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Fundação Medeiros de Almeida Paixão pela arte

Cena de comercio, óleo de Peter Brueghel, o novo, 1619

Cómoda Luís XV, estampilhada por Roussel

Baixela dos Duques de Richmond, Inglaterra, 1814/4

Terrina de Paul Storr

Medeiros e Almeida por Henrique Medina

Margarida Pinto Basto, mulher do colecionador, retratada por Medina

Móvel inglês da autoria de John Webb, 1853/4

Nascimento de Adonis, tela de Boucher

Morte de Adonis, François Boucher

Margarida de Parma, miniatura de António Moro

Velho Homem, Tiepolo Filho, 1696/1770

Piano Érard, França, 1887

Relógio-Barómetro, Baillon, Paris, 1750

Pregador, prata, diamantes e pérolas, Portugal, século XIX

Caixa de rapé, ouro e diamantes, Berlim, 1885, encomenda do grão-duque Michael, irmão de Nicolau II

Cães, porcelana da China, dinastia Qing

Gomil, dinastia Ming, 1519, encomenda do Rei D. Manuel

Fonte de parede, porcelana da China, família verde, dinastia Qing, 1660/1729

Nome de referência no mundo da banca (Totta&Açores), no comércio (automóveis), na indústria (fábricas de álcool, açúcar e tabaco), nos transportes (Companhia Aérea Portuguesa e Sata) e na comunicação social (Correio dos Açores), António Medeiros e Almeida revelou desde muito novo interesse pela arte. 

O empresário frequentou os grandes leilões internacionais, mas também era presença assídua nos mais conceituados leiloeiros e antiquários portugueses.

“Um dia vendi-lhe, de uma só vez, dois serviços da Companhia das Índias, quatro estátuas italianas, um lustre e duas cómodas, tudo por 580 contos”, evocou-nos em 2001 o leiloeiro Alexandre Fernandes. “Hoje, só as duas terrinas valem 3 mil contos”. 

O resultado foi uma enorme colecção de arte constituída por 11 mil obras, hoje exposta na Casa-Museu Medeiros e Almeida. 

A sede da fundação é um palacete oitocentista, ampliado em 1970, onde o benemérito viveu. Ao longo de 28 divisões, revestidas a mármore, parquets, apainelados, azulejos e tectos de carvalho, podemos comtemplar obras desde 206 a.C. ao século XX. As peças encontram-se dispostas com invulgar meticulosidade e bom gosto.

 

Carinho de criança

A casa-museu abriu ao público em 2001, após obras orçadas em 500 mil euros, que consistiram na criação de zonas de apoio, em sistemas de segurança e na montagem da galeria de terracotas e porcelanas da China.

O acervo encontra-se exposto em dois pisos do imóvel: no primeiro encontra-se a colecção de relógios considerada das mais valiosas do mundo. É, aliás, a mais original da Europa. Constituem-na 600 exemplares, datados de 1600 a 1968, tendo alguns pertencido a Fouquet, ministro de Luís XIV, ao general Junot, ao Duque de Wellington, a Sissi da Áustria, a D. Pedro V e a D. Maria Pia de Sáboia. Seguem-se-lhe a sala que guarda terracotas e porcelanas chinesas dos últimos 20 séculos, e a capela, cujo altar barroca é proveniente do Palácio Burnay, onde destacamos alabastros medievais ingleses, paramentos italianos e um púlpito indo-português.

No átrio do chamado anexo, estaciona um curioso carrinho de criança, preparado para ser puxado por um pónei ou ovelha e que foi do Marquês do Douro, filho do Duque de Wellington.

O andar principal foi outrora palco de grandes recepções, como as oferecidas aos príncipes do Mónaco e ao embaixador inglês Lord Camphell.

“Tratava-se de um dos mais requintados e luxuosos salões de Lisboa”, escreveu a escritora Maria da Graça de Athayde, amiga dos donos da casa.

 

Antepassados de Diana

Os interiores encontram-se mobilados como no tempo em que eram habitados. Na sala de jantar expõem-se três baixelas, duas  em porcelana da China, outrora dos Condes de São Martinho e de Pombeiro, e uma em prata de Paul Storr encomendada pelos Duques de Richmond, antepassados de  Diana, princesa de Gales. Trata-se da mais completa baixela inglesa existente em Portugal, a outra dos Duques de Palmela foi dispersa por partilhas e vendas nas últimas décadas.

