
Artes plásticas portuguesas de 2000
![]() Adriana Molder - O Rumor | ![]() Adriana Molder | ![]() Bela Silva |
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![]() Bela Silva | ![]() Gonçalo Mexia | ![]() Gonçalo Mexia |
![]() Isabel Contreiras Botelho | ![]() Isabel Contreiras Botelho | ![]() Miguel Palma |
![]() Miguel Palma | ![]() Pedro Pinto Coelho | ![]() Pedro Pinto Coelho |
![]() Vasco Araújo | ![]() Vasco Araújo |
Grupos de portugueses estiveram, nos últimos 20 anos, a inovar os sectores criativos a que se dedicam, como o vídeo, a instalação, a pintura, o desenho, a escultura e a joalharia. As suas obras sucedem-se, revitalizando mostras, museus, fundações, galerias com ousadia e paixão, inconformismo e criatividade, por vezes invulgares. Constituem os chamados inovadores das artes plásticas.
A sua geração, maioritariamente hoje entre os 40 e os 50 anos, ganhou visibilidade crescente. Alguns desfrutam já de projecção internacional.
Os cursos de Belas-Artes têm-se, aliás, expandido nas últimas décadas ao longo do País. Centenas de formandos saem todos os anos das suas escolas, acabando muitos por se impor devido ao apoio de estruturas comerciais que lhes divulgam e transaccionam os trabalhos.
O mercado que os envolve nunca esteve tão animado como nas últimas décadas. Nos centros urbanos, as galerias de arte generalizam-se suprindo uma função de que o Estado se demitiu. Raros são, com efeito, os espaços oficiais que promovem de maneira planificada os novos criadores. Raras são, igualmente, as compras que museus e entidades públicas fazem.
Foram as grandes empresas que passaram, a partir dos Anos 90, a investir em obras de arte contemporâneas. Os coleccionadores privados têm igualmente crescido, abandonando o gosto conservador que os caracterizava desde o século XIX.
Para esta mudança teve influência decisiva a inauguração em 1995, por exemplo, do Sintra – Museu de Arte Moderna.
“Os anos 90 foram marcados pela inovação. A partir daí as instituições passaram a investir de forma continuada nas suas áreas”, revela-nos um professor da Ar.Co. que solicitou anonimato. Esta escola possui 650 alunos, divididos por todas as vertentes das artes plásticas.
Comunicabilidade do vídeo
Um dos artistas que mais se tem projectado na área do vídeo é João Onofre. Aos 46 anos tornou-se uma referência num sector onde se destacam nomes como Rui Toscano, Ana Pwerez-Quiroga, Ana Pinto, Filipa César, Francisco Queirós, entre outros.
“Sou pintor de formação, mas sempre achei que o vídeo era a melhor forma de comunicar”, pormenoriza-nos.
Nas suas obras, o artista explora sobretudo o quotidiano das pessoas, desmontando-o e passando mensagens a nível sonoro e visual.
Ajudado pelos maestro do coro da Unversidade de Lisboa, João Onofre transcreveu músicas electrónicas e digitais para a voz humana. O projecto valeu-lhe o Prémio União Latina, tendo sido apresentado nos Estados Unidos , na Alemanha e em Espanha.
“As vendas têm corrido bem, principalmente ao nível das instituições, Cada vídeo custa entre os 2500 e os 10 mil euros, demorando quatro meses a realizar”.
Actualmente, trabalha com galerias de Lisboa, Barcelona e Nova Iorque, cidades onde está representado em importantes colecções.
Instalações irresistíveis
Aproveitando os desperdícios que a sociedade de consumo vai multiplicando, Joana Vasconcelos cria obras de uma imaginação transbordante. Com 50 anos, a artista é detentora do Prémio EDP, tendo exposto nas fundações EDP e Serralves, nos palácios da Ajuda e de Versalhes, entre outros locais.
“A minha geração enfrenta um espírito de sobrevivência e de competição fortíssimo”, destaca-nos.
“O interesse pela instalação tem crescido, mas não existem muitos espaços públicos para expor o nosso trabalho”, acrescenta.
Bonga, Mário Lusitano, Leonor Antunes, Nuno Sacramento, Miguel Palma, entre outros nomes de igual evidência neste campo.
Pintura florescente
A pintura é o sector mais apoiado entre nós, dado ter o maior número de artistas e compradores a dedicar-se-lhe.
“Existem novos, como em todas as épocas, com enorme talento”, especifica-nos um crítico de arte que pede anonimato.
Entre eles destacam-se Paulo Damião, Gil Maia, Bela Silva, Joaquim Luz de Jesus, José Rosinhas, Inez Wijnhorst, Adriana Molder, Catarina Patrício Leitão, Barbara Assis Pacheco, Tomás Colasso, José António Almeida, Gonçalo Mexia, João Galrão, Paula Carreira, Santiago Ribeiro, Vasco Araújo, Pedro Pinto Coelho e Isabel Botelho Contreiras, entre outros.
O primeiro, Paulo Damião, com 45 anos, tem ganho diversos prémios. “Isso permitiu-me contactar com galeristas que passaram a conhecer o meu trabalho”, exclama. O expressionismo é-lhe uma característica individualista. “A minha pintura exprime o meu estado de espírito, embora seja influenciado pelo renascimento”, frisa-nos.
