
A revista Life e o Poder da Fotografia
![]() Queimador de chamas, Ann Zarik, 1943. impresso em cerca de 2000, Margaret Bourke-White (Americana, 1904-1971). Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Margaret Bourke-White. © Colecção de Fotografias LIFE. Cortesia Princeton University Art Museum. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. | ![]() Sra. Nelson e os seus dois filhos fora da sua lavandaria que opera sem água corrente, 1936. Margaret Bourke-White (Americana, 1904-1971). Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Margaret Bourke-White. © Colecção de Fotografias LIFE. Colecção Howard Greenberg Collection-Museum, adquirida com fundos doados pelo Phillip Leonian e Edith Rosenbaum Leonian Charitable Trust. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. | ![]() Invasão da Normandia no Dia D, Soldado que Avança pelo Terreno, 1944. Robert Capa (Americano, 1913-1954). Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Robert Capa © International Center of Photography / Magnum Photos. Colecção Howard Greenberg Collection-Museum, adquirida com fundos doados pelo Phillip Leonian e Edith Rosenbaum Leonian Charitable Trust. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. |
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![]() Na época da Inundação de Louisville, 1937. Margaret Bourke-White (Americana, 1904-1971). Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Margaret Bourke-White. © Colecção de Fotografias LIFE. Colecção Howard Greenberg Collection-Museum, adquirida com fundos doados pelo Phillip Leonian e Edith Rosenbaum Leonian Charitable Trust. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. | ![]() Ficha de Contacto do Filme 3-D, 1952. Jay Eyerman (Americano, 1906-1985). Fotografia, impressão em gelatina de prata, folha de contacto Fotografia J.R. Eyerman. © LIFE Picture Collection. Colecção de imagens da Life. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. | ![]() O público assiste a filmes com óculos 3D, 1952. J.R. Eyerman (Americano, 1906-1985). Fotografia, impressão em gelatina de prata, folha de contacto Fotografia J.R. Eyerman. © LIFE Picture Collection. Colecção Howard Greenberg Collection-Museum, adquirida com fundos doados pelo Phillip Leonian e Edith Rosenbaum Leonian Charitable Trust. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. |
![]() Barragem de Fort Peck, Montana, 1936. Margaret Bourke-White (Americana, 1904-1971). Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Margaret Bourke-White. © Colecção de Fotografias LIFE. Colecção de imagens da Life. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. | ![]() Life, 23 de Novembro de 1936 (Fotografia da capa de Margaret Bourke-White), 1936. Life Magazine (1883-1972). Publicação periódica ilustrada. Fotografia: Life Magazine. © LIFE Picture Collection. Colecção de imagens da Life. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. | ![]() Limpador do Alto-Forno, Bernice Daunora, parte do Grupo de Topo da Carnegie-Illinois Steel Corp., usando aparelhos de protecção respiratória por vapores de gás em fuga, 1943. Margaret Bourke-White (Americana, 1904-1971) Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Margaret Bourke-White. © Colecção de Fotografias LIFE. Colecção de imagens da Life. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. |
![]() Jovem a Tocar Guitarra na prisão, Tule Lake Internment Camp, Newell, Califórnia, 1944. Carl Mydans (americano, 1907). Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Carl Mydans. © LIFE Picture Collection. Colecção International Center of Photography, the LIFE Magazine Collection, 2005. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. | ![]() Folha de Contacto com Molduras do Célebre Conjunto do Fotógrafo Alfred Eisenstaedt, com a Imagem do Marinheiro que beija a Enfermeira e outras imagens das celebrações do Dia da Victória no Times Square, 1945. Alfred Eisenstaedt (Alemão 1898–1995). Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Alfred Eisenstaedt. © LIFE Picture Collection. Colecção de imagens da Life. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston | ![]() O Marinheiro a beijar a Enfermeira no Dia da Victória no Times Square, 1945. Alfred Eisenstaedt (Alemão 1898–1995). Fotografia, impressão em gelatina de prata Fotografia: Alfred Eisenstaedt. © LIFE Picture Collection. Colecção Alan and Susan Solomont Colecção de imagens da Life. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston |
