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Duques de Windsor em Cascais 

Capa de livro

Duques de Windsor e Ricardo e Mary Espirito Santo, em Cascais

Os Windor a caminho das Bahamas

Eduardo e Wallis com Richard Nixon

Wallis Simpson, príncipe Carlos, duque de Edimburgo e a Rainha Isabel II

Duquesa de Windsor

Casamento dos Windsor

Os duques em Miami

Wallis como presidente da Cruz Vermelha

Os Windsor nos Estados Unidos

Banqueiro, empresário e mecenas de grande sucesso, Ricardo Espírito Santo (1900-1955) albergou os Duques de Windsor em Julho de 1940. Amigo do duque de Kent, o banqueiro tinha uma atitude ambígua, sentia simpatia pelo Reino Unido, mas não deixava de negociar com os alemães.

 

Um livro, recentemente traduzido para português, revela-nos toda a vida dos Duques de Windsor, destacando a sua passagem pelo nosso País. 

 

Em Cascais, na zona da Boca do Inferno, frente ao Atlântico, encontra-se uma moradia rosa. Trata-se da antiga casa de verão de Ricardo Espírito Santo Silva. De estilo tipicamente português, por ela passaram a família real espanhola, os Condes de Paris, o Rei de Itália e os Duques de Windsor.

Ricardo Espírito Santo era uma visita afectuosa de São Bento todos os domingos.  

                                                                                                                                                                                                                Salazar dedicava-lhe, aliás, simpatia e confiança.

 

Nos Anos 40 a zona do Guincho era, na verdade, inóspita e desabitada, daí ter sido escolhida para albergar os Duques de Windsor por facilitar a vigilância por parte das autoridades portuguesas e inglesas. Na época havia o receio de serem raptados pelos alemães.

 

O ex-rei só aceitava voltar para Inglaterra, caso a mulher fosse aceite pela família-real e tivesse o tratamento de Sua Alteza Real.

 

O pedido nunca seria aceite, morreria Wallis, duquesa de Windsor. 

 

“A situação portuguesa era explosiva. Membros da polícia secreta treinados por Himmler estavam de guarda por toda a parte. Estava em andamento um plano alemão para levar a cabo um golpe de Estado que derrubaria (…) Salazar”, escreve Charles Higham.

 

Winston Churchill enviou um telegrama duro, onde considerava um perigo a presença do duque na Europa dadas as suas as simpatias pró-nazis, oferecendo-lhe o cargo de governador das Bahamas. 

 

O Arcebispo de Canterbury defendia, no entanto, que o ex-rei devia ser enviada para as Falkland, onde não representaria perigo.

 

O duque não teve alternativa. A 4 de Julho aceitou o cargo de governador, a 10 essa nomeação foi publicada em Londres.

 

Os duques de Windsor continuam a movimentar-se no eixo Cascais-Lisboa. O embaixador espanhol Nicolas Franco, irmão do ditador, aconselhou o ex-rei a ficar na Europa, a ajudar o povo britânico a negociar e a arranjar um novo líder. 

O embaixador alemão, barão Oswald von Hoyningen-Huene, negoceia com a duquesa. A estratégia passava por formar um novo governo inglês dirigido pelo duque, os alemães pensavam que Jorge VI abdicaria devido aos bombardeamentos contra Londres.

 

Wallis Simpson resolveu, entretanto, agradecer a hospitalidade ao banqueiro e mudar-se para o Hotel Avis.

Ricardo Espírito Santo informou imediatamente Salazar e a embaixada inglesa, recebendo a seguinte mensagem: “Por amor de Deus, não faça nada e sobretudo não os instale num hotel. A cidade esta cheia de espiões alemães e correm boatos de que vão tentar raptar o duque”.

 

Os duques acabam convencidos a permanecerem em Cascais.

 

Wallis Simpson; “era de uma simpatia e simplicidade extremas”, segundo a família Espírito Santo.