Escultura
A escultura experimentou alterações profundas nos Anos 80 devido a intervenções como José Pedro Croft e Pedro Cabrita Reis. Na década seguinte perdeu, no entanto, alguma visibilidade, levando muitos jovens a desinteressar-se dela. Os que resistiram fizeram-no, porém, com determinação e ousadia, caso, por exemplo, de Daniel Oliveira, Vanessa Muscolino, Ricardo Tomás, José Viriato, Suzanne Themitz, Noé Sendas e Davina de Brito. Esta artista seguiu a tradição familiar, o avó e o pai pintavam, levando-a a inscrever-se na Faculdade de Belas Artes.
Nascida em 1971, Davina de Brito recria em ferro, veludo e madeira os “habitats” de diversos seres vivos, enfatizando os seus elementos eróticos. Paralelamente virou-se para a medalha, onde lhe surgiram encomendas gratificantes. A medalhística portuguesa desenvolveu-se, alias, de forma vanguardista, sendo hoje reconhecida a nível internacional. “Optei por ser professora de artes visuais para ter Liberdade de fazer apenas aquilo de que gosto”, específica.
A escultura ainda é vista pelas entidades oficiais como pretexto de monumentos para comemorar acontecimentos e homenagear figuras, não como fruição pública. É um conceito oitocentista que perdura entre nós.
Joalharia
Este sector tornou-se uma modalidade em desenvolvimento. As novas jóias são frequentemente executadas com materiais inovadores, afastando-se dos tradicionais ouro ou prata.
Nuno Cunha, Patrícia Iglésias, Pedro Cerejeira, Alexandre Marques, Leonor Silva, Inês Calado e Rute Marques são, nela, alguns dos nomes afirmados que lhe fazem crer no futuro.
“Resolvi dedicar-me à joalharia dado gostar desde criança de trabalhos manuais. Em 1999 conclui o curso e comecei a trabalhar por conta própria”, revela-nos Alexandre Marques, de 47 anos. “Crio anéis, pulseiras, colares, utilizando madeira, acrílico, tinta, ouro, prata e pedras preciosas. Faço-os em interligação com a escultura”, pormenoriza-nos.
Imensas potencialidades
“Temos jovens com imensas potencialidades em todos os sectores criativos. Se muitos acabam por perder-se, outros conseguem com persistência e coragem dignos de toda a admiração afirmar-se e impor-se”, revela-nos um professor universitário.
A selecção dos nomes que apresentamos, incompleta, é discutivel como todas as selecções, resultou de escolhas feitas, a nosso pedido, por especialistas ligados ao ensino, à crítica e a instituições do sector.
Prémios, colecções e galerias
Nos últimos anos têm-se criado prémios de artes plásticas que são incentivos a muitos criadores. Entre eles destacam-se na pintura os do Casino do Estoril, da Celpa/Vieira da Silva e Maluda (ambos terminaram), Sonae/Media Art, Fidelidade, Amadeo de Souza-Cardoso, Rothschild; na escultura os de Dorita Castel-Branco e City Desk; na medalhística os das bienais de Seixal, Cerveira e Maia; nas artes plásticas os de D. Fernando II, Francisco Wandschneider e Fundação EDP. Os valores monetários oscilam, sendo atribuídos por empresas, municípios e galerias.
Das instituições que adquirem regularmente obras de arte a jovens autores destacam-se as fundações Gulbenkian, Serralves, Luso-Americana e Carmona e Costa, os museus do Chiado, Berardo, Sintra e a Caixa Geral de Depósitos.
Novos espaços
O Museu do Chiado tornou-se um casulo para as novas linguagens plásticas, tendo desenvolvido um programa através do qual apoia trabalhos de vanguarda, como as mostras de Alexandre Estrela, João Tabarra e Miguel Palma. O Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, Culturgest, Centro Cultural de Belém, Fundação Medeiros e Almeida, Serralves, Museu Amadeo Souza-Cardoso, Casa da Cerca em Almada, Museu do Caramulo, MU.SA – Museu de Artes de Sintra e a Sociedade Nacional de Belas Artes têm seguido idêntica linha.
A galeria do Casino Estoril realizou, por sua vez, nas últimas décadas centenas de exposições. Entre elas as dedicadas aos jovens saídos das faculdades de Belas Artes de Lisboa e do Porto, alguns dos quais são hoje nomes marcantes.
As galerias continuam a ter um importante papel na afirmação artística dos pintores, destacamos em Lisboa a 111, Modulo, São Mamede, Filomena Soares, Wozen, Galeria 36, Valbom, Carlos Carvalho e a 3+1 Arte Contemporânea.
No Porto sobresaem as galerias Fernando Santos, Pero Oliveira, Kubik Gallery, Squid Ink Works e Nuno Centeno.
As leiloeiras Cabral Moncada, Renascimento, Veritas, Palácio do Correio-Velho, Bestnet, em Lisboa, e a P55, São Domingos, no Porto, desempenham outro papel na divulgação e venda dos trabalhos de muitos criadores plásticos.
António Brás