![]() Imagem estroboscópica do ginasta campeão intercolegial Newt Loken fazendo saltos no chão, 1942. Gjon Mili (Americano, 1904–1984). Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Gjon Mili. © LIFE Picture Collection. Colecção de imagens da Life. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston | ![]() Red Jackson, Harlem, New York, 1948 Gordon Parks (Americano, 1912–2006) Fotografia, impressão em gelatina de prata. Fotografia: Gordon Parks. Courtesy of and copyright The Gordon Parks Foundation. Colecção Princeton University Art Museum Cortesia Museum of Fine Arts, Boston | ![]() (p. 96-97) [Artigo Harlem Gang Leader], 1948 Life Magazine (1883-1972) Periódico ilustrado. Da Revista LIFE, 1 de Novembro de 1948, páginas 96-97. Fotografia Gordon Parks. Créditos do Texto© 1948 LIFE Picture Collection. Cortesia e copyright The Gordon Parks Foundation. Colecção Princeton University Art Museum. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. |
![]() Luz laser vermelha focada através de uma lente, que faz um furo de ponta através de uma lâmina de barbear num milésimo de segundo, 1962. Fritz Goro (Alemão, 1901 - 1986). Fotografia, transparência a cores. Fotografia de Fritz Goro. © LIFE Picture Collection. Colecção de imagens da Life. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. | ![]() Vintage NASA Fotografia da Apollo 11 a Aterrar na Lua, 1969. National Aeronautics and Space Administration (NASA) Fotografia, impressão digital tipo C ou cromogênica. Colecção Abbott Lawrence Fund. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston | ![]() Sem título (Peiping), 1948. Henri Cartier-Bresson (Francês, 1908-2004). Fotografia, impressão em gelatina de prata. Henri Cartier-Bresson © Fondation Henri Cartier-Bresson / Magnum Photos. Colecção de imagens da Life. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. |
![]() Gang Leader, 2022. Alexandra Bell, (Americana, 1983) Serigrafia, colada em papel e impressão de pigmento de arquivo sobre papel. Fotografia © Museum of Fine Arts, Boston Cortesia da Artista. | ![]() Life Magazine, Abril 19, 1968, 1995. Alfredo Jaar,(Chileno,1956). Conjunto de três impressões pigmentadas em papel Innova. Créditos da imagem: © Alfredo Jaar. Cortesia Alfredo Jaar and Galerie Lelong & Co., New York. Cortesia Museum of Fine Arts, Boston. |
A maioria das fotografias impressas e apresentadas nos Estados Unidos da América no período desde a Grande Depressão até à Guerra do Vietname, apareceram nas páginas de revistas ilustradas. Entre elas, a Life, publicada semanalmente de 1936 a 1972, a qual era ao mesmo tempo extraordinariamente popular e visualmente revolucionária. As estimativas para o número de pessoas que partilharam cada exemplar da Life em espaços como salas de espera e escritórios - sugerem que a revista pode ter chegado regularmente a cerca de uma em cada quatro pessoas no país. Os fotógrafos que trabalharam para a Life testemunharam alguns dos momentos mais marcantes do século XX - e o uso da fotografia pela revista moldou a forma como muitos americanos experimentaram, perceberam e recordaram estes eventos.
A exposição “A revista Life e o Poder da Fotagrafia” foi Co-organizada pelo Museum of Fine Arts, Boston, e pela Princeton University Art Museum, oferecendo um olhar revelador sobre os processos de colaboração por detrás de muitas das imagens e ensaios fotográficos mais reconhecidos, amados e controversos da publicação.
