Inaugurada a 17 de Novembro a exposição “Viagens” de António Vasconcelos Lapa vai estar patente no Museu do Azulejo, de 18 de Novembro a 30 Abril de 2023. Mostra composta por 70 peças de cerâmica, que o autor denominou de “Viagens”.

 

De uma grande diversidade a sua obra cerâmica é composta por: painéis de azulejos, altos e baixos-relevos, peças tridimensionais de faces sorridentes, cabeças de aves, instalações que desabrocham dos espaços, árvores que se elevam poeticamente, fauna e floras exuberantes.

 

De grande importância foram as viagens que Vasconcelos Lapa fez nos últimos anos, através de florestas tropicais no Sudoeste Asiático, aqui reproduzidas por peças cerâmicas. Exemplares, multi-sensoriais, de cores vibrantes, produzindo sons, como saídos de um conto de fadas. 

 

Percorrendo os magníficos objectos expostos, destacam-se uma romãzeira que deixa cair um fruto no chão, um bambu verde e vigoroso, um grande grupo de peças de cores vivas que floresce num ambiente aquático...

 

Nestas peças magníficas, podem-se observar folhas e mais folhas em cálidos tons outonais que dão vida e trazem cor a um chão cinzento e frio de pedra calcária.” Acabados de cair”, formando como que uma praga outonal! São centenas, feitas uma a uma, num toque de magia, todas igualmente irresistíveis. 

 

É na fase “Vicente” que aparece como constante na obra de António Vasconcelos o discurso multissensorial. Cores e vidrados exuberantes associados a elementos tácteis móveis e articulados, feitos para serem tocados produzindo sons, oferecendo-se à mão, como se fossem brinquedos para crianças. Uma verdadeira festa para os sentidos.

 

Um Mundo de “Cabeças no Ar”

Poucas peças transmitem de uma forma tão directa o humor que tanto marca a personalidade de António Vasconcelos Lapa. Bastam alguns momentos de contacto com o artista, para que se aperceba deste traço tão marcante, tão seu. A sua obra é a materialização do seu perfil.

 

Saindo do espaço controlado de uma das salas, a exposição prolonga-se pelos jardins, claustros e galerias do antigo convento da Madre de Deus, reinventando as áreas nobres do museu, interpelando os visitantes e interferindo no circuito da visita. 

​

Sobre o artista: 

António Vasconcelos Lapa expõe desde 1984, com presença assídua em inúmeras exposições individuais e colectivas, estando representado em muitas coleçcões, nacionais e estrangeiras. Com larga experiência no campo da cerâmica, tapeçaria e tecelagem, foi professor do Curso de Cerâmica do IADE durante trinta anos. 

 

O Museu do Azulejo apresenta Vasconcelos Lapa de forma detalhada, expondo peças que motivam o elogio à narratividade lúdica e poética da sua obra. As peças do ceramista são por vezes esmagadoras na sua imensurável “arte surrealista”, simplesmente fascinantes. Do seu mundo saltam criaturas fantásticas que voam, nadam, balançam, brincam e dançam. Algumas das mais recentes criações do ceramista incluem frutas estranhas, animais impossíveis, sereias e peixes voadores, uma constante e uma das suas marcas distintivas. Vários painéis representam um universo feminino, com mulheres, pavões, uma taça de flores e ramagens entrelaçadas em ziguezague. Organizados em pares (dois rostos femininos, duas mulheres de corpo inteiro, dois pavões e duas ramagens) não há um painel que siga a receita do outro: a variedade surge, mais uma vez, como atributo fundamental. O seu atelier parece ser um laboratório de experiências. Ora pinta e vidra sem mais nada, ora cola e aplica restos cerâmicos de peças antigas (cacos de louças e partes de azulejos do século XVII e XVIII), ora aplica, mais uma e outra vez, os seus inesgotáveis elementos tácteis de qualidades sonoras. O universo botânico de Vasconcelos Lapa é tão único que é facilmente reconhecível em qualquer contexto. Com ele nasce toda uma série de novos espécimes que poderiam ser chamados "Vasconcelianos" em honra do seu criador.

 

Este percurso de descoberta, que começa nas obras, irá perdurar com certeza nas nossas memórias. 

 

Uma Exposição a não perder!

​

Theresa Bêco de Lobo