
Tesouro real I Um novo museu português
![]() Salvas manuelinas | ![]() Laça de 1700 | ![]() Faqueiro português do século XVIII |
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![]() Terrina da Baixela Germain | ![]() Gomil do século XVI | ![]() Cofre Furtunato Pio Castelhani Itália, Roma c.1862 |
![]() Serviço de ouro de D. José |
A nova ala do Palácio da Ajuda vai acolher o Museu do Tesouro Real, que será inaugurado no próximo dia 1 de Junho.
O valioso acervo vai ficar no interior de uma casa-forte com alta segurança, totalmente independente das outras alas do Palácio da Ajuda.
A exposição vai dividir-se em 11 núcleos, integrando joias, moedas e medalhas, objectos de prata, alfaias litúrgicas e paramentos, retratos e antigos mantos dos reis da Dinastia de Bragança.
"Após mais de dois séculos do lançamento da primeira pedra, em novembro de 1795, pelo príncipe regente, D. João, e depois de várias vicissitudes na história trágica da construção do palácio, finalmente deu-se a coincidência de um grupo de personalidades ter tido a coragem de acabar com a maldição que sobre ele se abatia", comenta o arquiteto João Carlos Santos, responsável pelo projeto e atual diretor-geral do Património Cultural.
O Palácio da Ajuda demorou mais de 200 anos a ser terminado. Ao longo dos anos sofreu abandonos, degradações e incêndios constantes. O velho edifício conheceu entre 1863 e 1910 um período faustoso ao tornar-se residência de Dom Luís e D. Maria Pia. A monarca encomendou por toda a Europa móveis, sedas, pinturas, esculturas, pratas, cristais, porcelanas e têxteis que rapidamente tornaram a velha casa numa confortável residência.
200 toneladas de pedra
O Palácio da Ajuda possui uma área bruta de 12 mil metros quadrados e usaram-se mais de 200 toneladas de pedra lioz na construção das suas fachadas. O conjunto arquitetónico tem 4 alas, embora corresponda a um terço do projecto inicial. As invasões francesas, a independência do Brasil e a guerra civil entre liberais e absolutistas levaram ao abandono das obras.
A ala poente ficou incompleta até ao século XXI, os sucessivos projectos de Possidónio da Silva, Raul Lino e Gonçalo Biyne nunca passaram do papel.
A ambicionada conclusão teve início em 2016, segundo projecto do arquitecto João Carlos Santos, uma obra claramente limitada e moderna. A nova estrutura em vidro com lâminas verticais, que deixam entrar a luz no interior, acolhe no terceiro e quartos andares uma casa-forte com dez metros de largura e dez de altura. No interior tem 72 vitrines repartidas por 11 núcleos expositivos. A s obras orçaram em 31 milhões de euros, verbas do Ministério da Cultura , Câmara Municipal de Lisboa e do fundo de desenvolvimento turístico da capital.
Acervo único
Do valioso acervo do novo museu sobressai o chamado tesouro da dinastia de Bragança. Sobressaindo as joias e pratas de origem portuguesa, europeia e norte-americana, abrangendo um período temporal do século XVI ao XX.
Da coleccção foram selecionadas para a exposição as principais obras, uma escolha nem sempre fácil.
As obras mais antigas é constituído por salvas manuelinas, outrora da colecção de D. Fernando II, marido de D. Maria II.
A Baixela Germain impõe-se pela sua raridade e variedade, tendo sido usada em banquetes desde desde o reinado de D. Maria I aos nossos dias.
As peças mãos emblemáticas são a coroa real e o ceptro, executados em ouro em 1817, e usados na coroação de D. João VI e todos os seus sucessores.
Do numeroso conjunto de joias, umas de aparato e outras mais intimistas, destacamos a laça setecentista em ouro, brilhantes, esmeraldas e prata, e o numeroso conjunto de joias oitocentista de Castellani.
O chamado tesouro tem sido engrandecido por algumas aquisições, algumas no período do Estado-Novo e outras mais recentes.
Infelizmente diversos acontecimentos depauperaram a colecção, especialmente as partilhas após a morte de D. João VI e D. Fernando II. A proclamação da República provocou a entrega de numerosas joias a D. Amélia e a D. Manuel II, quase todas hoje em paradeiro incerto. Uma tiara de D. Amélia apareceu recentemente num leilão em Singapura, e o Estado português falhou na sua aquisição.
As pratas e joias de D. Maria Pia, hipotecadas pela monarca no Banco Burnay, foram leiloadas em 1911, reavendo em tempos recentes o Palácio da Ajuda três peças.
As joias e condecorações de D. Manuel II foram leiloadas em Genebra, em 1991, perante a total indiferença do Estado português.
A República espalhou por diversos museus parte da ourivesaria da Casa de Bragança. O Museu de Arte Antiga recebeu parte da Baixela Germain e o serviço em ouro de D. José[U1] , o Museu Soares dos Reis algumas peças indo-portuguesas, e o Museu Numismático parte da colecção de moedas.
O novo museu de Lisboa revela-se um momento alto da cultura portuguesa. O chamado tesouro real revela-se, apesar das perdas, um conjunto que está ao nível de outros tesouros de casas reais da Europa.
António Brás