A mostra reúne mais de 180 objectos, incluindo impressões originais da imprensa, folhas de contacto, guiões de filmagem, memorandos internos e layouts mostrando assim o acesso sem precedentes aos arquivos de imagens e textos da Life. Adicionados ao evento para a sua apresentação no Museum of Fine Arts, a mostra incorpora também trabalhos dos artistas contemporâneos, como Alexandra Bell, Alfredo Jaar e Julia Wachtel, onde destacam as suas reflexões críticas sobre o fotojornalismo e a política das imagens, que enquadravam conversas urgentes sobre preconceitos implícitos nos meios de comunicação social contemporâneos.
O evento está em exibição até 16 de Janeiro de 2023 na Galeria Ann e Graham Gund do Museum of Fine Arts of Boston.
Acerca deste acontecimento, Matthew Teitelbaum, director do Museu de Boston, disse o seguinte: "Esta grande exposição é um convite para os nossos visitantes admirarem uma época em que as fotografias começaram a influenciar eventos e narrativas mundiais - e como continuam a fazê-lo actualmente. O uso pioneiro da fotografia na vida moldou importantes diálogos do século XX nos Estados Unidos da América em torno da guerra, raça, tecnologia, arte e identidade nacional. Através de uma generosa colaboração com a Princeton University Art Museum, estamos a explorar este processo num contexto de uma forma mais crítica e complexa do que nunca, e num momento em que as tecnologias de distribuição têm evoluído".
A mostra foi da curadoria de Kristen Gresh, Estrellita e Yousuf Karsh Curador Sénior de Fotografias no Museum of Fine Arts; Katherine A. Bussard, Peter C. Bunnell Curador de Fotografia na Princeton University Art Museum; e Alissa Schapiro, curadora independente e candidata ao doutoramento em História da Arte na Universidade Northwestern. Em 2016, os curadores estiveram entre os primeiros a investigar profundamente na Time Inc. e na Records Archive, que foram recentemente disponibilizados na New-York Historical Society.
Em 2019, o Museum of Fine Arts e a Princeton University Art Museum tornaram-se os primeiros museus a ter acesso total à Colecção de Imagens da LIFE, o arquivo fotográfico da revista. (A exposição estreou em Princeton em Fevereiro de 2020, mas fechou após três semanas devido à pandemia da COVID-19).
A exposição e o livro que a acompanhava surgiram a partir destas inigualáveis oportunidades de investigação, que ajudaram a avançar com novas perspectivas académicas sobre o jornalismo pictórico da Life. O livro foi nomeado como o vencedor do Prémio Alfred H. Barr Jr. de 2021 para bolsas de estudo em museus.
"Estou encantado por estar a acrescentar três momentos contemporâneos à exposição em Boston. Através de obras poderosas e provocadoras de Alexandra Bell, Alfredo Jaar e Julia Wachtel, que interrogam os meios da comunicação social através da sua prática, os espectadores são convidados a reflectir sobre o consumo dos meios de comunicação social contemporâneos e sobre as nossas narrativas históricas herdadas", disse Gresh.
Visão geral da exposição
Entre os mais de 30 fotógrafos apresentados na mostra, como Margaret Bourke-White, Robert Capa, Henri Cartier-Bresson, Frank Dandridge, Alfred Eisenstaedt, Charles Moore, Gordon Parks e W. Eugene Smith. O evento também destaca as contribuições das mulheres para o sucesso da revista, como Bourke-White, cuja monumental imagem da barragem de Fort Peck agradou a primeira edição, assim como os editores de imagens, como Peggy Sargent e Natalie Kosek. A exposição salienta a fotografia da Life, através da visão do seu fundador, Henry R. Luce, com os seus pontos de vista, que influenciou as suas equipas editoriais e a demografia dos seus leitores, conseguiu promover uma perspectiva predominantemente branca e de classe média sobre política, vida quotidiana e cultura, mesmo ao documentar alguns exemplos do país com racismo e xenofobia.
