
Isabel I I A Senhora dos Mares
![]() A rainha na juventude, 1546 | ![]() Isabel I em 1546 | ![]() A monarca plena de poder em 1563 |
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![]() A gloriosa soberana em 1588 |
Ao morrer a 24 de Março de 1603, a Rainha Isabel I de Inglaterra deixava ficar um reino próspero, bem como uma imagem única devido à dedicação total ao cargo que desempenhara durante décadas.
A Inglaterra pouca importância tivera no panorama europeu até aos fins do século XV. O seu poderio marítimo impôs-se a partir do reinado de Isabel I (A Senhora dos Mares), para isso contribuindo a derrota de Espanha e o consequente enfraquecimento da sua armada.
O País é a mais antiga monarquia constitucional do mundo. As leis das liberdades públicas remontam a 1215, como o Bill of Rights, o Act of settlement, o Habeas Corpus, etc. O Parlamento é constituído por duas Câmaras: a Alta ou dos Lordes (alvo de reformulação nos anos 90 do século XX) e a Baixa ou dos Comuns.
Clima turbulento
Isabel I ascende ao poder em 1558 e, no ano seguinte, é coroada no meio de um clima bastante turbulento. Os principais bispos recusaram-se a participar na cerimónia por ela ser protestante e filha ilegítima (segundo o catolicismo) de Henrique VIII.
A coroação acabou por ser efectuada por Owen Oglethorpe, bispo de Carlisle, que utilizou na cerimónia o latim pela última vez, após o que foi substituído pelo inglês.
Uma das primeiras medidas de soberana foi a de assumir o título de “Suprema Governante da Igreja Anglicana”, bem como a de impor o Acto de Supremacia - que obrigava os funcionários públicos a fazer juramento reconhecendo a autoridade da rainha sobre a igreja.
Tratado com Portugal
Em 1576 Londres assina um Tratado de Paz e Comércio com D. Sebastião e, seis anos depois, apoia materialmente D. António Prior do Crato numa (fracassada) expedição militar.
A política inglesa tenta diminuir a interferência política da Espanha no nosso País, apesar do Rei Filipe II (I de Portugal) a ter ajudado a terminar as guerras italianas com a adopção do lema "A Inglaterra para os ingleses".
As intrigas palacianas para o seu casamento pressionaram, praticamente, mas em vão, toda a vida de Isabel I que acabou por ficar conhecida como a “Rainha Virgem”.
Ainda hoje os historiadores se questionam sobre essa atitude da soberana. Entre as várias hipóteses de explicação para tal, pode ser avançada a do trauma sofrido pelo tratamento que o pai infligiu às suas constantes mulheres; ou a de que houvesse sido afectada psicologicamente pela suposta relação com Lorde Seymour durante a sua infância.
Segundo outros, a monarca tinha um defeito físico que não queria revelar, possivelmente marcas da varíola. Historiadores há que defendem o facto de ela não se consorciar para não compartilhar o poder político nem os bens materiais. O casamento iria, na verdade, afectar-lhe a independência económica, pois as propriedades herdadas do pai apenas seriam suas enquanto fosse solteira.
A ida ao altar levantava-lhe ainda duas opções: ou casava com um príncipe estrangeiro e corria o risco de perder o poder, como acontecera com sua irmã Maria, ou desposava um nobre inglês e elevava (à condição dinástica) uma família de súbditos.
O manter-se solteira e afirmar publicamente que "tinha desposado o seu País", foi uma opção política ardilosa que lhe deu excelentes condições para governar - e uma enorme popularidade.
A sucessão
O problema da sucessão será um assunto que a acompanhará, mas Isabel I nunca chegou a especificá-lo. Pouco antes de morrer afirma que “somente um rei poderá herdar o trono”. Com isso, eleva Jaime VI da Escócia a Jaime I da Inglaterra – o que marca o fim da dinastia Tudor e o início da Stuart. Ao tornar rei o filho de Maria Stuart e sobrinho de Isabel, a Inglaterra e a Escócia unem-se, o que leva o protestantismo a triunfar definitivamente.
A era isabelina encontra-se associada a um renascimento do teatro, que a monarca muito apreciava. Durante o seu reinado o dramaturgo e poeta William Shakespeare (1564-1616) escreve e impõe peças que são representadas com enorme sucesso em Londres e se fazem obras primas da Humanidade.
O Castelo de Windsor, nos arredores da capital, é objecto de grandes transformações. A histórica edificação torna-se uma das residências preferidas de Isabel I. Ainda hoje se conservam nas suas colecções preciosos retratos da monarca da autoria de Nicholas Hilliard.
Guerras e tréguas
Em 1580 dão as Rebeliões de Desmond, na Irlanda, que acabam por ser controladas três anos depois. Ao mesmo tempo, Filipe II assume o trono português e o comando do alto-mar. A Grã Bretanha resolve, então, apoiar as Províncias Unidas dos Países Baixos que se haviam revoltado contra Madrid. Esse apoio, bem como a pirataria inglesa contra as colónias madrilenas, conduziu à deflagração da Guerra Anglo-Espanola em 1585.
Descobre-se, nessa altura, a conspiração organizada por Babington visando assassinar a monarca. Maria Stuart, sua irmã, é acusada de estar envolvida e acaba por ser executada em 1587,com grande pesar de Isabel I. No seu testamento, a Rainha da Escócia deixa a Filipe de Espanha o direito de reivindicar o trono inglês. Como consequência, aquele resolve atacar as ilhas britânicas em 1588 com uma armada de 130 navios. Isabel I vive o momento mais dramático do seu reinado e, num discurso às tropas inglesas, afirma que “tenho o corpo de uma mulher fraca e frágil, mas tenho também o coração e o estômago de um rei - e de um rei de Inglaterra”.
A Invencível Armada espanhola vê-se vencida. A popularidade de Isabel I explode. A guerra continua, porém, nos Países Baixos que lutam pela independência e, em França, onde o protestante Henrique IV reivindica o trono.
Londres enviou 20 000 homens e enormes subsídios para ajudar Henrique IV, além de 8 000 tropas e avultadas verbas para os holandeses. Henrique IV acaba por converter-se ao catolicismo, mas Isabel permanece sua aliada para equilibrar as forças politicas europeias.
A imortalidade
A monarca inglesa continua a apoiar os navios corsários ingleses que atacam os barcos e os territórios espanhóis. Em 1596 Robert Devereux, Earl de Essex (favorito da rainha) incendeia a cidade algarvia de Faro. Antes, pilha a famosa biblioteca de Dom Fernão de Mascarenhas, bispo da cidade e futuro Inquisidor-Mor de Portugal. O seu acervo encontra-se actualmente na Bodleian Library, em Oxford.
O mito
Isabel I adoeceu em Fevereiro de 1603 sofrendo de “fraquezas e insónias”. Acaba por morrer a 24 de Março no Palácio de Richmond, em Londres. Tem sessenta e nove anos de idade e foi o mais longo reinado na Inglaterra até esse período. Foi enterrada na Abadia de Westminster ao lado de sua prima Maria, Rainha da Escócia. O epitáfio do túmulo em latim é significativo: “Parceiras no trono e na sepultura, descansamos aqui duas irmãs, Isabel e Maria, na esperança de uma ressurreição”. A monarca torna-se uma figura mítica e alguns historiadores afirmam que Isabel II ao ascender ao trono, em 1952, criou uma nova era, a isabelina.
António Brás