
Condes - Barões do Alvito I Ascensão e queda de um clã
![]() O Barão de Alvito em traje de corte. | ![]() D. José Lobo da Silveira Quaresma, Marquez-barão d'Alvito | ![]() O Marquês do Alvito em 1863. |
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![]() O aristocrata posando num estúdio, cerca de 1890. | ![]() Numa recepção em Vila Viçosa com D. Carlos, D. Amélia e o Rei Afonso XIII de Espanha. |
A figura de José Lobo da Silveira, último Marquês de Alvito, e uma das principais figuras da corte de D. Luís e D. Carlos acaba de ser motivo de um fascinante livro recentemente editado. A sua autora, Alexandra Forjaz, descendente dos Lobo da Silveira, investigou durante anos a história da sua família. Vivendo na Holanda, engenheira em agronomia, aproveitou as férias entre nós para pesquisar a história do clã de 1475 a 2020.
Uma das principais casas nobres portuguesas foi criada em 1475 quando o Rei D. Afonso V tornou o João Fernandes da Silveira, Barão da Vila do Alvito. O título, o primeiro baronato português, tinha o raro privilégio de ser de “juro e herdade para sempre sem carecer de mais licença régia”.
D. João Fernandes da Silveira foi ao longo da vida, 1420-1484, regedor das fazendas, chanceler-mor, escrivão de puridade daquele monarca e vedor da fazenda.
Filho de Fernando Afonso, formado em leis pela Universidade de Bolonha e desembargador, era neto de Afonso Martins que se distinguiu como militar e embaixador em Castela. Enviado especial a França negociou o casamento entre a Infanta D. Isabel e o Duque de Borgonha.
O seu bisavô, Martim Afonso de Sousa, senhor de Baião, era neto de Afonso Diniz, filho legitimado do Rei D. Afonso III. O 1º barão detinha ainda os senhorios de Oriola, Vila de Aguiar e Ribeira de Nisa, sendo ainda aparentado de D. João Lopo, bispo de Tânger.
Os seus descendentes não descuraram o engrandecimento da Casa de Alvito. O Rei D. Manuel concedeu-lhes, em 1506, um novo brasão. Em vez de utilizarem as suas armas primitivas (um campo de prata com cinco lobos postos em quina), passaram a usar um escudo com castelo de orla e bordadura de ouro em campo vermelho.
Alcácer-Quibir
O 5º Barão do Alvito, D. Rodrigo Lobo da Silveira, acompanhou, com o seu pai D. João Lobo da Silveira, o Rei Dom Sebastião a Alcácer-Quibir,e pretendeu, desesperado, «prender o monarca» perante a derrota eminente. D. Rodrigo, preocupado com a obsessão do jovem soberano em combater os mouros, foi procurar Frei João da Silva, irmão do Bispo do Porto, dizendo-lhe: “Padre, porque não prendemos este homem que nos deita a perder por seu gosto?” O frade terá respondido: “É tarde, senhor!”. O 5º Barão do Alvito não desistiu das suas intenções e respondeu: “Melhor é tarde que nunca.”
Frei João da Silva terá dito: “Não há remédio, porque anda cercado de lisonjeiros que o enganam e não há quem se atreva a dizer-lhe a verdade, nem ele a admite”. E o nobre rematou: “Pois se assim é, Padre Nosso pelo rei, pelo reino e pelos vassalos”.
O desfecho da Batalha de Alcácer-Quibir foi, como se sabe, desastroso para Portugal. O 4º Barão, D. João Lobo da Silveira foi morto enquanto combatia. O filho, D. Rodrigo, feito prisioneiro, voltou a Portugal após o pagamento de um avultado resgate.
Lisboa e Alvito
Os Barões de Alvito viveram ao longo de séculos dos seus morgadios, habitando ora o solar-acastelado da vila, ora os palácios de Lisboa. A sua riqueza foi sempre grandiosa, em comparação com a maioria da nobreza nacional.
As mercês régias continuaram a ser constantes. Em 1653 o Rei Dom Afonso VI distinguiu o 7º Barão, Luís Lobo da Silveira, com o título de Conde de Oriola. No século seguinte, em 1766, Dom José concede ao 10º Barão, D. José António da Silveira, a honraria de 1ª Marquês de Alvito, pelos serviços prestados como Marechal do Exercito, conselheiro de Estado e presidente do Senado da Câmara de Lisboa.
A Rainha Dona Maria I declarou 12º Barão, D. José António Plácido Lobo da Silveira Quaresma, 1769-1844, que “os títulos de Barão de Alvito e Conde de Alvito são de juro e herdade, na forma da lei mental, com dispensa dela, no que necessário for”. Este aristocrata exerceu os cargos de Par do Reino, de estribeiro-mor de D. Pedro IV e de gentil-homem da Câmara da Rainha Dona Maria II.