A mostra faz questão de traçar a abordagem complexa, e por vezes contraditória, da Life a tais histórias através da inclusão de obras de fotógrafos de diferentes origens e perspectivas que captaram imagens difíceis de discriminação étnica e violência racial, desde o Holocausto à violência supremacia branca dos Anos 60.
A exposição está dividida em três secções históricas, intercaladas com momentos contemporâneos emersivos.
A primeira secção, " Obter a Imagem", centra-se na criação das fotografias Life, explorando múltiplos factores tais como os detalhes do trabalho e as próprias decisões do fotógrafo sobre a melhor forma de captar as imagens necessárias para construir uma história. Assim que um fotógrafo completou um trabalho, os seus rolos de filme e notas não revelados foram enviados para os escritórios da Life, onde as equipas editoriais seleccionaram imagens e determinaram como adaptá-las para a página impressa. A segunda secção, "Elaboração de Histórias Fotográficas", examina a realização de um ensaio fotográfico, um formato com visuais deslumbrantes e um texto mínimo que a Life afirmou ter inventado. O complexo processo envolveu editores de fotografia, directores de arte, artistas de “layout”, escritores, investigadores e verificadores de factos na construção de cada página. A terceira secção, " O Impacto Fotográfico da Life", considera o poder e o alcance da revista, cuja circulação atingiu um pico de 8,5 milhões em 1969. Aqui, a exposição explora não só as respostas dos leitores - que escreveram cartas ao editor e até ofereceram assistência a indivíduos perfilados na revista - mas também como a Life perpetuou a sua própria influência ao arquivar as suas fotografias e ao utilizar a sofisticação técnica e o conhecimento dos negócios para ultrapassar os seus concorrentes.
As obras contemporâneas de Alfredo Jaar (Santiago, Chile, 1956), Alexandra Bell (1983) e Julia Wachtel (1956) aparecem em momentos emersivos instalados entre as três secções históricas. Jaar questiona a ética da representação e a política das imagens nas suas fotografias, instalações, filmes e novas obras mediáticas.
A exposição apresenta Real Pictures (1995) do seu Projecto de Ruanda e a estreia nos Estados Unidos da America da sua instalação multimédia “The Silence of Nduwayezu” (1997) da mesma série. Inclui também o triptico Life Magazine, 19 de Abril de 1968 (1995), no qual se manipula a fotografia icónica da revista do cortejo fúnebre do Dr. Martin Luther King Jr. para apontar o número desproporcionado de negros que se lamentavam em relação aos brancos. Da mesma forma, obras da série Bell's Counter-narratives (2017/18) destacam preconceitos raciais em páginas anotadas do The New York Times. Finalmente, num trabalho recentemente encomendado, onde Wachtel responde directamente a fotografias da Life e envolve-se num discurso crítico profundo sobre cultura e política popular, assim como consumo dos meios de comunicação social.
Estas são, em qualquer caso, o tipo de grandes questões provocadas por esta publicação fascinante, que também nos pode levar a medir a distância entre o fim da Life, que deixou de se publicar há 50 anos (ultrapassado pela televisão e por programas noticiosos em formato de "revista" como "60 Minutos").
A exposição convida os espectadores a reconsiderar algumas das imagens mais populares e revolucionárias que a LIFE publicou nas suas edições semanais de 1936 a 1972. Estas fotografias enquadraram uma grande parte do reconhecimento da política e cultura internacional da América ao longo de grande parte do século XX.
Na mostra, os arranjos de foto-ensaio da LIFE são examinados criticamente da perspectiva de uma nova era sócio-política, oferecendo uma visão sem precedentes sobre os perigos distintos dos meios de comunicação contemporâneos e a complexidade da sua construção. Os arranjos revelam os fundamentos invisíveis das poderosas narrativas formadas pela revista, ilustrando como a fotografia influencia significativamente a discussão política pública, e expõe os papéis das estruturas hierárquicas raciais e de género no seio da indústria dos media americanos.
Theresa Bêco de Lobo