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A última residência da Casa de Bragança

Fachada Exterior

Escadaria conventual

Sala Pompeiana ou das Damas da Rainha

Sala Azul ou do Despacho

Sala D‘el Rei ou sala do Trono

Sala do Renascimento

Biblioteca de Rainha

Escadaria de Honra

Galeria de Acesso ao Rei D. Carlos

4 Sala de Receção ou Antiga Sala de Jant

Sala de Receção ou Antiga Sala de Jantar

Campanário

Jardim do Protocolo

Palco de acontecimentos faustosos e trágicos, o Palácio das Necessidades, um dos mais emblemáticos da nossa história, comemora actualmente 250 anos.

 

O palácio onde funciona desde 1916 o Ministério dos Negócios Estrangeiros resistiu ao longo da sua vida a terramotos, bombardeamentos, abandonos e vandalismos. 

Agora vive a acalmia da sede da diplomacia portuguesa. Protagoniza, com frequência, recepções e banquetes oferecidos nos salões do andar-nobre. As restantes instalações são ocupadas por gabinetes e espaços de serviços burocráticos e administrativos. 

Conjuntos de armários, secretárias, computadores, cabos e extensões enchem-lhe as salas, as mesmas que no passado albergaram a dinastia de Bragança, ecoando as suas grandezas e agonias.

O vasto imóvel foi mandado construir pelo Rei D. João V, sob desenho do arquitecto Tomás da Costa, compondo-se, originalmente, de duas áreas distintas: uma destinada aos monges oratorianos, outra à família- real, onde habitavam os irmãos do monarca. Relatos da época referem-nos que o conjunto era, no entanto, “simples e desconfortável”. O interior possuía chão de tijoleira, rodapés de azulejo e tectos de abóbada. No século XIX tornou-se residência de D. Miguel. Após a extinção das ordens religiosas, a parte conventual foi ocupada (temporariamente) como sede das primeiras Cortes Constituintes portuguesas.

Em 1835, por decisão de D. Maria II as paredes foram pintadas a fresco ou forradas a seda, o chão revestido por parquets e os tectos decorados com estuques e pintados por Manuel da Fonseca, Rosconi e Cinatti, artistas, então, reconhecidos como os melhores.

A tapada anexa será, por sua vez, remodelada por D. Fernando, que a transforma num dos melhores parques existentes entre nós.

Os tesouros acumulam-se-lhe, caso do tríptico As Tentações de Santo Antão, a Custódia de Belém e a Baixela Germain – hoje no Museu de Arte Antiga. 

Desenlaces acontecem inesperadamente no seu interior: a Rainha Estefânia, o rei D. Pedro V e os príncipes Fernando e João morrem com intervalo de meses. O novo monarca, D. Luís, muda-se para a Ajuda. Só 30 anos depois D. Carlos e D. Amélia o reocuparão, projectando a actual sala de jantar barroca (180 mil reis na época, cerca de 850 mil euros) e outras dependências. Com o assassínio do Rei e do seu primogénito, em 1908, o palácio conhece um período dramático de tristeza. “Corriam boatos de que a multidão cometeria um atentado contra o resto da família”, revela o embaixador Manuel Corte Real, autor de um excelente livro sobre o imóvel, recentemente publicado pela By the Book.

Na manhã de 4 de Outubro o edifício sofre vários bombardeamentos, obrigando a fuga apressada de D. Manuel II. 

A decisão de o transformar na sede de um ministério foi uma tentativa dos republicanos para apagar a memória dos últimos representantes da dinastia de Bragança.

As Necessidades, o “palácio das tormentas”, segundo relatos da época, fica vazio, o recheio é transferido para museus e palácios nacionais, até ser ocupado, seis anos depois, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. 

A Segunda Guerra Mundial impõe-lhe grande dinamismo devido à política de neutralidade seguida pelo nosso País. Salazar, então seu titular, monta um gabinete no local. Franco Nogueira, outro seu titular, coordena a partir das Necessidades estratégias de sedução das principais potências para os problemas da Guerra Colonial. Nelas dará conferências de imprensa destinadas a sensibilizar os órgãos da comunicação social internacionais. Franco Nogueira preocupar-se- à, aliás, com a boa aparência do “quartel-general” que comandava. Transformado em espaço oficial de recepções do primeiro-ministro, Voltará a conhecer calorosa actividade no tempo em que Mário Soares chefiava o Primeiro Governo. Uma vez, no final de um jantar de gala, o dirigente socialista pediu a Hélder Mendonça e Cunha (chefe do protocolo) que mostrasse as suas instalações a Álvaro Cunhal, então ministro sem pasta do Executivo. Seduzido pelo requinte encontrado, o líder do PCP felicitou o anfitrião pelo seu “trabalho  de defesa do património do Estado”. A um seu colega, Mendonça e Cunha exclamou: “Servi o Estado Novo durante dezenas de anos e foi preciso vir um comunista para me elogiar”.

Os salões do andar-nobre recuperam alguma da grandeza perdida. As paredes foram forradas a seda, reposteiros foram encomendados, diverso mobiliário de estilo Império impõe-se nas salas, pinturas dos acervos do Palácio da Ajuda e do Museu de Arte Antiga cobrem paredes, carpetes orientais revestem o chão, porcelanas da China e da Companhia das Índias animam os ambientes, algumas tapeçarias dos Gobelins impõem-se. Do recheio do tempo da casa-real subsistem as cadeiras de estilo Luís XV da sala de jantar, dois magníficos contadores florentinos seiscentistas e diversas talhas da Companhia das Índias.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros adquiriu recentemente um imponente retrato de D. Catarina de Bragança, escola holandesa, atribuído a Willem Wissing, num leilão no Palácio do Correio-Velho. Uma incorporação que enriqueceu a galeria da Casa de Bragança no Palácio das Necessidades.

Após o 25 de Abril, o palácio acolheu as figuras de ministros como Melo Antunes, Mário Soares, Freitas do Amaral, Durão Barroso, Jaime Gama, Patrício Gouveia e outros. A diversidade, a intensidade das suas funções tornaram-no um símbolo no mapa geográfico dos poderes do País.

António Brás

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