A partir da segunda metade do século XVIII os barões do Alvito usaram também o título de condes-barões e deram o nome a uma conhecida rua de Lisboa. Nesta artéria situou-se de 1606 a 1755 a sua residência oficial, possuindo outras no Bom Sucesso e em Santa Apolónia.
Ao longo dos tempos, os Alvito ligaram-se às mais importantes famílias portuguesas, caso dos morgados da Sertã, Calhariz, Monfalim, Fonte do Anjo, Condes da Vidigueira, Condes de São Vicente, Duques de Cadaval, Condes de Oriola, Marqueses de Borba e Condes do Redondo, Senhores da Patameira e Torre da Caparica, e ainda estrangeiros como os Condes de Rappach e Princípes de Lamberg.
Fim dos morgadios
A extinção dos morgadios, em 1863, aboliu o direito do filho primogénito herdar e provocou o desagregar das grandes propriedades.
Numa carta, datada de 1858, para o seu filho António, a Condessa de Rio Maior desabafava: “Eu estou longe de ser contra os morgadios; acho que são necessários num país como o nosso; em que não há grandes fortunas; e que se eles acabassem, dentro de duas ou três gerações a propriedade estaria de tal maneira dividida que seríamos todos “muito pobres”. O derradeiro 15º Barão, 4º Conde e 4º Marquês de Alvito, José Lobo da Silveira, é o exemplo perfeito da decadência e da pobreza. Nascido em 1826 foi par do reino hereditário e membro da corte de D. Luís e de D. Carlos. Herdou um vastíssimo morgadio constituído por diversos imóveis em Lisboa e vastas herdades no Alentejo, incluindo o castelo-solar na Vila de Alvito. Casou a primeira vez aos 22 anos com D. Mariana de Sousa Coutinho, única filha do abastado 15º Conde de Redondo.
“Por muito sumptuosas foram faladíssimas as bodas realizadas em Lisboa no senhorial Palácio de Santa Marta… Mas a mãe da noiva teve uma criança do sexo masculino e portanto senhor da casa, pois nessa ocasião ainda não se tinham abolido os morgadios“, escreve nas suas memórias Thomaz de Mello Breyner.
Durante toda a sua vida, o derradeiro senhor da Casa de Alvito desfez-se de grande parte do património, tendo alienado os palácios de Lisboa, as herdades do Alentejo e, por fim, vendido ao Rei D. Carlos o Castelo do Alvito.
Após a proclamação da República, o Barão, com 83 anos, retirou-se para o Castelo do Alvito, mandado construir por um seu antepassado em 1454, onde vivia do rendimento do derradeiro património. Morreu aos 91 anos, em 1917.
Desta forma terminou uma das principais casas nobres do nosso País.
A viúva, Carolina Duarte, com quem casara em 1903, acompanhou-o dedicadamente. A velha senhora refugiou-se em Lisboa, onde morreu em 1936.
Resquícios da Casa Alvito
Actualmente a representação da Casa de Alvito está vaga, mas existem inúmeros descendentes da família espalhados por ramos distintos.
O Castelo do Alvito, restaurado em 1946, foi adaptado em 1992 a uma pousada, por a Fundação da Casa de Bragança não ter possibilidades de o preservar. Do seu recheio sobram uma imagem do “Senhor Morto” , um par de candelabros e um raro paramenteiro indo-português – actualmente exposto no Paço Ducal de Viça Viçosa. O resto do património (móvel), incluindo o valioso arquivo, está em paradeiro incerto, como revela a preciosa investigação de Alexandra Ferraz.
O palácio do Conde - Barão, em Lisboa, vendido no século XIX aosCondes de Pinhel, ostenta ainda hoje azulejos que evocam o passado grandioso da família, tectos com pinturas representando paisagens e um claustro renascentista, mas a velha edificação caminha para a ruína.
No Arquivo da Torre do Tombo, em Lisboa, preserva-se apreciável documentação régia relativa às doações, privilégios e posse de haveres referentes à Casa de Alvito – durante séculos uma das importantes do nosso País.
O livro de Alexandra Forjaz recupera a memória desta importante família, um exemplo a seguir por outras famílias portuguesas.
António Brás
Alexandra Forjaz
Posfácio
Este livro teve como objectivo reconstituir a vida do último Marquês Barão do Alvito e dos seus irmãos procurando, por outro lado, resgatar a memória desta antiga casa, e encontrar uma justificação para o desmembramento da família. O que se terá passado nesta última geração para que a transmissão do testemunho, dos quinhentos anos de história tenha sido interrompida, que nem retratos, nem recordações tenham chegado às gerações seguintes?
A obra trata da busca e colecta de informações, bem como da análise explicativa do que poderá estar na origem da desagregação familiar.
Alexandra Forjaz, descendente de D. Isabel Juliana Lobo da Silveira, irmã do Marquês Barão, licenciou-se em engenharia agronómica, mas é apaixonada por História e histórias, tendo dedicado anos a esta investigação sobre a sua família.