Na antiga copa, sobressaem um serviço de chá de Firmo da Costa que acompanhou Napoleão no seu exílio na ilha de Santa Helena. O núcleo de pratas é, no entanto, dominado pela Taça Aldobrandini, mandada executar em 1570. Trata-se de uma das obras mais importantes da ourivesaria europeia quinhentista.

Na Sala do Lago, revestida com azulejaria portuguesa de 1700, representando os continentes e as estações do ano, alinham-se esculturas, uma delas de Rafaello Monti. Nas vitines vêem-se caixas de rapé, algumas utilizadas por Francisco José da Áustria, D. Maria II e pelo irmão de Nicolau II da Rússia, e conjuntos de jóias portuguesas dos séculos XVII ao XX.

 

Herdade completa

No mobiliário, realçam-se os de origem francesa, caso de uma cómoda Luís XV assinada pelo ebanista Roussel, e que, em 1947, um antiquário português conseguiu adquirir e trazer para o nosso país. O Diário Popular salientava, na altura, que o móvel valia “o preço duma herdade completa com vacas e tudo”.

A colecção incorpora, ainda, conjunto de canapés e cadeiras Luís XVI estampilhadas por Lelarge, e um par de cómodas Luís XV do marceneiro Criaerd.

O núcleo pictórico, apesar de não ser vasto, integra óleos de Van Goyen, Moro, Ribera, Brueghel, Tiépolo, Boucher, Pillement e Delacroix, bem como da escola de Rembrandt.

De origem nacional, destacam-se obras de Frei Carlos, Veloso Salgado, Henrique Medina, João Vaz, Carlos Botelho, e Jorge Barradas, além de uma papeleira D. José, considerado um dos melhores móveis da nossa marcenaria.

Carpetes orientais cobrem o chão, sendo algumas paredes revestidas a tapeçarias de Beauvais e da Flandres. Uma delas, datada de 1520, representa “Cristo a caminho da cruz”, sendo baseada numa pintura de Rafael pertença do Museu do Prado. Esta obra, que faz par com outra existente no Vaticano, tem integrado diversas exposições internacionais.

A Fundação Medeiros e Almeida afirma-se cada vez mais no panorama dos pequenos grandes museus do mundo, e um dos melhores 10 museus portugueses,  pela excepcionalidade do espólio que guarda.

 

Teresa Vilaça

A directora da Casa-Museu, Teresa Vilaça, vai reformar-se em Novembro, após mais de 30 anos de intenso e marcante trabalho. 

“Três anos, após a morte de António Medeiros e Almeida, ocorrida em 1986, aos 91 anos, iniciaram-se os trabalhos de inventariação e abertura da casa ao público”, revelou-nos Teresa Vilaça.

“A administração convidou Simonetta Luz Afonso para os dirigir, mas ela não pode aceitar. Então, vim eu e mais duas pessoas do Palácio de Queluz”. 

A casa-museu foi inaugurada em 2001, e nos anos seguintes abriu a zona privada composta por sala de estar, escritório e quarto. Estas divisões exemplificam os interiores da alta burguesia da primeira metade do século XX. Numa sala especial revelou-se, por sua vez, parte da colecção de 300 leques dos séculos XVIII ao XX.

O estudo exaustivo e a organização de mostras temáticas do acervo foi algo marcante nas últimas décadas.

Teresa Vilaça abriu ainda a instituição aos novos criadores, sendo inauguradas largas dezenas de exposições de pintura, vídeo, fotografia, instalação, etc.

A casa-museu organizou ainda mostras de outras colecções privadas, de brinquedos, de jóias, etc.

As visitas guiadas tornaram-se, por outro lado, de grande imaginação.

Os lançamentos de livros foram outra actividade de relevo.

Paralelamente criaram-se novas estruturas, caso de um atraente site, uma imaginativa loja e uma agradável cafetaria.

A casa-museu está assente numa pequena equipa e nos oscilantes rendimentos provenientes de um edifício de escritórios.

António Brás

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