O ex-rei confessou a Ricardo Espírito Santo; “estar impressionado com o desejo de paz do führer, que se coadunava totalmente com o seu ponto de vista”, escreve Charles Higham.

 

No dia da partida, Salazar recebeu o duque que tentou insinuar-se como um mediador de uma eventual paz. O presidente do Concelho evitou fazer qualquer comentário, fora aconselhada pela diplomacia britânica para não incentivar nem desincentivar a partida do antigo rei.

 

A 1 de Agosto, os duques partem. Às 17h30 chega Wallis acompanhada por Mary Espírito Santo ao porto de Lisboa, às 18h15 Eduardo na companhia de Ricardo Espírito Santo. O paquete não acostara, estava ao largo do rio Tejo, obrigando o casal a partir em lanchas para embarcar no Escalibur. O casal ocupou seis cabines duplas, tinha 85 malas como bagagem. O pessoal do navio possuía infiltrados agentes secretos que relatavam o quotidiano até às Bahamas, onde Eduardo e Wallis permaneceriam até ao fim da II Guerra Mundial.

 

O casal regressou à Europa em Outubro de 1945, fixando-se em Paris, a partir iniciou uma incessante vida social entre França e os Estados Unidos.

 

Portugal só apareceria no roteiro dos Windsor em Agosto de 1969. Nesse mês chegaram ao Estoril, hospedando-se na casa de Antenor Patinõ, o chamado rei do estanho da Bolívia, que no ano anterior dera uma festa memorável para centenas de convidados vindos do mundo inteiro.

 

O casal visitou a sua antiga anfitriã Mary Espírito Santo Silva que passava o verão na casa de Cascais. 

 

Os visitantes adoraram a casa faustosa de Antenor e Beatriz Patinõ, a frota de Rolls Royces, os jantares, deixando Portugal “revigorados” no seu dizer.

 

A década seguinte ser-lhes-ia funesta: o duque morreria em 1972, a duquesa adoecia poucos anos depois, morrendo em 1986.

 

Antenor Patinõ faleceu em 1982, a mulher Beatriz em 2009. A sua sumptuosa quinta de Alcoitão é hoje um condomínio fechado, o recheio disperso em sucessivos leilões. 

 

Ricardo Espirito Santo desapareceu inesperadamente em 1955. Salazar escreveu ao duque de Palmela; “era um dos nossos poucos valores internacionais e a sua morte representa uma grande perda para o País”.

 

O banqueiro, segundo a revista Point de Vue, criara um ambiente único; ”a grande distracção dos reis no exilio é irem às recepções de Ricardo Espírito Santo, milionário que, depois de ter coleccionado a louça de ouro dos czares, os faqueiros brasonados de famílias francesas na bancarrota, rendas venezianas e cristais da Boémia que pertenceram a ricos proprietários húngaros, diverte-se a colecionar reis. Recebe-os frequentemente à sua mesa na companhia de armadores e negociantes de açúcar, que ficam muito honrados por cumprimentar estes hospedes importantes e por despejar sobre eles títulos tão pomposos quanto brilhantes”.

 

Mary Espiríto Santo faleceu em 1978, vendo-se obrigada nos últimos anos a leiloar obras de arte, a vender o apartamento de Paris e a alugar a sumptuosa casa de Lisboa. A moradia de Cascais manteve-se na posse da família, mas está no mercado imobiliário dada a hetacombe que surgiu à família.

 

A 400 metros situa-se a Casa de Santa Maria, nela passava o verão Manuel, irmão de Ricardo Espírito Santo, casado com uma Isabel Pinheiro de Melo, irmã da duquesa de Palmela. A casa num local de convívio de exilados. Aos domingos enchia-se de praticamente todas as casas reais que almoçavam e desfrutavam da praia privativa.

 

A moradia perdeu na actualidade a privacidade com a construção da marina de Cascais. O município comprou-a em 2004, transformando-a num centro cultural. As suas salas com frescos, azulejos e tectos apainelados deslumbram os visitantes, mas nada lembra os tempos da realeza.

António Brás

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