedir a mão da ex-rainha D. Branca. Esta atitude diplomática deu pretexto à embaixada de parar em Ceuta e recolher informações sobre a defesa da cidade.

Castela fica extremamente apreensiva com o plano português de expansão no norte de África.

Em 1414, em Torres Vedras, na presença dos representantes das Ordens Militares resolve-se conquistar Ceuta. Os preparativos começaram, no entanto, no ano anterior.

Partida para Ceuta

O Rei D. João I, o príncipe herdeiro D. Duarte e os infantes D. Henrique e D. Pedro resolvem levantar o luto (devido à morte da Rainha D. Filipa de Lancastre, a 18 de Julho de 1423) e partir para o Mediterrâneo.

A 25 desse mês, dia de Santiago, padroeiro da luta contra os mouros, a frota, composta por 18 mil homens e duas centenas de embarcações, zarpa do Restelo.

O Monarca capitaneava as galés e o infante D. Pedro as naus. Seguiam ainda D. Henrique, D. Nuno Álvares Pereira e um cidadão inglês, cujo nome se desconhece, em cinco naus repletas de archeiros. A armada chega ao Algarve a 28 de Julho e a 9 de Agosto atravessa de noite, para não alertar os mouros, o estreito de Gibraltar. No dia seguinte atraca em Algeciras, ficando os árabes bastante perturbados. A viagem, curta mas fustigada pelo mar, prossegue até à baía de Ceuta.

A expedição reorganiza-se com dificuldade. A moral dos embarcados ressente-se. Muitos pensam desistir. Os muçulmanos tentam atacar a frota mas esta encontra-se longe do seu alcance. Alguns portugueses vão a terra travando diversas escaramuças.

 

A conquista

D. João I incita à conquista de Ceuta argumentando que foram gastos anos de preparativos que custaram fortunas ao erário público.

Finalmente resolve-se atacar a cidade por mar. D. Henrique avança sobre Almira, enquanto o monarca se posta com os seus navios ao largo.

Na manhã de 21 de Agosto dá-se o desembarque, algo desordenado.

Após reencontros na praia, D. Henrique e D. Duarte, com cerca de meio milhar de homens, avançam sobre Ceuta aproveitando a fraqueza do inimigo.

O Rei, após ter recolhido informações especiais, manda proceder a uma grande desembarque. Dão-se duros combates nas ruas de Ceuta. Ao fim do dia a cidade estava dominada e conquistada.

D. João desembarca e recolhe-se a uma mesquita. Os infantes D. Pedro e D. Henrique reúnem-se na mesquita maior com os membros do Conselho que decidem conquistar, na madrugada seguinte, o castelo. A fortaleza havia sido, no entanto, abandonada por Salh ben Salah, governador de Ceuta, após ter-se apercebido da sua fraqueza. Os invasores entram no castelo e hasteiam a bandeira de São Vicente. Durante a noite as tropas saqueiam a cidade, actos que Zurara atribui aos militares de mais baixa condição.

Portugal vitorioso

D. João I manda emissários a Castela e Aragão a fim de revelarem que os portugueses haviam conquistado para a cristandade um porto de vigilância e defesa.

A mesquita-maior é transformada em igreja, na qual D. João I arma seus filhos cavaleiros. Discute-se se se deve manter ou não Ceuta. Alguns dizem que a cidade está muito longe do reino, o que tornava especialmente dispendiosa a sua manutenção. A maioria da nobreza, apoiada pelo clero, apoia, no entanto, a sua manutenção.

A escolha do governador revelou-se caótica. O condestável D. Nuno Alvares Pereira recusou sê-lo argumentando a sua idade já avançada; o marechal Gonçalo Vasques Coutinho teve a mesma atitude; Martim Afonso de Mello achou o lugar mais perigoso que proveitoso. Finalmente D. Pedro de Meneses aceitou o cargo, o que dilatou o prestígio da sua linhagem.

O regresso da família-real e da maior parte dos combatentes deu-se a 2 de Setembro, antes de D. Pedro ser elevado a Duque de Coimbra e D. Henrique a Duque de Viseu e Senhor da Covilhã.

Ceuta, que marcou o início da expansão portuguesa, tornar-se-ia uma fonte de prejuízos para o nosso País.

Dos inúmeros saques feitos na cidade existem – espalhadas pela Quinta dos Condes da Carnota, em Alenquer, e pelo seu jazigo no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa – , seis colunas, que fizeram parte de um conjunto de 24 trazido por D. João I. No Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, preservam-se oito colunas retiradas pelo Infante D. Pedro do palácio do governador de Ceuta.

A nível documental destacam-se, no Arquivo da Torre do Tombo, a Crónica de D. João I de Fernão Gomes (1418-1419) e a Crónica da Tomada de Ceuta de Zurara (1410-1420).

Na Biblioteca Nacional de Paris preserva-se a Crónica dos Feitos da Guiné, também de Zurara, com uma iluminura retratando, segundo alguns especialistas, o Infante D. Henrique.

António Brás

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